Produção gráfica para Designers

Por já ter trabalhado em gráfica sei bem como é a rotina de um local de alta rotatividade dos trabalhos. Por também já ter sido funcionário de escritórios de publicidade sei como a velocidade e precisão são coisas que costumam estressar o trabalhador que exerce funções ditas criativas.

No início desse ano, uma conhecida indicou que estava fazendo um processo seletivo para dar aula numa das maiores faculdades da cidade. Essa instituição é, atualmente, uma das maiores do país e dar uma atenção a essas oportunidades é de certa forma, no mínimo, interessante.

Desta oportunidade que ela teve e me indicou, corri atrás da informação e participei também dessa seleção. Por mero acaso ou não, não imaginava passar mas precisava me testar pois estava há alguns meses no limbo. Como não passei, continuei os estudos para o mestrado. O livro que precisei ler para a seleção é o tema dessa publicação.


O Livro em si

O autor se dedica a destrinchar a parte mais difícil de se trabalhar como designer gráfico: ser o produtor gráfico. Este trabalho, que além de ser bem custoso e arriscado é preciso ter consciência e persistência para se fazer o melhor e não errar muito. E saibam, errar leva a experiência plena porém os prejuízos financeiros... não são nada agradáveis. Mas o erro também é comum e muito importante pois mostra o quanto os profissionais aprendem no dia-a-dia da atividade.

Como um ex-chefe me falou certa vez “uma vez impresso, não há volta, só retrabalho...” e realmente, a frase tem sentido. A parte mais marcante desta palavra foi a que deixei para uma série de alunos que erraram tanto em sala de aula que o termo “refaz” foi bombardeado nas mentes deles. Alguns deles têm pesadelos até hoje, enquanto outros esperam, ansiosamente, para me rebater o “refaz” que receberam um dia. Independente dos “traumas”, a intenção foi simples “não é na 1ª, 2ª ou 3ª tentativa que o trabalho em execução irá ficar bom...” e produção gráfica, passa por isso, não é no 1°, 2° ou 3° impresso que o trabalho ficará bom...

O livro mostra como é boa parte dessa rotina, as diversas gráficas que existem e como o trabalho ocorre. Dedica algumas páginas a definir quais são as pequenas gráficas, como trabalham e como terceirizam o trabalho até as grandes e especializadas onde o controle de qualidade é quase total. O autor mostra como calcular papel, qual papel e qual gramatura usar dependendo o trabalho, qual o formato da folha usada, tipo de impressão, qual o processo de impressão será o mais adequado, o orçamento e os custos extras, tempo de trabalho, os diversos acabamentos, o famigerado e temido fechamento de arquivo, até finalizar o trabalho. São tantas etapas que precisam de atenção e um sem numero de profissionais responsáveis até chegar no resultado final, o material impresso propriamente dito, que é mais fácil se perder do que se achar naquelas páginas porém o livro é bom mesmo com o linguajar técnico e específico dele.

A Realidade Brasileira

No Brasil, não existe a fabricação dos equipamentos usados para imprimir só a remontagem do maquinário. A maioria das gráficas pequenas usam maquinas antigas ou de segunda mão enquanto que as maiores usam o mais recente e moderno maquinário. Porém, em ambos os casos, essas engenhocas ou costumam vir da Europa ou dos EUA e além de precisar de pessoal qualificado para operar, precisa de manutenção constante para funcionar (o que acarreta em outros custos na produção gráfica em geral).

Nas editoras, o processo produtivo dos materiais impressos são concentrados nelas mesmas até chegarem ao trabalho final: os livros, os cadernos, as revistas ou os manuais de instruções. São muitas opções, desde grandes livros aos pequenos folhetins de santinhos, que podem ser impressas. O mesmo também ocorrem com os jornais diários porém, boa parte das etapas produtivas de seus parques gráficos, ou podem ter parte das tarefas terceirizado (reduzindo custos internos como pessoal, insumos e materiais), ou sofrem mudanças regularmente de equipamentos (o que também mudam os custos) para aumentar a velocidade de produção dos seus materiais (e redução de pessoal técnico específico, geralmente caro) ou reduzir etapas não mais pertinentes devido a evolução tecnológica normal dos equipamentos.

A maioria das gráficas hoje são as de pequeno porte, mais conhecidas como birôs de impressão que estão espalhadas pelas lojas de ruas, esquinas ou shoppings que tem um atendimento rápido e específico e o processo de impressão é em impressoras velozes e menores em relação ao espaço que uma gráfica padronizada e grande teria.

