O que é Arqueologia das Mídias? - Tradução da eduerj
Com o fim do mestrado, os interesses em diferentes assuntos começam a se tornar evidentes e graças a isso novas leituras aparecem. E dessa maneira cheguei na bibliografia de alguns cursos de doutorados sobre cultura que me interessaram. “O que é Arqueologia das Mídias?” entra nessa situação de continuidade dos estudos.
Apesar do livro ter sido escrito lá pelos anos 2011, pelo alemão pesquisador Jussi Parikka, a escola de comunicação da UERJ costuma buscar fontes de referência e pesquisa além dos autores anglo-americanos. Por ser um fator de construção de visão mundo, favorável a uma análise diferenciada e ampla, também não deixa de ser e estar incrustada no tradicional eurocentrismo. Mesmo assim, não de ser uma ação favorável a uma formação abrangente e, sim, isso é excelente.
O livro é dividido em alguns capítulos de diferentes recortes e com uma profundidade aceitável. Como o assunto é novo e ainda em volto de diferentes vertentes, e com a evidente falta de livros de base para se entender o assunto regrador, não é de se assustar como o vocabulário e assunto seja difícil de compreensão em suas primeiras páginas. Até pegar ritmo, demora, e quando fica interessante, o capítulo termina.
O assunto geral se baseia nas diferentes mídias existentes, sejam elas modernas ou antigas, todas elas são importantes para a formação dos repertórios informativos da cultura humana em diferentes lugares e épocas. A intenção é ser um divisor de águas entre o que já foi feito e o que poderá ser feito a partir dos seus recortes. Outra intenção do trabalho é servir de referencial teórico para saber como as teorias e métodos e já existentes se encaixam no mundo informático construído no pós 2a Guerra. As ideias dessas pesquisas e registros de informações passam pelos estudos e análise dos usos e do desenvolvimento tecnológico impulsionado fabricação dos computadores já na década de 1970 e que atingiu a sociedade de maneira ampla quando alcançaram os diferentes setores e forças de trabalho, desde os serviços burocráticos até o consumo, em prol do uso de recursos financeiros além do esperado. Tupo de ser item de consumo.
Isso é um tipo de registro que as mídias podem fazer. Desde os meios de comunicação, as informações passadas para a população, os sistemas financeiros modernos, o consumo em grandes lojas de departamento, até o advento e crescimento das mídias sociais, a arqueologia das mídias trabalha em cima dos aparatos tecnológicos desenvolvidos e que foram “comuns” em uma determinada época, ou são comuns hoje.
Pintura, Escrita, Livros, Jornais, Fotografia como as mídias antigas, Cinema, Telefone, Rádio, Televisão, TV por assinatura como as mídias tecnológicas e a Internet, Streaming como as mídias mais evoluídas e que precisam de estudos de construção dos algorítimos que os fazem existir. A evolução de uma determinada tecnologia, para alavancar outra que está em desenvolvimento, e pode ser o futuro da comunicação, é o ponto chave da obra pois os humanos se comunicam o tempo todo. A arqueologia das mídias estuda o impacto desses recursos nas mudanças sociais que elas causam em prol do consumo e são bancadas pelo capital na indústria que define onde estará o futuro. Ao investirem nessas novas possibilidades impulsionam o fomento de novas mídias técnicas e recursos tecnológicos.
A Arqueologia das Mídias estuda os usos improváveis de diferentes recursos e técnicas na produção de comunicação e arte e armazenamento das informações O uso invisível dessas tecnologias, por estarem inseridas nos contextos sócio evolutivos da sociedade, permite explorar situações inusitadas como instalações de arte, espaços diferenciados, experiências de interações e etc. Histórias em Quadrinhos, obras de arte contemporâneas, pinturas sobre um futurismo imaginado, Literatura Conceitual, são produtos da cultura e as mídias em sua diversidade, permitem explorar ideias e conceitos antes ignorados. Essa vertente também estuda sobre os tipos de arquivos criados para se armazenar informações: vídeos (MPEG, MP4, AVI), áudio (MP3, ACC), imagens e desenhos (JPEG, PNG, TIFF), textos (DOC, ODT, HTML), nos seus diversos Codecs existentes, fazem parte do apanhado de conteúdo existente dentro do atual momento pois esbarram na codificação dos algorítimos que faz a informática funcionar da forma como a conhecemos.
Por serem produtos materiais físicos; palpáveis, tangíveis e acima de tudo manipuláveis, construídos para um, ou variados propósitos, a Arqueologia das Mídias trabalha com produtos primários e primordiais desde o século XIX, passando pelos itinerantes e/ou efêmeros recursos do século XX, chegando até os dinâmicos e espontâneos do século XXI. Fotos altamente manipuladas, vídeos curtos e diretos, acesso as redes de comunicação, interação e exploração de conteúdos é o que a arqueologia ainda não o fez mas fará em breve. Pela teoria nos fornecer direcionamentos de visões de como somos manipulados para usar determinados sistemas, recursos e ferramentas, dentro de situações pré estabelecidas, ela (Arqueologia das Mídias) entende que as mídias de hoje precisam ser manuseadas, devido a interações permitidas e pertinentes devido aos seus usos diversos, pelos os corpos humanos e a intencionalidade dos sujeitos. Fazem parte desses estudos como as mídias impactam a vida das pessoas e seus labores e nossa atuação sob essas condições.
É bom lembrar que todas as mídias, como produtos das culturas humanas, também não estão isoladas dos contextos políticos que permeiam a sociedade. Em última análise, elas surgem e ressurgem devido as suas possibilidades práticas de impor uma superioridade econômica e política de determinados grupos e/ou de renovar os grupos políticos em ascensão e que se tornam evidentes. Por estarem inseridas em contextos políticos também têm como função permitir que determinadas vertentes de pensamento sejam sobrepostas às outras e que podem desviar o que os conglomerados financeiros e fábricas de políticos permitem, ou não, serem discutidas e acessadas pela população para irem além do mero fator de informar, comunicar, armazenar e/ou ignorar determinados assuntos.
Apesar da complexidade de ideias e do vocabulário empregado no trabalho, e com um outro equívoco ortográfico da tradução, pois algumas passagens não fazem sentido sem pequenos ajustes, o livro é robusto e interessante o bastante para expandir a visão das mídias pelos interessados e estudiosos da área. Talvez seja interessante, o autor realizar um novo capítulo de 15 anos da escrita original, trazendo novos referenciais, exemplos, autores, estudiosos e aplicações já realizadas e que servem de base para a futura continuidade do trabalho apresentado.
Ass.: Thiago Sardenberg
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