Looking Closer 5 - Um olhar mais aprofundado

A bibliografia da ESDI é composta entre 6 e 7 livros podendo varia dependendo do edital consultado. Neste caso, em anos recentes, os editais dos mestrados e doutorados da instituição estipulou um conjunto sólido de apenas 6 livros diferentes que prestam um bom serviço para os candidatos e a banca examinadora. Uma robusta bibliografia pode até ser boa para quem gosta de leitura entretanto designers tem uma tendência gostar de trabalhos mais práticos e focados nos resultados do que se concentrar e encarar uma leitura mais técnica da área.

Uma infeliz realidade é que mesmo existindo uma boa quantidade de livros, nessa área não existe um Vade Mecum, propriamente dito, das principais obras disponíveis. Por mero acaso, ou destino ou situações mercadológicas das editoras quererem ou não publicar algo parecido e relevante, e a necessidade de renovarem suas publicações e seus autores (o que nem sempre é uma restrição e podem aparecer autores ‘designers’ que nem formados na área são), é real a existência de uma certa desordem nas publicações dessa área de formação.

A bibliografia que a ESDI sugere como básica é uma feliz alternativa para regular e explanar os reais conhecimentos que a área carrega e precisa ser ressaltada para melhorar e valorizar os profissionais dessa área.

As mais recentes versões incluindo a 5ª que foi a edição lida. LC 5: Lançamento 2006.

O livro e seu conteúdo

Looking Closer 5 só existe porque outras 4 edições foram idealizadas anteriormente. Por ter chegado a ver a luz do dia, diversas discussões foram abertas. Entre as áreas correlatas que o Design tem com seus trabalhos, os estudos de seus teóricos pelos EUA, Europa, Ásia e alguns outros países aparecem como formas diferentes de se ver e perceber a importância e a abrangência da carreira, e do profissional, como um todo.

Felizmente, a maioria das carreiras coligadas as do design, com suas ações, funções e necessidades de se comunicar com o mundo exterior a elas e internamente com seus semelhantes, mostra que a organização desses grupos necessitam de uma forma específica de pensar que só os profissionais do design tem.

O livro é dividido em 6 grandes áreas de concentração e cada colaborador que enviou e desenvolveu algum estudo, acadêmico ou mercadológico, sobre a área faz uma contribuição para explanar e explicar a realidade dos trabalhos e como os seus profissionais são tratados por outros profissionais. Nem sempre os Designers são bem tratados. Em muitos casos, o descaso alheio é uma grande pedra no caminho. E para piorar a situação, o descaso dos próprios designers colabora para uma piora deste cenário.

As áreas de trabalho do livro são todas baseadas no Design Gráfico em geral.

Seção I – Como um Sistema Seção II – Como parte da Cultura
Seção III – Como Modismos Seção IV – Como Ações e Posturas Políticas
Seção V – Como uma Paixão Seção VI – Como uma Ideia

Cada parte do livro trata de um ponto de extrema importância que o Designer passa em sua carreira e muito possivelmente, os profissionais não irão ter noção deles, antes de começar a trabalhar formalmente em concorrências e demandas de clientes.

As preocupações dos profissionais
Muitos dos autores e autoras presentes no livro são desconhecidos para os brasileiros que não tiveram oportunidade ou de estudar parte do conteúdo fora do país ou ficou fechada nos livros que foram traduzidos para nossa língua. Entre esses autores, a menos desconhecida é a estadunidense Ellen Lupton, que tem publicações traduzidas.

Algo recorrente desse trabalho são as preocupações que os autores mostram em seus textos. Um deles até mostra como uma constituição pode ser preparada com base nos princípios dos direitos, deveres e obrigações de seus cidadãos e quais são os princípios do design.

“Não é só no terreno do design mas também na dignidade humana e seus direitos, design é um instrumento essencial para a implementação e incorporação dos princípios e da constituição em que todos os dias ocorrem as vidas humanas. Design não é um adorno cultural da vida porém uma das disciplinas praticas e da responsabilidade de ações para trazer os altos valores de um país, de uma cultura para dentro da realidade concreta, permitindo-nos transformar ideias abstratas em específicas, de forma gerenciável. Isto é evidente se nós considerarmos, pelos seus escopos, como o Design afeta nossas vidas. Como um instrumento da vida cultural, design é o caminho onde criamos todos os artefatos e comunicações que servem os seres humanos, esforçando-nos a conhecer nossas necessidades e desejos e facilidades que transforma informações e ideias que são essenciais para vida civil e política. Além disso, design é o caminho que nós planejamos e criamos ações, serviços, e todas as outras formas humanas processadas, do público ao privado. Essas são as interações e transações que constituem a fábrica social e econômica de um país. Finalmente, design é o caminho onde planejamos e criamos todas as complexidades que proveem as estruturas da cultura humana – os sistemas e subsistemas que trabalham na convergência ou divergência de suportar a natureza humana. Nessa abrangência de informação e sistemas comunicativos, rede de energia elétrica, e sistema de transportes para a organização gerencial, por instituições públicas ou privadas, e até mesmo constituições nacionais. Isto é que nos levará ao que se chama de equidade das comunicações, dos artefatos, das interações e dos ambientes dentro dos quais todas as ocorrências serão a expressão viva da cultura e valores nacionais.”
Dr. Asmal: Looking Closer 5, Pág 143

