01 Semana com o Regata OS - descobrindo um novo mundo...

Depois de alguns dias de uso deste sistema operacional agora dá pra fazer considerações…

Antes de mais nada, o sistema foi recomendado por uma pessoa no grupo do Kretcheu no Telegram, que fez outras indicações também e uma delas foi o Zorin OS. Como venho do velho rWindows, ou o Janelas, tenho um hábito básico de sair jogando tudo que existe porque gosto. Pelo sistema ter suporte direto com o cliente Steam e outros serviços, já me chamou bastante a atenção. Ao descobrir que era feito por brasileiros, fiquei mais empolgado ainda. E não, não é porque não sei inglês, sim eu sei inglês, mas o motivo foi por ser um sistema de conterrâneos. Ao ver vídeos de instalação do sistema, descobri também a comunidade brasileira de desenvolvedores. Assim que a acessei expliquei a situação e recebi as orientações que precisava. Com o passar das horas percebi problemas e nos dias seguintes detectei vários problemas. Contactei a equipe e eles agradeceram o retorno, arrumando o sistema e a loja de aplicativos. Atualizaram os arquivos e o sistema rodou definitivamente.

A realidade do trabalho que faço

Sou designer formado na faculdade. Meu contato inicial com softwares foi com os prioritários (muito antes da graduação). Acessíveis? Nem um pouco. Mas, como todo bom brasileiro, dava meu jeito pra arrumar as ferramentas. Responsabilidade da faculdade em usar ferramentas prioritárias. Diga-se de passagem, era faculdade privada logo, responsabilidade minha em aceitar essa realidade. Inclusive, só usava os prioritários, porque estava acostumado com eles. E, devido a desconhecimento meu, sim, tinha preconceitos com os softwares livres. Capados, enxutos, falta de recursos e N desculpas para os não usar. 

A Produção Gráfica usa o material impresso como suporte. Jornais, revistas, panfletos, livros, manuais, cartão de visitas, fotografias, cartão-postal, embalagens, etiquetas, envelopes, enfim vários materiais de diferentes tamanhos. Todo esse material precisa passar por um processo de adaptação das cores luz, vistas nos monitores, para as cores pigmento, que é a saída das impressoras (mesmo que existam várias impressoras, só dois processos básicos, offset ou lazer, nas caseiras é um processo parecido, e bem inferior, ao offset, mas são semelhantes).

Além da produção gráfica também trabalho com 3D e produção audiovisual onde as ferramentas mais conhecidas e usadas são as prioritárias (pagas). Mesmo que existam diversas alternativas, nos mais diferentes valores, as dominantes atuam para estrangulam as menores e acabam por comprar essas empresas, ou as pequenas ou aquelas que tem um trabalho concorrente e relevante, que as faça perder mercado. Resultado é a eliminação da concorrência via compra direta. Mesmo que as grandes empresas tenham esse recurso (recursos financeiros), a pirataria desses softwares continua a ocorrer. Para evitar tais ações criaram as ferramentas online com recursos online em nuvem e mudaram seu mecanismo de negócios. Saíram da venda direta e individual dos softwares, mudaram para pacotes e a pirataria continuava. A evolução natural foi sair da venda dos pacotes para a assinatura mensal, onde por um valor pequeno, todos os programas ficam disponíveis aos usuários. 

Por um lado esta postura foi boa na manutenção dos negócios dessas empresas mas não eliminou o principal problema dos usuários/empresas: os custos. Querendo ou não, esses custos serão repassados aos cliente dos clientes (os consumidores) e os valores de seus serviços, inevitavelmente, crescerão. Dessa situação, favorável apenas as fabricantes dos softwares, ainda faziam os usuários, terem que concordar com o contrato de serviço que elas estavam prestando e impondo limitações de uso devido o direito autoral delas. No final das contas, essa política torna os usuários em consumidores de produtos. Produtos esses que são limitados pelas suas fabricantes. 

Mas, existe o Linux e com ele uma série de opções.


