Aprenda Krita para ser um ilustrador digital

Aprenda Krita mas já deixo o adendo: se puder aprenda o Clip Studio, é o mais próximo do Krita. Se não puder? Leia os livros, mesmo em inglês, é o mais próximo do Krita.


Faziam dias que estava procurando algum livro sobre ilustração e achei uma boa variedade e quantidade de trabalhos já publicados e em arquivo PDF. Até certo ponto é um detalhe importante saber que esses livros existem porém quando a pesquisa se debruçou sobre ilustração digital, o esforço foi multiplicado por variados fatores e dentre esses constatei: não existir algo fácil de se achar em português brasileiro; não existir fontes digitais dos documentos; não encontrar algo relevante; não encontrar trabalhos que ensinem técnicas para o meio digital e por aí vai.

Verdade seja dita: encontrar alguns trabalhos de graduação e/ou mestrado relevantes que mostrem alguns pontos dos processos de ilustração digital foi importante mas que aqui fique bem claro: nenhum deles me satisfez pois são trabalhos mais acadêmicos do que práticos.

As opções para o Mercado produtor Brasileiro

Adentrando mais nas buscas, precisei fazer uso da tal língua inglesa pois existem boas publicações, antigas e novas, que poderiam servir, mesmo que estivessem desatualizadas. Dessa forma encontrei algumas antigas publicações como Photoshop Creative, Photoshop User, Photoshop Guidebook, Advanced Photoshop, Digital Creative, Pratical Photoshop, Photoshop Masterclass, como sendo as grandes publicações do tal programa.


O que me deixou surpreso, além da variedade de publicações, também foram as edições, pois são muitas, mas, o problema continuava, achar material relevante estava complicado. Para piorar, ainda mais o problema, estava procurando publicações relacionadas a softwares livres, o que deixam as buscas mais travadas apesar de saber que os softwares livres mais conhecidos para ilustrar digitalmente são Krita e Gimp.

Existe a Gimp magazine? Sim. Existe a Gimp Handbook? Sim, mesmo desatualizada. Gimp Workshop Magazine? Também… Enfim, variadas fontes. E livros? Muitos e alguns já lidos porém esbarram naquela situação de o Gimp ser um software pensado para substituir o Photoshop, a maioria dos documentos e tutoriais seguem o padrão: tratar, recuperar, melhorar e criar foto composições como se fosse o Photoshop porém gratuito, aberto e mais leve.

A partir dessa ponto, a opção se tornou clara: focar no Krita não era mais uma opção, era talvez a única escolha possível. Por um acaso, no caminhar dessa postagem, também esbarrei em vídeos do Clip Studio Pro e com ele nos livros do programa. Felizmente consegui ler um deles e a parte boa é que este deu uma base interessante de ilustração digital que os trabalhos de Gimp e o Photoshop não deram de cara. A parte ruim? A interface que é diferente dos outros programas. Já deixo o adendo: se puder aprenda o Clip Studio, é o mais próximo do Krita. Se não puder? Leia os livros, mesmo em inglês, é o mais próximo do Krita.

Conceitualmente falando, todos eles são parecidos, querendo ou não. Têm as mesmas funções, as mesmas ferramentas, e os mesmos recursos. Só podem estar em locais diferentes dos habituais, com nomes diferentes, interfaces não tão parecidas, com atalhos distintos e ajustes para realizar. Tirando isso? Todos os 4 programas fazem as mesmas coisas quando falamos de ilustração.

Quando voltei ao Krita, para minha surpresa, algumas novas publicações apareceram e para jogar o balde de água fria que precisava, a maioria delas ou é antiga ou está desatualizada. Made with Krita 2016 Krita Artbook, Krita Manual 2.9 e 5.2, QUICK START GUIDE 2023, Krita Secrets, Krita - Domine a pintura digital (2015) em japonês. E o problema se instaurou de vez. Ou os livros eram em línguas não neolatinas ou estavam presos nos seus respectivos épocas de edição. E dessa forma foi preciso filtrar os resultados acabando no “Draw and Paint Better with Krita” de 2022. 

A partir disso o processo poderia continuar até que esbarrei neste livro brasileiro: Ilustracao digital – Carolina Vigne.  A ideia original da postagem é sobre este livro então vamos a ela… 

O livro é um grande resumo do que é a ilustração digital. Mostra alguns recursos, são 5 na prática, e a autora se esforçou bastante em dar uma série de detalhes importantes. O vocabulário é simples e direto. Não enrola pra chegar nos pontos importante mas a obra deixa a desejar no quesito básico: como realizar ilustração digital. 