O Foco do seu trabalho.

Os Designers trabalham focados diretamente nas soluções de problemas e com um de seus olhos no comportamento humano sejam seus desejos ou gostos que estão perdidos no plano imaginário de cada indivíduo e precisa ganhar forma para se tornarem visíveis. Ele pode ser um engenheiro, um arquiteto, um crítico, um programador, um administrador entre tantas outras profissões que existem porém são influenciadas diretamente pelas vontades de se realizar “coisas” que o ser humano tem por natureza e como essas realizações são alcançadas via: mercado de trabalho; demanda de industriais; exploração de vontades alheias; controle e explanação de falsos desejos de consumo pela mídia de massa. Sim, esses são alguns dos fatores que influenciam o trabalho diário dos designers e a preocupação de alguns profissionais e professores da área são reais pois irão sempre influenciar as futuras gerações.

Com uma falta de regulamentação da área é um dos fatores que mais denigrem e deturpam a realidade dos profissionais. Também passam por suas páginas numa série de outras críticas.

O mundo real, entretanto, é cerca de seis vezes maior do que o “mundo real” dos praticantes do design. Quanto maior for a componente corporativo de subsidiar, de espremer e concentrar o 1 bilhão de dinheiro sobre os consumidores por vencer coisas do que eles não precisam, e não podem pagar, e da qual a manufatura globalizada e criadora danosa à natureza e a cultura ambiental que a maioria dos cidadãos do planeta, aqueles que não são “participantes” do design, depende dela para sobreviver. Como Eric Hoffer colocou, “Você pode não querer se envolver muito naquilo que você realmente não quer.” E este dinheiro volátil (chamado de montanha russa) é conhecido como sucesso. De fato, parece que o mundo está sendo mal planejado.

Certamente o processo e a prática do design é fundamental para a atividade humana se preservar mesmo que o “profissional” não seja um. Como Papanek colocou tão positivamente: “Design é a habilidade humana básica de ajudar a realizar sua autonomia”.
Looking Closer 5 - Projetando o mundo real - Págs 190 e 191


As capas das primeiras edições onde o conteúdo de 20 anos antes do 5° livro eram os temas.

Conclusão:

Looking Closer 5 é um apanhado de pensamentos clássicos (dos famosos e falecidos designers do final do século XIX e início do século XX) entrelaçado por ideias e informações de olhares diferentes sobre o mesmo tema: o ser humano. Vem desde o período do pós segunda guerra mundial e vem até os anos 2000 com severas criticas aos comportamentos nocivos que os industriais criaram para maximizar seus lucros e dividendos.

Designers tem como ser a salvação do mundo devido a sua forma de trabalhar e ver os problemas para solucionar o que realmente está errado entretanto, todos os designers também são vítimas dos sistemas aos quais os dominantes precisam desenvolver para se manterem no topo e não sabem como mas precisam dos designers para pensar, desenvolver e concretizar essas soluções antes que outros as façam e os tirem do topo.

Bom ou ruim não é o caso criticar “quem está onde está?” e sim “Porque fazem o que fazem?” e dessas reflexões sobre comportamento e o que é realmente importante para o todo, ou seja, o ser humano.

Uma pena esse livro não ter tradução e a maioria das suas informações ficarem restrita aos conhecedores da língua inglesa. Uma leitura pra lá de esclarecedora apesar de ser cansativa em muitos capítulos e muito focada na realidade externa a brasileira. Querendo ou não leia-o, pois é importante e ajuda a pensar mais sobre o mercado e o nosso comportamento consumista exagerado que está passando dos limites.

OBS: Acredito também que uma nova edição dessa série a cada 10 anos e uma série de livros com o mesmo intuito, porém, feito por brasileiros, será uma ótima oportunidade de mostrar como o mercado aqui, nas terras tupiniquins, está. Fica como sugestão.

Até o próximo livro.
Ass.: Thiago CS

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