Muitos vão se perguntar "Esse não é o Blender?" Sim e não. Essa é a interface do Bforartist, um fork do Blender. Além de ser compatível com o arquivos ".blend" tem nos seus botões cores. Isso significa que a interface ajuda aos usuários a achar o que precisa. Pra quem vem do Blender não faz diferença, mas na prática sim, essas coisas coloridas ajudam bastante. Esse programa faz falta no sistema, mesmo que o Blender esteja disponível.

A Chegada ao Software Livre

Após a formação, continuei a usar as ferramentas prioritárias porque a atuação profissional me pedia ate conhecer o Blender em 2012. Em 2013 e em 2020 mudei de máquinas mas isso tem um custo bem elevado. No início de 2020 veio a pandemia e a restrição de trabalhos foi inevitável. Com essas restrições mais uma das máquinas que usava queimou. Resultado disso foram duas máquinas perdidas em menos de 1 mês. Felizmente o desktop já havia trocado. Menos de meio ano depois ocorreu a troca de laptop, onde consegui um usado, e mandei pro reparo. Ainda funcionava, mal e porcamente, mas em dezembro de 2020, parou de novo. Em julho, fiz o reparo e voltou a funcionar, foi quando decidi migrar definitivo para o Linux. 

Em 2018 já estava migrando para os softwares livres mas sem um movimento forte. Em 2019 conheci a Godot e já usava o Blender para realizar alguns trabalhos e estava mudando para o Krita para alguns trabalhos pequenos. Tentei usá-lo para fotografias mas essa não é a função, mesmo que possa ser usado para tal, não vai ser a melhor das soluções, use o Gimp e o Darktable para fotos será bem melhor. 

Durante o ano de 2020, já estava usando os softwares livres porque fiz a escolha de não usar mais softwares prioritários. Mais rápidos, leves, acessíveis. Foram um conjunto de descobertas e reaprendizado com design maior do que as ferramentas prioritárias me causariam. Além de já estar ‘catequizado’ com essas soluções, me sentia limitado por elas. Não me instigavam a usá-las mais.

Em setembro de 2021, migrei para o Linux. Apesar de ter sido um trabalhinho fazer a instalação do Regata OS, devido a erros meus de processo, a coisa começou a andar. Logo no início já me deparei com limitações. A loja do sistema não tinha tudo o que precisava. Já estava em contato com o grupo de desenvolvimento. Rapidamente arrumaram, atualizaram o sistema, e rolou. Após isso, testar o AppImage (versões portáteis dos programas para Linux mas nem todos os sistemas são compatíveis com essa versão, azar do Mint)…

No 1º dia (quinta-feira) usando o sistema também estava vendo e participando das aulas do mestrado via Linux. A instituição que aceitou meu projeto é privada e está usando a plataforma da MS (olha a dona do rWindows aí)… mas como estou numa fase meio revoltada, principalmente com as coisas pagas e muito caras, fui teimoso e arrisquei. E não é que deu certo? As aulas foram vistas, registradas e com a documentação dos trabalhos tudo feito em Libre Office. Maravilha…

No 2º dia (sexta-feira)iniciei o sistema e comecei já ligando no YouTube. Fui ver o evento do GnuGraf 2021 todo no Linux. O resultado foi que rodou tranquilo. Obviamente havia problemas mas, como disse, estava no início dos testes. Ao descobrir essas falhas, conversei com os desenvolvedores e já arrumaram a base de dados. Atualizei o sistema e ficou até melhor em desempenho. Precisa melhorar? Sem dúvidas mas já é um começo. Neste mesmo dia ainda fiz uso do Libre Office, Scribus, Darktable para continuar um projeto que estava começando a realizar. Também testei os navegadores e os aplicativos de conversa, WhatsApp e Telegram em modo navegador. Funcionaram bem e por estarem ativos no navegador, toda mensagem nova recebida, o sistema indica automaticamente. Bem interessante essa função.

No 3º dia (sábado) fui ver o GnuGraf. Dessa vez no Janelas de outra máquina. Dessa vez não fiz nada no sistema nem de projetos. Foi foco no evento e só. Ao final, ainda tive gratas surpresas de outros programas que desconhecia. Valeu cada minuto investido no evento.

