Sala de aula invertida, 2016

O livro é um compilado de informações e vivência em sala de aula de 2 professores de química no Colorado, EUA. A escola é de zona rural, com baixo orçamento para mudanças radicais em suas estruturas e/ou salas de aula. Os alunos tem outras prioridades e a escola muitas vezes não é a maior delas. O acesso a escola pode ser complicado e em muitos casos distantes das residências destes alunos. Internet é um luxo e de alta velocidade mais ainda (isso em 2008, ano base dos experimentos no livro). Nem todos os alunos tem computadores em suas casas, no máximo tem um iPad ou iPod ou celular possante o bastante que permite armazenar informações diversas e oferecem acesso a internet 3G ou Wi-Fi públicos ou na escola. Enfim, um enorme combinado de problemas para administrar e resolver.


Como surgiu a ideia?

A proposta inicial era mudar o ensino das coisas não os conteúdos. A partir das provas estaduais de avaliação anual o problema das notas e do engajamento discente poderiam ser trabalhados. Definir uma forma de ensinar, mesmo que remotamente, os conteúdos aos alunos deixando espaço no tempo das aulas presenciais a oportunidade de revisar ou aumentar a explanação dessas informações pelos professores. Acima de tudo fazer os alunos entenderem que são eles que colocam os ritmos de seus aprendizados. 


Problemas encontrados

O livro também demonstra um compilado de problemas que ocorreram. Alunos que estudam para as provas e não para acumular conhecimentos; alunos com dificuldade em demonstrar o que aprenderam em provas regulares, acarretando em notas baixas, mas sabem o conteúdo (só não são bons com as provas), avaliações regulares diferenciadas (trabalhos, apresentações de vídeos ou de outras soluções que comprove o acúmulo do conhecimento), trabalhar em equipes grandes ou pequenas; objetivos múltiplos e desconectados com o restante dos conhecimentos escolares.


Como executar a proposta?

Usando ferramentas tecnológicas acessíveis rapidamente pela internet o conteúdo poderia ser ministrado de formas diversas (vídeos, livros, apostilas, entre outros). Como na época das primeiras vezes que fizeram a mudança da sala de aula essas ferramentas eram poucas e o erro mais comum foi criar vídeos muito longos, com muitos conteúdos, igualmente longos as aulas presenciais. Ao mesmo tempo que tais vídeos geraram respostas também apresentou a oportunidade de os alunos ‘pausarem’ os vídeos afim de os fazer anotarem suas dúvidas e observações para levar essas anotações a aula seguinte. 

 

O que usar para fazer a mudança? (o objetivo dessa análise)

Os vídeos podem ser feitos hoje, em 2021, com a câmera de celular apontada para o ‘professor’ ou para o quadro da sala. Com um microfone captando as informações faladas e aplicação de zoom nos momentos importantes da explanação (via edição posterior a filmagem) os vídeos ficam mais dinâmicos. A edição desses vídeos é uma realidade (antes e depois do compartilhamento desse método de trabalho) mas o uso de quadros digitais (internos dos sistemas operacionais presentes nos computadores) e apresentações de Power Point (ou outro tipo de arquivo) é a forma ‘digital’ de criar algum dinamismo nessas apresentações. 

Os autores do livro fazem uso do programa Camtasia Studio, ferramenta paga (prioritária) disponível em seu site oficial que faz a gravação (captura) e edição (pós produção) dessas gravações. Além de permitir usar outros recursos presentes nele como: inserção de múltiplas fontes; aplicação de efeitos em vídeos; colocação de trilhas de áudio; fundos coloridos vazios ou com textos; e cortes nos vídeos; este é o trabalho do programa. Por ser pago, se torna restrito, mesmo sendo barato, para os padrões dos EUA, ainda assim é um programa pago. Porém, o livro não ensina como usar o programa, apenas que foi usado (e não é o objetivo dele ensinar usar programas).


Objetivos da proposta

O objetivo desse método é direto: eliminar parte do tempo gasto em sala de aula, pelos professores, para ensinar conceitos e conteúdos que podem ser ensinados via outras formas (livros-texto, vídeos, blogs de outras pessoas) e liberar os professores do ensino diário e centrado neles para reforçar informações relevantes aos alunos em sala fazendo da educação presencial menos rígida e impessoal para algo mais pessoal e específica.

