Uma volta ao passado: O Planejamento Visual Gráfico de outrara ainda é parte da realidade

O livro mostra a evolução da impressa e da prensa. Literalmente passa por diversos momentos onde a construção do conhecimento de impressão e produção de material gráfica ainda não existia mas foi se consolidando com o passar das épocas, movimentos políticos, necessidades de se informar e comunicar entre tantas outras situações que hoje consideramos cotidianas.

O trabalho passa pela produção dos diferentes tipos de papéis que podem ser usados na construção de um material impresso. Desde sua qualidade e durabilidade até o acabamento que podem receber após a finalização da impressão. Este também mostra como os processos de impressão também evoluíram, melhoraram, diversificaram e para qual suporte este ou aquele projeto é melhor. Falar de impressão, é também falar de tintas e o livro dedica breve espaço para este insumo. Fala dos processos e das máquinas de impressão: como flexografia, rotogravura e silk; além de indicar publicações de época que hoje fazem parte da história gráfica do país.

Glossário: Vou começar por um minúsculo para facilitar…

Diagramador: quem realiza a montagem da composição impressa do futuro produto (revista, livro, jornal, folheto, embalagem, etc.). Esse conteúdo é a escrita, a fotografia e os desenhados. Algumas vezes podem, e devem, aparecer tabelas, quadros e gráficos caso haja necessidade. Além dos elementos visuais obrigatórios como nome, editores, rodapé, títulos, destaques e outras informações visuais do material.

Gráfico: operador de equipamentos de impressão ou profissional da indústria gráfica.

Insumo: da mesma forma que a culinária tem seus equipamentos, utensílios e insumos, tinta (a óleo, a base de água ou a base de verniz) é insumo. Pelo dicionário informal insumo é “cada um dos elementos (matéria-prima, equipamentos, capital, horas de trabalho etc.) necessários para produzir mercadorias ou serviços.”

Suporte: todo o material que receberá a tinta onde a informação será colocada. Pode ser o papel, o papiro (se for mais antigo) ou tecido (levando a estamparia e outros processos)…

Vários profissionais com diferentes conhecimentos que trabalham juntos na produção do material impresso e que variam de especialidade. Como já trabalhei em gráfica, a maioria deles me recordo.

De volta ao livro…

Parte do conteúdo está preso a seu projeto original e às tecnologias usadas na época. Outros pontos servem como referencial histórico de como foi longo e lento a construção desse conhecimento. Imprimir qualquer material requer pessoal especializado e qualquer erro é um custo bem elevado a sua correção. Como este material foi publicado em 1987 muita gente, que estiver lendo, não era nem projeto quanto mais entende o porque dele ter sido lido mas foi lido mas foi pedido em concurso.

Para constar: o tal concurso, ao qual sou candidato na época dessa leitura/escrita, pediu este livro e como não o achei em PDF, foi preciso comprar em sebo. Mas também lembro de ter esbarrado com ele na biblioteca da faculdade o que, de certa forma, é bom. Mesmo que outros livros mais recentes como: Layout: o design da página impressa de Allen Hurlburt ou Grid. Construção e Desconstrução de Timothy Samara tenham exemplos melhores estes fazem o mesmo trabalho mas com menos material histórico de tecnologias e processos antecessores. A “Estante Virtual” foi ótima nessa busca e tinha alguns exemplares a preços aceitáveis mas era mais barato ir comprar no centro da cidade onde moro do que pagar o frete de entrega. Coisas do acaso. E uma menção honrosa: Ellen Lupton, Pensar com Tipos.

No quesito relevância histórica ele traz pontos positivos como: a trajetória do conhecimento de impressão; fala brevemente de Gutemberg e da prensa de tipos móveis; mostra diversos designers brasileiros com projetos de renome e destaque de então. Fala também dos jornais e publicações que circularam no período; e como a produção, da época, era mais demorada e complexa. As tecnologias eram limitadas e o tempo de produção curto. Não mudou muito mas era mais trabalhoso. Outro ponto curioso foi a colocação de exemplos de diferentes professores de Projeto Gráfico tanto de São Paulo quanto de Brasília quanto do Rio de Janeiro. Estes exemplos foram, mesmo ultrapassados, bem aproveitados.

No quesito data, onde o projeto entregue ao leitor, foi na diagramação o que mais pecou. Justamente o tema central do livro foi onde ele perdeu sua gradeza. A distribuição do conteúdo em páginas largas e compridas, com um espaço interno “ilimitado” para “jogar” as informações, não foi bem usado. A distribuição das informações é limitada ao encaixe, literalmente, do material. Muito texto em determinados momentos, sem ilustrações de relevância para exemplificar enquanto em outras páginas muitas imagens de produção e materiais trabalhados com pouca explanação técnica. Existem as legendas? Sim mas são pontuais e de pouca profundidade, ou de crucial importância. Ajuda na descrição histórica dos momentos, e da etapa a qual está indicando, mas nada além disso.

Um porém existe aqui: a tecnologia da época, mesmo robusta para o que se conseguia construir e entregar, não permitia ir além disso sem causar algum sacrifício. A escolha de colunagem dupla do trabalho foi a solução que melhor se adequou a legibilidade da informação pelos leitores mas poderiam ter usado uma colunagem de 5 ou 6 espaços em vez de uma dupla onde tudo era blocado. Livro que fala da produção de livros sem usar a versatilidade de colunas existentes não é coerente.

Enfim… A alergia, claro que atacou. O livro estava fazia anos na estante do sebo e quando o pequei fiquei como? Uma fábrica de espirros ininterruptos por algumas horas. Ao menos o livreiro me informou que usar uma lixa 100, de madeira, na lateral externa das páginas, retira parte do amarelado que o tempo causa. Uma consultoria de recuperação de livros que não esperava e que fez sentido de onde veio. 

Concluindo…

Vale a leitura? Sim e não. Sim pelo fator histórico da produção gráfica. Saber como começou e por onde veio é sempre importante. E não pelos exemplos da época que perderam parte de sua importância e as tecnologias usadas mudaram muito. Infelizmente muitos jornais de hoje, são só digitais e aquela cultura de sentar pra ler virou item de luxo. Podem ser lidos nas telinhas? Sim mas não é a mesma coisa de manusear o material. É menos sujo sim. Tinta de jornal mancha pra caramba os dedos e nas telas isso não ocorre.

Depois da crise de 2016, onde o Brasil entrou numa recessão econômica, e uma quantidade enorme de revistas e publicações especializadas foram descontinuadas, por conta dos preços que teriam ao serem enviadas às bancas, viram a necessidade de reformular parte da indústria gráfica. Esta não deixou de existir. Grandes gráficas continuam a trabalhar e o grande comprador dessa produção é o Governo Federal na política de do Plano Nacional do Livro Didático. Material este que será enviado às escolas públicas.

E para quem achou que tudo seria digital, nesta época da internet das coisas e celulares super conectados, uma curiosidade: durante a pandemia de Covid-19, a tecnologia mais usada pelas escolas, principalmente as públicas, onde a maioria da população em processo de alfabetização e ensino se encontra, foram os livros didáticos e apostilas generalistas impressas. Vai entender...

Até o próximo livro.
Ass.: Thiago C. Sardenberg

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