No 4° dia (domingo) estava atarefado no mestrado. Revisando material escrito e preparando trabalhos no Janelas. Ao fim do dia pude voltar ao Regata para continuar o trabalho de tratamento de fotos. Ao usar o Darktable descobri algumas coisas ‘estranhas’ nele e no sistema. Maximizar não rolava direito e o reajuste constante da janela do programa era um incômodo. O modo escuro do não tinha um bom contraste. E o Gimp não estava me ajudando. Enfim algumas coisas para arrumar. O que ocorreu de relevante foi o monitor do laptop. As cores estavam lindas para se trabalhar com as fotos. Quando terminei de editar o primeiro pacote de fotos abri o Scribus e constatei, o contraste do modo escuro é horroroso. No sistema ajustei detalhes que me agradavam mas não arrumei o que precisava. Volta ao sistema, testa outras opções e enfim uma delas funcionou com o programa. Apesar de deixar a interface do Scribus como um programa da década de 1990, ao menos consigo ver os botões da interface que estavam sumidos no modo escuro.

5º Dia (Segunda-feira) não devo abrir o laptop hoje. Se for preciso o faço.


Conclusão: Coisas boas, e nem tanto, que deram para se constatar.

1) O sistema inicia e encerra mais rápido que o Janelas e isso é muito bom. Além de ser mais leve. O bom também foram as atualizações. Baixaram e se instalam sem interferir no meu trabalho. Isso é uma boa prática que a MS poderia usar no rWindows mas são filosofias diferentes e provavelmente ela não vai fazer isso. Logo no início o próprio menu inicial de boot do sistema te dá a opção de ligar ele ou o Janelas. Quando começo pelo Janelas essa opção desaparece. Egocêntricos… 

2) A maioria dos programas que estou usando, como padrão, estão disponíveis na loja de aplicativos do sistema. Com exceção de alguns poucos, que podem ser baixados e usados via formato FlatPak, não senti diferença em relação ao Janelas.

3) Apesar de serem parecidos, existem boas diferenças. O principal, no visual da interface, sim, ela é mais agradável.

4) Não, eu não sou programador então não usei o terminal pra nada. Felizmente a equipe de programação soube fazer da interface algo útil e eficiente. A ergonomia visual do sistema e a organização dos aplicativos no menu principal é interessante e inteligente.

5) O que precisa melhorar é mesmo a barra de acesso ao sistema. Quando coloco os atalhos dos aplicativos nessa barra não consegui, ainda, organizar em apenas um grupo. Alguma coisa nas configurações do sistema acaba por dividir os aplicativos em pedaços distintos. Algo pra se prestar a atenção. Ao menos essa interface é infinitamente mais agradável que o Mint.

6) Os ícones de alguns programas precisam melhorar. São um tanto estranhos. Clicar em ligar ou desligar, no cando mais externos dos ícones, na caixa de som me deixou surpreso. Isso não conhecia e nunca vi no Janelas. Bem curiosa essa função. Prática, pra ser mais exato. Gostei dela.

7) O sistema ainda precisa melhorar na estabilidade. Tem horas que ele empaca para mostrar as sessões dos programas e acabam por não abrir os menus mas nos últimos dias, após pontuais atualizações, deu resultados promissores.

8) A parte boa é a constante descoberta de algum detalhe inesperado que faz o cérebro levar uma chacoalhada pra voltar a pensar como Linux e não como Janelas.

9) Até descobrir como funciona, fazer cópias das telas demorou mas depois foi uma maravilha. Fiquei surpreso com as opções de trabalho que o sistema mostra quando se usa os atalhos certos.

10) Poder acessar o disco do Janelas e baixar os arquivos que estão por lá é bem prático. Quem diria poder fazer o mesmo no sentido inverso. A MS precisa melhorar o sistema de alguma forma. Ficar sem acessar o disco C: é tranquilo, quero ver o Janelas ler o disco do Linux. Não rolou ainda.

11) Adeus Antivirus! UHUL!!!!

Bom, acho que isso é um começo promissor.

Até o próximo

Ass.: Thiago Sardenberg


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