Fazer os alunos entenderem que podem estudar no seu ritmo a partir de um vídeo focado no conteúdo, foi uma surpresa, tanto para os professores quanto aos alunos. Fazer as atividades propostas e entregar os trabalhos, no final do ciclo ou módulo, a partir desse progresso é o real trabalho dos educandos. Cabe aos professores entenderem como e/ou por quais meios realizar isso.

O engajamento dos alunos, ao mudar o foco da proposta de ensino, mostrou que tanto alunos mais ativos em sala, os prodígios, quanto os mais tímidos, os fechados, podiam tirar dúvidas específicas em seus momentos. Enquanto assistem aos vídeos podem fazer qualquer tipo de anotação com relação ao conteúdo enquanto posteriormente suas dúvidas poderiam ser respondidas em sala ou em novas pesquisas. Ao gerar autonomia aos alunos em fazer esses ‘trabalhos’ de acúmulo de conteúdo e só depois as atividades práticas, em sala, também foi outro benefício visto pois aqueles que são rápidos podem fazer mais coisas e os mais lentos podem voltar ao conteúdo não entendido, nos vídeos, e rever a explanação.


Os benefícios aos professores

Tirar do professor a tradicional imagem de detentor do conhecimento e das explanações no quadro e deixar aos alunos empregarem o ritmo deles para adquirir esses conhecimentos que são definidos pela legislação (no caso estadual e/ou local) foi um dos pontos importantes que gerou o interesse de outros professores pelo método. Durante as aulas os alunos estarão encarregados de fazer atividades propostas pelos professores e daqueles que não se prepararam, poderão ver os vídeos da disciplina e voltar com dúvidas e explanações sobre o assunto, tanto na aula vigente quanto na aula seguinte. 

Outros pontos foram: reduzir a duração dos vídeos ao mínimo possível; focar em objetivos simples e diretos, mesmo que aumente o volume de vídeos, reduza o tempo; ao usar ferramentas digitais, os professores, estarão falando com as gerações mais novas no mesmo linguajar e nas mesmas ferramentas que elas usam cotidianamente; abre-se espaço para a descoberta de novas fontes de informação que não são nem melhores nem piores que os vídeos, elas são apenas diferentes; e nem todos os objetivos, dentro dos conteúdos serão bem explicados via vídeos, impondo-se uma necessidade do professor saber planejar as aulas e como/onde fazer as explicações daquele objetivo ou conteúdo.


Resultados

Avaliações de ciclo ou módulo foram mais proveitosos pelos alunos no final mas não evitaram ou diminuíram reprovações ou recuperações; variações expressivas de notas pouco mudaram com relação ao método tradicional de ensino; alunos trapaceiros existem e sempre existirão; colas e aprender apenas pra passar também continuaram a ocorrer; entre outras situações comuns nas salas de aula.


Conclusão

Os autores recomendam sempre que sair fazendo pra depois repensar o que foi feito não é a melhor das alternativas. Avaliar a oportunidade e possibilidade de uso desse método é apenas um acréscimo ao total de formas que existem.

Não é pra reinventar a roda, até porque, o motor não deixou de funcionar só porque mudamos a carroceria do equipamento.

Os gestores das escolas precisam saber o que é o método e como ele funciona mas não são obrigados a usarem ele só porque estão empolgados com os resultados que viram. Cada turma, cada escola, é diferente, da mesma forma que os alunos e suas dificuldades também serão diferentes. 

Seus gestores e outros professores precisam estar abertos e dispostos a testas novas formas de cativar e incentivar os alunos em suas aulas mas acima deles estará o método e para que este funcione é preciso entender que para funcionar o professor precisar aprender a ceder, reduzir seu ego de professor, para ser o que mais vai aprender durante esse processo.

Ao alterar o foco do quadro, e do professor, para o tempo e engajamento dos alunos é uma forma de também mudar a mentalidade dos professores sobre o que, como e quando repassar as suas informações porque ensinar todo mundo ensina, principalmente os alunos aos professores.


Ass.: Thiago Sardenberg
Agora sim, um estudante de mestrado

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