O que poderia ser um apanhado de processos e uso de técnicas para criar ilustrações passou longe. Até tem uma ou outra função que ensinar a usar scaner e thersshold para melhorar o traço do desenho no papel e limpar o papel branco mas entender a interface do programa escolhido (no caso Photoshop) deveria ser o início não chegou nem perto. Outro defeito é a quantidade de páginas. Muito pouca para a proposta. Mesmo tendo 180 páginas, ainda assim, tem muito pouca informação dos processos, o que era a minha busca. E por estar acostumado a ler livros técnicos em inglês, onde existem bons passo-a-passo, os brasileiros ficam bem aquém do que os estrangeiros fazem.

MIXED MIDIAS

Muito além de pecar no quesito básico de ensinar ilustração digital, o foco primário dos conteúdos são: Cores, Tipos de imagens digitais, Texturas e Mixed media. A autora dedica espaço para o equipamento mais adequado, nesta época, que deve ser usado e isto é um ponto positivo para ela nessa preocupação.

Um adendo: a tradução de mix é mistura e não misto, como reconhecido pelo falso cognato da palavra, mas ambas podem ser usadas só dependendo do contexto que foi utilizado.

O foco secundário da proposta é falar das artes misturadas, como sendo a inevitável evolução tecnológica das artes mistas. Artes mistas, historicamente, é uso de fotografias, desenhos, pinturas e colagem, na criação de diferentes materiais gráficos e nas diferentes artes visuais existentes.

O terceiro ponto foi dedicar um bom espaço para esclarecer o que é a Ilustração digital e os tipos de mercados que existem: editorial, cinema e publicidade; pois é algo importante e de fundamental importância saber onde trabalhar para ganhar seu rico dinheirinho. Faz parte do processo de saber artes entender: Para quem vender? Para qual público trabalhar? Existem muitos outros mercados da ilustração? Seja tradicional ou digital sim, mas os principais são os citados. 

Para quem está começando fica a informação: é um livro introdutório do assunto. Ajuda a entender para onde fazer trabalhos profissionais. E como toda função profissional, dependente de tempo, dedicação, esforço, concentração, começar pequeno, cobrando pouco, procurando muitas obras de referência (o início desse texto é exatamente a quantidade de referência que existe) e seguir estudando, melhorando e aprendendo. 

Indo pro além do que existe

Infelizmente o que me fez escrever e publicar este texto é a pior descoberta feita nessas buscas: o mercado editorial brasileiro, depois da crise de 2016, onde muitas editoras faliram e deixaram de publicar diversas obras de qualidade para ensinar, ao menos o Photoshop, deixaram uma lacuna aberta que ainda não foi preenchida de volta. A verdade é básica: livros e revistas, mesmo com subsídios do governo, nunca foram produtos baratos para o grande público. E como ainda existem os custos de computador relativamente novo e parrudo junto da ferramenta paga, produção de artes digitais acaba sendo uma, natural, reserva de mercado para poucos participantes.

O curioso é também se questionar “para onde foram essas pessoas que criavam e publicavam tutoriais nas revistas?” e aqui que a resposta é assustadora: o crescimento de plataformas como Udemy, Domestika, EBAC, entre outras, foi absurda desde 2020 com a pandemia de Covid. Como a venda de diferentes cursos online de produção de artes digitais, agora é sob demanda, é mais barato manter numa plataforma os vídeos e cobrar pra acessá-los do que alimentar um mercado de editoras que anda em queda faz alguns anos.

Por enquanto é o que tenho para deixar aos leitores: não é só de vídeos treinamentos que os bons profissionais podem/devem fazer uso. O retorno das plataformas de treinamentos sob demanda ainda ocorre e pode estar em crescimento mais lento mas depois desse crescimento o que sobra? Alguma coisa irá acontecer e ela já está acontecendo: as Inteligências Artificiais Generativas estão por aí. São elas que estão derrubando a produção e, de novo, a evolução tecnológica futura, derruba a produção consagrada do passado. Até que a regulamentação dessas IAGs seja feita, o quebra-quebra que ocorreu em 1929, vai se repetir nos dias de hoje. Faz parte do processo de renovação das tecno-culturas e das tecno-revoluções que a sociedade passa de tempos em tempos.

Para ter mais conhecimentos sobre o assunto tecnologia recomendo o livro “Filosofia da Tecnologia: um convite” do Dr. Filós. Alberto Cipani, da UFSC. Vale a leitura. É esclarecedora.


Ass.: Mest. Thiago C. Sardenberg

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