As gráficas antigas, de médio e pequeno porte, por serem maiores que os birôs de impressão, costumam se aglomerar em determinados lugares da cidade onde um determinado profissional, terceirizado, atende diversas gráficas ou elas mesmas se especializam e definem um tipo de trabalho se auxiliando mutuamente e tendo trabalho constante para todos.

Outros livros para se acompanhar com o passar dos anos de trabalho e continuidade dos estudos na área. Nenhum deles é perfeito, nenhum deles é a bíblia da produção gráfica mas dedicar um certo tempo para essas leituras vão ajudá-los a colocar o conhecimento em dia com o que existe.

O Papel

Um capítulo específico do livro dedica especial atenção a produção de papel, outro gargalo no Brasil pois nem todos os papéis mais usados para imprimir material de qualidade é produzido internamente (em território nacional) o que acaba por gerar um custo maior no trabalho gráfico.

Entretanto, mesmo com a importação de papeis sendo uma realidade, a fabricação no Brasil é relativamente boa pois tanto os processos produtivos de papel quanto a diversidade de formatos disponíveis aumentaram nos últimos anos e por isso abrange um público maior.

Destaca atenção aos formatos mais comuns e regularmente usados para a produção de panfletos, folhetos, tabloids, jornais, livretos, revistas e livros de arte. A parte ruim é que boa parte da produção nacional de papel é específica e feia por poucas (e grandes) empresas.

A vantagem de ter uma produção interna é que boa parte dos livros e revistas produzidos no país tendem a ter um padrão de material para as páginas e as capas seguem um comportamento natural das editoras. As páginas e o acabamento do material é muito próximo entre si o que garante, uma melhoria gradual e constante tanto dos processos de impressão quanto dos profissionais da área.

Outra vantagem é que quanto maior for o conhecimento repassado para quem realiza a produção desses materiais, a finalização dos trabalhos pelas gráficas (via repetição e redução dos erros cometidos no passado) e a quantidade de pessoas que tendem a conhecer os detalhes desse processo, em geral, faz crescer e melhorar devido a especialização desses responsáveis.

O que o livro faz?

Por já ter trabalhado tanto em gráfica pequena com maquinário antigo e no SENAI Artes Gráficas do RJ com maquinário enorme moderno, ver a realidade de ambas as pontas, em relação às gráficas (grande e pequena, com recurso e sem recurso), o livro faz o principal: identifica, mapeia, ordena e indica o caminho da produção gráfica em qualquer parque gráfico que possa existir.

Antes de todo o processo começar fala sobre o orçamento que definirá qual será o valor final do trabalho e onde e como poderão ocorrer ajustes de material para melhorar (geralmente reduzir) os custos dessa produção.

Aí sim, o livro começa na pré-impressão que representa a produção do material gráfico, passa pela aprovação do cliente, o fechamento de arquivo, o envio desse arquivo para o CtP, a realização das chapas de impressão e a imposição das cores e páginas para chegar às máquina sem muitos defeitos.
Depois passa pela impressão, onde o maquinário, tipo de papel, formato do papel, tipo de tinta, quantidade de tinta, tinta especial, e corte e vinco do material será realizado.

Ao final, passa pelo acabamento, ou pós-impressão, onde o trabalho, já impresso, é enviado para corte e colagem, tipo de capa e acabamento desta, se terá algo a mais como um verniz ou papel timbrado entre outros detalhes de finalização, até o embalar e entregar o material ao cliente na logística interna da gráfica.

Onde tudo começou. Sem a invenção de Gutenberg e o agilizar da produção de livros boa parte da produção gráfica talvez nem existisse como a conhecemos hoje.

Conclusão

O trabalho que foi feito em 3 semestres durante a faculdade, reli em um livro (entre vários outros disponíveis no mercado) anos depois de ter me formado e trabalho na área.

Para quem tem interesse, mesmo cansativo e chato (até certo ponto devido o linguajar específico da área) é uma obra que abrange as principais informações da área. Tanto no quesito gestão e funcionamento da gráfica até finalização de trabalho e a entrega do material impresso, é um livro que cumpre o que o título diz.

Fala de diversos pontos importantes que muitos podem ignorar pois é cansativo saber tudo porém, por outro lado, aquele que souber bem e usar uns 70% do que o autor descreve terá vantagem com relação a maioria.

Tanto este livro quanto os outros disponíveis no mercado valem a leitura para relembrar detalhes que podem ser esquecidos com o tempo e como o trabalho do produtor gráfico mudou nos últimos 40 anos (desde a criação e advento ao uso massivo dos softwares de edição gráfica).

Até o próximo livro.
Ass: Thiago CS

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