Quem quer a revolução? Quem quer a estagnação?

Desde quando decidi mudar para os programas Open Source não imaginava encontrar tantas soluções disponíveis. Algumas delas são bem práticas, com relação aos programas prioritários, outras não tão praticas assim mas tão importantes quanto pois existem. Alguns desses programas são realmente bem diferentes das versões tradicionais dos famosos programas pagos outros são tão semelhantes que não escondem suas referências.

Na prática, a escolha de usar as ferramentas livres, além da financeira, é também uma escolha política, dos usuários, que acaba por esbarar nas discussões sobre inclusão e emancipação das pessoas das ‘amarras contratuais’ que os programas prioritários mais conhecidos criam aos seus consumidores e por ser um produto comprado, mesmo digital, não deixa de existir um consumo e um custo para sua manutenção. Dessa forma, e dentro dessas escolhas, esta breve pesquisa me mostrou algumas curiosidades bem interessantes sobre o comportamento individual inerente às pessoas.

Para entender o intuito é preciso definir dois grandes grupos de usuários. 1º os que têm recursos e facilidade de acesso aos equipamentos e programas disponíveis enquanto que no 2° grupo existem usuários que não tem acesso direto ou facilitado a estas soluções.

Quando se define os grupos de usuários entre os que têm acesso a tecnologias e informação para se alcançar os programas que escolhe usar, ou não, sempre sobrará espaço para os programas livres pois se estes existem é porque esbarram na zona de conforto dos usuários que querem e podem escolher o que usar e não os faz pela simples praticidade de se manter no ‘consumo’ dos programas pagos.

Entre aquelas pessoas que têm acesso aos programas prioritários a escolha deles por os usar também cabe um adendo: de forma legal ou ilegal usar programas de computador comodamente é também uma forma de excluir outras opções que podem não estar no seu radar de possibilidades mas funcionam tão bem quanto as primeiras opções que se lembrar sem esforço. Entretanto quando definimos o grupo de usuários quando estes não têm disponibilidade rápida e fácil de tecnologias, em relação as pessoas que têm acesso, sobra muito pouco espaço de trabalho para sair dos problemas de realizar e usar tecnologias. E nesse recorte específico, populacional, se encontra a esmagadora maioria das comunidades, pois não vivem nem próxima aos grandes centros nem próxima aos países ricos. Enfim, muitas barreiras para acessar o que existe.

Desse ponto, aí sim, existe o aceitar e seguir e não aprender ou o correr atrás de soluções e crescer com as existentes e disponíveis. Por isso a zona de conforto é ao mesmo tempo um problema para muitos e uma reviravolta para muitos outros.

Então, chega de contextos, e vamos ao texto… 

1) Se somos obrigados a explorar alternativas e soluções diferentes das existentes, as opções usadas que existem disponíveis, são as mais usadas ou as melhores usadas? E para essa situação há uma resposta. Nem sempre a mais usada é a melhor. Geralmente, ambas as coisas se confundem e muitas vezes estão certas mas nem sempre é o evidente e mais aparente a melhor opção.

2) Se existe alternativa para praticamente todas as ferramentas prioritárias, qual o sentido de não usar as abertas? Em algumas soluções, mesmo descontinuadas, as ferramentas Open Source demandam de tempo mais longo e menos braços para se construir as suas melhorias do que as pagas. Viver do trabalho voluntário da comunidade para satisfazer a vontade de alguns é um problema recorrente nos Open Source. Não é só pesquisar e entregar a solução para a equipe de desenvolvimento e resolver o descaso, mas saber se essa solução não causará problemas a diferentes usuários e se ela é a mais crucial a ser lançada naquele espaço de tempo. Cronograma é tudo e parece que tem gente que não entende isso. 

3) Com as diversas crises, elásticas, que o Brasil vive, a escolha entre usar um programa oficioso ou o Open Source é meramente política, pois se torna uma escolha mais difícil para algumas do que para outros. Para a maioria da população, de forma inconsciente, a não mudança é o que presta mas estes sabem qual programa usam? Nem sempre. Verdade seja vista: é sempre mais fácil usar o que estes usuários consomem no trabalho/escola do que algo diferente em casa no tempo livre. Para evitar essa proliferação de opções, as grandes empresas fazem acordos com todos nós quando embutem nas organizações apenas uma opção que limita a liberdade de escolha individual causando alienação dos consumidores. A frase “O melhor é o que uso na empresa” se encarrega de eliminar a concorrência e esse fator, deixa de ser político e se torna puramente financeiro. Causando o estranhamento quando se usa outras plataformas. De quem a responsabilidade mesmo? Das corporações mas deveria ser dos usuários. Enfim… 

4) Por estes, consumidores, usarem diversas ferramentas, a maioria fechada e restrita, a possibilidade de se checar soluções diversas deixa de ser bem vinda para se tornar onerosa quando estes se encontram na zona de conforto, comprovando que o problema não é só da ferramenta mas sim dos usuários. Ao se estabilizar na zona de conforto, e não gostar de mudanças devido as suas próprias tradições, ambas as coisas, conforto e tradições, podem ser entraves criativos. A mudança para novas ferramentas é uma barreira intelectual relacionada ao desconhecido não à forma de pensar. O cérebro humano é uma caixa flexível de alto desempenho quando bem estimulado ajudando-o a criar novas soluções e novos pensamentos antes do esperado. A mudança faz bem a essas relações sinápticas que levam a diversas descobertas que são o segredo da constante motivação e da inovação. Sair da zona é sair do marasmo e da mesmice.

5) Se o mercado estipula a ferramenta que é usada, nas vagas de trabalho, o mercado não quer mudanças pois ele quer robôs humanos que só sabem fazer o que os clientes deles querem, ou seja, tradicionalismo e engessamento de processos. Na prática elimina a criatividade dos funcionários por usarem as mesmas soluções. Se as soluções fechadas fossem as melhores, porque elas são ignoradas e muitas vezes vistas como problemáticas? Se as ferramentas fechadas e autoexcludentes são as melhores: porque custam os olhos da cara em vez de serem mais acessíveis e eficientes?

São muitas coisas para se pensar sobre os softwares e sistemas operacionais do que ficar apenas no que as grandes corporações vendem para outras grandes empresas.

Quem quer a real revolução cultural? O mercado ou a política?

E a sociedade, quer saciar sua cultura ou apenas consumir culturas alheias?
Quem quer a revolução? Quem quer a estagnação?
Por isso pense. Pense muito.
Pensar: é um ato de revolução.
Pensar é libertação.

Thiago Sardenberg
Respeite o direito do autor. Se houver interesse em repassar este texto, cite esta fonte. Grato.

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