Quando cadência e editoração determinam a qualidade
Guia para iniciantes da pintura digital, Beginners Guide to Digital Painting, um dos livros da coleção 3D Total, mostra algumas ideias sobre os processos de pintura no meio eletrônico. Obviamente, o mais importante é não perder a atenção nos recursos que o software usado tem desfocando a atenção dos interessados no processo. O software usado, neste caso, foi o Photoshop em sua versão CS 5, lá de 2010 e com ele muitas coisas mudaram no passar das versões futuras. É antigo? Sim mas o conhecimento por dentro da obra continua sendo funcional. Entretanto, o que a obra tem de bom, texto explicativo, é o que a deixa terrível: a cadência desse mesmo texto. Pode até ser bem escrito mas a forma de apresentar o trabalho acaba cansando mais a vista dos leitores do que ajuda no entendimento do conteúdo.
As partes importantes para serem ressaltadas são: pratique e muito. Quanto mais se pratica melhor se tornará. As opções de mesclagem mais recomendadas foram: Multiplicar que escurece as cores; Sobreposição que intensifica as cores mais escuras e mais claras; luz de tela que faz as cores serem mais brilhantes. Muito mais do que criar uma arte bonita é a intenção do artista que faz o trabalho ficar/ser bom e bonito. Dê um precioso tempo de descanso aos olhos e a mente. Mudar a rotina de produção quando não conseguir progredir é fundamental para aliviar a mente. E use a mesa de desenho. Sabendo disso tudo podemos analisar a proposta.
O livro é dividido em 6 capítulos que foram produzidos a partir de um combinado de workshops realizado pela autora. Além de definir que cada workshop era mensal, outros fatores como pontos importantes da vida dela e referenciais diversos são cruciais para se criar composições interessantes.
A parte impactante: use mesa de desenho não foi colocado logo no início atoa. A autora faz questão de enfatizar o uso da pressão como recurso básico do desenho. Se no mouse não é possível simular de forma eficaz o traçado no papel ao menos com uma mesa de desenho é possível simular os tipos de pontas que existem como pena, caneta, carvão ou lápis. Também sendo possível simular as diferentes ponteiras que canetas e penas têm. Esse detalhe é crucial pois o trabalho apresentado será todo baseado nesses detalhes de caneta e pincéis.
O livro esbarra em alguns pontos da teoria do desenho, das cores e da composição. Bem-vindo detalhe. Mesmo sendo um conteúdo pouco explorado, só o fato de existir ajuda. Além de informar que desenhar no papel é antes de tudo uma ação primordial, também dedica espaço técnico para descrever como as luzes e sombras se comportam, a influência que o direcionamento da luz causa, a dispersão da luz em dias de nublados, e o posicionamento das sombras projetas e aparentes ficam no resultado final. Para quem tem raiva do ponto de fuga ele também aparece. Na colorização via tons de cinza e sobreposição de cores, a digitalização de originais e calibração dos monitores são partes relevantes. Só nisso tudo a leitura já vale.
Pelo lado técnico de uso do Photoshop Pincéis são uma mão na roda pois ela faz uso extensivo deles. Ao explorar diferentes pacotes disponíveis ela estimula o desenvolvimento dos seus próprios pincéis, porém atenção de qual versão são os pacotes provém. Podem não funcionar da forma correta em relação a versão de programa usado pelos artistas. Indo além dos pincéis, a autora dedicou espaços para métodos de mesclagem, uso de fotografias, filtros, mascaras de camada, varinha mágica, máscara de nitidez, correção de cores, contraste, tonalidade e o liquify.
Mesmo curto e com um texto chato de ser lido, é um livro que faz o dever de casa. Mostra como usar, quando e onde usar os recursos analógicos e digitais existentes e de forma combinada para construir e compor artes digitais.
O ponto ruim? Sim, está em inglês. Para que tem aversão a língua inglesa, peço desculpas mas ela é básica para entender, minimamente, as opções internas da ferramenta usada. O arquivo lido está no formato digital e com ele deveria funcionar uma série de links mas cadê que funcionam? Passam longe. As últimas 10 páginas do projeto, que poderia ser um conjunto de outros livros, sim são referências, são outros produtos da 3D Total. Marketing interno com link faltante não tem cabimento. E para terminar, o que talvez possa irritar mais os leitores é a interface antiga do Photoshop usado. Pra mim fez pouca diferença mas para alguns pode ser complicado.
Entre os acertos conseguidos e os erros indevidamente evidentes da editoração, até para leigos, o livro poderia ser melhor organizado. Com os olhos focados no design o livro é realmente muito bonito, as artes são bacanas, os desenhos apresentados são bonitos e o acabamento impecável mas com o olhar atento ao contraste e legibilidade das informações escritas, infelizmente, a obra deixa a desejar. Pode ser um erro técnico, ou não? Não sei. Talvez não cabe aqui falar desse erro mas deixar indicado que acontece já é o bastante.
Vale a leitura? Talvez. Só para quem quiser realmente (re)aprender algo muito antigo. Perdi um tempo precioso para entender como certos trabalhos eram feitos. Mudaram de lá pra cá? Pouca coisa. O que mudou mais foram os computadores, a interface do programa e uma mesa de desenho que ficaram bem melhores que as da época. Enfim. Se puder passe longe. Existem trabalhos melhores e mais recentes.
Xará, gostei da sua análise. Mas fiquei curioso com a sua última frase: "Existem trabalhos melhores e mais recentes". Vc fará algum outro post sobre esses materiais mais recentes? Se não, pode recomendar algum(ns)?
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