As perversidades do Capital - um estudo de comunicação

Terra arrasada – Além da era digital, rumo a um mundo pós-capitalista


É um estudo de comunicação publicado como livro onde ocorre uma crítica consistente do mundo contemporâneo, que foi construído nos alicerces do medo de uma nova guerra, que nasceu no século XX, e da exploração maximizada dos recursos naturais finitos que o mundo dispõe (desde tempos imemoriais). O autor constrói sua visão sobre o sistema econômico capitalista como falido pois este é insaciável pela fonte infinita porém a crítica é justamente o “como manter essa exploração se os recursos não são infinitos?”. Para isso absorve citações de diversos outros estudiosos, de distintas épocas, que analisaram as diferentes situações políticas como estruturas consagrantes do modelo vivente. O resultado de sua análise se aprofunda quando se encontra na visão de “sociedade empobrecida” devido a infindável valorização do acúmulo do capital por uns poucos indivíduos. Em contra partida, as megacorporações se tornam cosmopolitas na construção de suas estruturas supranacionais em prol de um ideal homogêneo para todos os indivíduos. Por tabela, as estruturas jurídicas e políticas das culturas existentes e da sociedade vigente se tornam tão escravas dos interesses privados do capital quanto bancadas por ele e não podem ser consideradas como sociais pois existem interesses escusos que as controlam/manipulam.

Ao maquinizar o controle do trabalho humano em prol da rotulação de produtividade, empobrece a força de trabalho em prol da falsa qualidade de vida que podem alcançar porém não é alcançável devido ao medo desses trabalhadores ou serem substituídos por outros mais baratos ou por tecnologias que não precisam de férias, descanso e deslocamento de suas zonas de descanso/atuação para funcionar. Enquanto o modelo econômico atual, foi construído da relação escravista do passado, que foi expandida desde o século XVI, e com a invasão do novo mundo (América), em busca de saciar a fome por metais das “potências” europeias, o modelo dessa época, 2023, só é o reflexo mais perverso do complicado e manipulado processo de construção das nações ricas por meio da exploração exagerada de diferentes povos para um único propósito: enriquecimento particular. Ao subjugar as culturas regionais em prol das suas e destituir povos de seus territórios unicamente para se construir impérios do capital, o modelo econômico atual passa por mais uma mudança: saindo do capital físico clássico para o digitalizado das redes. Redes essas que foram construídas com propósitos militares para evitar um colapso das comunicações militares governamentais com as universidades e quando se tornaram comercialmente viáveis, explodiram no consumo de “itens” digitais que antes eram inexistentes ou inalcançáveis. Dessa maneira, moldou a cultura atual para que os diferentes interesses individuais fossem rapidamente acessados enquanto as estruturas macro sociais eram distanciadas. Abrindo assim portas para a desregulação de diferentes frentes de trabalho e desligamento da sociedade de suas clássicas rotulações: ricos bem privilegiados ou pobres desprotegidos. Agora os ricos são digitais e os pobres marginalizados pra fora da grande rede digital.

No 2º capítulo a análise continua no advento e crescimento das redes de comunicação como fator de manipulação do pensamento coletivo. Enquanto a opinião pública, até a década de 1960, existia de forma visível, pois existiam movimentos de destaque extra ruas, com o crescimento da internet e de suas aplicações práticas, a opinião do público se tornou quantificável e numericamente por dentro das entranhas dessas redes. Enquanto as opiniões são desconstruídas pois passaram a ser fluxo contínuo das informações entranhadas nessas redes, os dados pessoais passam a residir dentro de bancos digitais particulares de poucas empresas e bem fechados pois estão além das fronteiras nacionais onde elas atuam. As megacorporações que começaram em um determinado setor hoje controlam parte do acesso e dessas redes de comunicação, enquanto se tornaram agências financeiras pois podem investir propositadamente em um ou outro local de menor risco e maior controle. Com isso, se torna possível a fabricação tanto de desejos quanto de desgostos sociais pois tudo é manipulável. Ao se tornarem conglomerados de finanças e conteúdo, as redes, que poderiam ser canais democráticos de revoluções culturais expansivas se tornaram mecanismos de anulação de movimentos coletivos divergentes do pensamento hegemônico dessa época. E de novo, a opinião pública, continua sendo fabrica a partir de poucas visões de mundo para desconstruir o mundo social coletivo em prol do capital rápido e de fácil acesso mas cheio de artimanhas para ser mantido nas mãos de uns poucos.

O capítulo 3 começa quando a internet se torna o terreno das disputas corporativas e da construção dos extremos individualistas exibicionistas das diferentes individualidades que querem se destacar, de suas massas, para se tornar maior e melhor que seus semelhantes mas no meio desse caminho, de extrapolar a existência individual, o capital encontra brechas para sua atuação e, nas suas diversas formas de apresentação, concentra e seduz os atores sociais para uma absorção internética da efervescência e do apego ao momento digitalizado que a grandeza da rede conduz e encanta. A grandiosidade dessa rede é uma construção do capital, onde sua exuberante faceta de liberdades também é sua faceta de extremos odiosos e perversos. Além exibir os pontos mais pervertidos e escabrosos de seus atores por não haver regulação intencional. A construção dos limites psicológicos sociais do aceitável perdem concretude devido a massificação dos atos esdrúxulos que a exibição individualista na rede conduz ao criar uma geração de pessoas apáticas em relação aos extremos. O que interessa aos capitalistas é que deixam de ser percebidos como tal e passem a fazer parte do fluxo de dados dentro da rede onde tudo é quantificado.

Seduzir as pessoas com suas facilidades de acesso é uma parte que a manipulação de conteúdos causa e a rapidez de absorção que conduz a sociedade a uma bolha de alienação informativa, também conduz as sociedades a uma desconstrução desanimadora de esperanças para um futuro equilibrado entre pessoas, máquinas, e sistemas vigentes. Enquanto esta realidade acelerada de ligações interpessoais, de 24/7, alimenta um egocentrismo de ilusões construídas a partir de dados quantificáveis, estas conexões inflam falsas percepções de sucesso e insucessos tornando a rede mais tóxica apesar de propositalmente contagiante.

A internet se tornou um terreno fértil, desregulado, irrestrito de acumulação descomunal de dados que podem ser capitalizados para se conduzir as sensações das populações, seus desejos e vontades, que serão construídos pelas grandes corporações em sua sanha de obter mais recursos. O propósito é simples: sustentar a produção descabida de diversos itens, desde os úteis e necessários a vida, até os inúteis e supérfluos que virarão, inevitavelmente, lixo do mundo industrial. Sustentar a máquina produtora do consumo imediato também retroalimenta a construção das desigualdades sociais que os países passam. Além de causar uma desapropriação de espaços e terrenos que antes eram de um determinado grupo e virou de outro por N fatores. A solução para este problema passa pela recondução dos agrupamentos sociais em prol de uma reidentificação de seus valores comunais e históricas tradições.

O livro: Terra arrasada – Além da era digital, rumo a um mundo pós-capitalista, do autor Jonathan Crary, foi traduzido pela Ubu Editora em 2023 e faz parte da bibliografia do Programa de Doutorado em Comunicação da UERJ para as turmas de 2025.

Recomendado como grande apanhado reflexivo do momento ao qual estamos vivenciando.

Até o próximo livro.

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