Como você faz design?

Recebi e incumbência de retirar de um livro específico o significado acima. O livro How do you design? é um compilado de métodos de trabalho e visualização de etapas nos processos construtivos e executivos do design e vem desde a década de 1920, com inúmeros estudiosos, tentando definir o que é o ‘Design Methods’ com maior ou menor sucesso através da história.

Como a área do design esbarra em muitas outras, sobra aos profissionais dela assimilar as definições que as outras fazem desses processos construtivos de coisas como conhecemos hoje.

Percebendo que há espaço sobrando para as áreas da: administração; engenharia; arquitetura; análise de sistema; criação web, entre outras, o trabalho de definir o que é o design também sobra a elas com a apropriação do espaço aberto indefinido e disperso que a área do design deixa de lado. Ou seja, uma verdadeira Saara com uma sopa de letrinhas para qualquer um falar o que bem entende e acha ser o certo ou melhor, a partir do seu ponto de vista particular. E para se chegar a um denominador comum onde seus participantes tentam entender “O que é design?”, algo que o próprio design não o faz, é preciso partir de um ponto chave.


Definição de Design

Praticamente, além do livro esbarrar nos métodos e modelos apresentados por diversos autores, ele também esbarra nos comentários assertivos da definição do termo design por esses autores. 

Em 1969, Pena e Parshall descrevem design como sendo "a solução de problemas" porém não são só eles que falam isso. Em 1984 Bruce Archer define Design como sendo: 

"especulação se move entre a descrição e a explanação do comportamento do design para o reino da ideação. Não apenas isso mas a possibilidade de uma apropriação 'cientifica' e total de objetivos para o seriamento do projeto (design), isto se torna um destino em si mesmo. O senso racional de determinada confiança prevalece; todo o processo do design, acredito eu, pode ser declarado como um estado de clarear e explicitar, com o acúmulo relevante de dados, e parâmetros estabelecidos, um artefato ideal produzido.”
How do You Design, 2004 (Dubberly Design Office)  


A partir de modelos oriundos dos contextos históricos e da industrialização de cada país, os exemplos apresentados no livro também levam a outras definições de design de tempos em tempos como a proposta pela Sociedade Germânica de Engenheiros Profissionais de 1987

"O processo do design, como parte da criação de produtos, é subdividido em estágios de trabalho gerais - genéricos ou generalistas - fazendo a aproximação do design mais transparente, racional e independente de um ramo específico da indústria."
How do You Design, 2004 (Dubberly Design Office) 


E como dito não é só a engenharia que se apropria do espaço aberto deixado pelo design mas a administração também oferece a sua contribuição a partir de 1987 com o Livro/Guia do Administrador de Produção (PMBOK da PMI) onde este

“define projeto como 'um empreendimento temporário para se criar um produto ou serviço único.' Ele define AP (Administrador de Produção) como 'a aplicação do conhecimento, habilidades, ferramentas, e técnicas nas atividades projetuais para alcançar os requerimentos do projeto.'”

How do You Design, 2004 (Dubberly Design Office) 


Ou seja, design, como um todo, e visto por profissionais de fora da sua área, não tem relação com artes plásticas ou visuais como ocorre regularmente apesar de o design se apropriar de muitas características e movimentos que as artes realizam.

Ao se focar em modelos de diferentes vertentes e objetivos, o livro se organiza em tipos, que levam a uma leve confusão aos leitores pois os modelos podem estar sendo apresentados aleatoriamente. Devido a isso os autores organizam os exemplos não apenas por origem mas pela forma de como devem ser usados e se auto referenciando a outros modelos que foram desenvolvidos posterior ou anteriormente aos apresentados naquela página. 

A definição de design ainda passa pelas palavras de Bela H. Banathy que diz: “é da natureza iterativa do processo de design, repetir o processo de divergir e convergir, analisar e sintetizar…” - How do You Design, 2004 (Dubberly Design Office) - os problemas. O ir e vir dos processos do design, para delimitar e redefinir as causas dos problemas que levarão as soluções que possibilitarão a execução dos trabalhos é algo natural dentro da área. 

Morris Asimow em Morphology of design (1962), define design como “ a progressão do abstrato ao  concreto. (Isto nos dá a estrutura vertical para o projeto do design.) . . . Design é [também] um processo iterativo de resolução de problemas. (Isto nos dá a estrutura horizontal de cada passo do processo de design.)” o que nos mostra como design, graças aos processos industriais, se tornou, no último meio século da história industrial humana, algo inerente ao nível evolutivo da sociedade. 

Mesmo que o livro não diga nem defina, pois não tem esta intenção, faz sentido informar que Desing tem relação direta com o consumo de ‘produtos industrializados’ da cultura material que a industrialização humana causou ao mundo.


 
Alguns dos modelos apresentados pelo livro que ilustram como o processo de design é tão diverso.


Conclusão

A partir de modelos bem definidos é possível começar a entender como o ato de fazer Design não é algo simples ao ponto de uma parcela da população pensar que seja. Design esbarra em outras áreas de atuação que auxilia aos seus participantes - designers - a se perceberem dentro dos processos industriais e não apenas uma persona detentora de um conjunto de conhecimentos tem para deixar as ‘coisas industriais’ mais bonitas e atraentes aos olhos do consumidor final comprar sem saber se precisa ou não delas. “Faz ele comprar e pronto!” já diria o Marketeiro mas não é bem assim que a banda toca dentro da indústria.

Demandas existem porque o mercado as impõe mas cabe primordialmente aos consumidores definir se ele realmente precisa daquele item específico, algo que a comunicação (publicidade e propaganda) fará questão de informar que sim, ele precisa, mas não necessariamente fará uso. Se for para ter algo diferente, da moda, que o mostre como alguém pode ser e é superior aos outros tem relação com a psique e status social que o processo de enriquecimento coloca na sociedade como importante e quem vai falar sobre isso é Bërnd Lobach em Design Industrial (2000).


Observação

Para quem tem problemas com a língua inglesa, é bom informar que o livro é todo em inglês, algo característico da área porém outras línguas como o germânico ou o francês podem aparecer de tempos em tempos por isso recomendo fazer um curso regular de uma dessas línguas para ter maior acesso a estes conteúdos.

Para ver o trabalho original clique aqui!
Para ver os trabalhos do Dubberly Design Office clique aqui

Ass.: Thiago Sardenberg

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