Crônicas de Artur: uma viagem a Inglaterra do Século VI
As Crônicas de Artur é uma trilogia, romântica, sobre a formação do reino da Bretanha e das lendas que rodam em torno do Rei Artur. Escrita por Bernard Cornwell, historiador e colecionador de itens e mapas antigos, se passa no século VI, poucos anos depois da queda do Império Romando e bem no início da Idade Média, conhecida como Período Medieval. Lançada entre 1995 e 1997, os três livros sequenciais foram traduzidos e lançados, no Brasil, pela editora Record. Também é a série de livros que antecede a coleção Crônicas Saxônicas, onde o mesmo autor conta diferentes histórias do perído quando os nórdicos Vikings, invadiram a Bretanha e dominaram parte de seu território. Historicamente, Artur é mais uma lenda do que a invasão nordica, que já é melhor documentada.
Cheguei aos livros num período onde era ferrenhamente contrário as falacias religiosas empregadas de forma descabidas por diferentes vertentes existentes no Brasil da virada dos séculos XX e XXI. Como estava no pré vestibular, ler era algo intenso mesmo obras um tanto desagradáveis. Alinhar necessidade de ler romances pedidos no ENEM e o interesse nas histórias britânicas e medieval, foi complexo. O que chamou minha atenção, neste primeiro contato, foi o livro 2 da coleção "O Inimigo de Deus". Quando li na capa que era o 2° livro, veio a pergunta "Cadê o 1°?" e foi assim que conheci a coleção.
Anos depois, 2006, já na faculdade de Design Gráfico, tive aula de Direção de Arte (2° ano do curso) e o professor de então era um dos fundadores de um estúdio de Design que criava diversas soluções de comunicação para campanhas, livros e empresas. Para minha surpresa a equipe dele foi a responsável pela criação das capas dessa coleção e de outras do mesmo autor.
O Livro em si...
A história se passa no início da construção do reino da Bretanha e para se firmar, a Grã Bretanha vivia em conflito com os Anglo-Saxões do Norte, e os Irlandeses ao Oeste . Para quem não sabe, os Bretões fazem parte da França, noroeste do país, mas os GrãBretões, são os Ingleses.
O narrador da história é uma personagem conhecida como Derfel, referenciado como grande amigo e um dos Senhores da Guerra de Artur. Artur nunca foi rei no romance mas era respeitado por outros cavaleiros e soldados do reino. Artur também não tinha filhos legítimos, apenas alguns bastardos que não poderiam subir ao posto de Rei. O descendente legítimo da coroa, que era um adolescente no final da história e batalha contra Artur, no final do 3º livro, é um dos que planejaram eliminar Artur. Quem morre e quem vive no fim, só pra quem leu (sem spoilers). E enquanto os acontecimentos ocorriam, outras personagens famosas, também aparecem: Lancelote, Merlin e Guinevere tem presença garantida, enquanto a espada Excalibur e a Távola Redonda, aparecem. Artur também foi casado, garantindo assim a proeminência das mulheres durante as histórias e alguns recortes interessantes de suas atuações em momentos chaves.
Derfel descreve os eventos, do livro, depois dos acontecimentos. Velho, sem um dos braços, e isolado em um mosteiro, investe tempo na recordação dos fatos de quando era mais novo. Além de ficar se desviando do padre mais velho do mosteiro fugindo, da responsabilidade de traduzir e duplicar uma biblia sagrada que precisava ser recuperada, para contar as suas memórias do período de Artur.
O autor dedica espaço para narração de cenários, eventos, conflitos, e situações tanto peculiares quanto particulares. Dedica tempo aos momentos mais emocionais das personagens devido a diferentes fatores. Da mesma forma que deixa chocado os leitores em relação ao que ocorreu, também mostra como determinados eventos impactam a vida e o comportamento dessas personagens.
OBS: personagem é uma palavra feminina. Para quem a usa com o artigo O, criando O Personagem, originalmente, é uma forma errada de fazer essa menção. Posteriormente foi considerada verdadeira as duas formas. Aqui vai ser consderada A Personagem, como forma estilistica da escrita.
Ponto critico
O autor escreve o romance baseado nos conflitos da época. Por ser um historiador que reconta histórias clássicas, dedica atenção as batalhas. Uma marca de sua narrativa. Nessa trilogia não é diferente. Em cada livro ocorre uma batalha de grande importância. Mesmo que seja equilibrado na quantidade de conflitos mesclando eventos, politica, diálogos e descrição, cada livro tem seu climax, numa batalha imponente, de grandes proporções.
Vencer um exército de maior escala, de dentro de uma fortificação no topo de um morro, com menos soldados e recursos que seus oponentes, enquanto espera reforço dos seus amigos/subordinados, não é uma tarefa das mais simples e a narrativa dedica atenção a estes detalhes. De maneira minuciosa, sem ser extremamente detalhisca, cada batalha é contada pelo olhar do narrador. Derfel viveu parte dessa realidade. Enquanto em outra passagem, Guinevere se encontra copulando com Lancelote e outros homens, em um local isolado e Artur, recebe a informação acreditando ser uma reunião de discidentes. Ao descobrir que seu "amor e esposa" o traia, o fez cair em uma depressão expressiva. Em outra passagem Derfel, junto de outra mulher, mais velha, estão fugindo de preseguidores e acontece um diálogo entre eles perguntando se ambos acredital em magia para conseguir fugir. E os diálogos entre o padre do futuro e Derfel no mosteiro é uma mostra de como as relações interpessoais são exploradas pelo autor da obra.
Devido a essa mescla das culturas de época, numa linha tênue entre a realidade cruel e o discurso religioso, informando que Deus sabe tudo, alinhada a mudança de ambientes, guerras e batalhas ocorrendo, o livro viaja pela Inglaterra do século VI descrevendo estradas romanas, trilhas abandonadas, florestas densas, vales, castelos, cidades e construções em ruínas por diferentes momentos enquanto Londres é brevemente referenciada como Lundene mas outras construções ganham importância devido Lundene não ser tão desevolvida nessa época. Ir para o interior era uma forma deproteger a família governante.
Conclusão
A narrativa é interessante porém cansativa com o passar do tempo. Para quem conhece as obras do autor, Bernard Cornwell, vai ter um conteúdo rico em detalhes de época e brigas diversas. Em contra partida, seu vocabulário e encademento de ideias, junto as temáticas bases dos livros, podem ser sufocantes pois não se alteram tanto, mesmo mudando de coleção.
É um trabalho de relevância para quem quer se divertir e passar o tempo conhecendo um território com uma história formativa interessante pois combina com diferentes momentos da história da Europa os conflitos que marcam a região.
Recomendo: Vale a leitura mas espere um tempo entre a leitura de uma coleção e outra.
Outras coleções do autor:
Crônicas do Santo Graal (3 volumes)
Crônicas Saxônicas (12 volumes)
As Aventuras de um Soldado nas Guerras Napoleônicas (25 volumes)
Enfim, muita coisa para ler.
Até o próximo livro.
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