Uma mulher tentou matar o bebê da vizinha
Durante 10 semanas, precisei me desfazer de diversos materiais antigos de revistas de jogos e livros da área para liberar espaço necessário nas estantes da minha biblioteca. Também fiz essa doação para modernizar e melhorar o acervo da biblioteca do IFRJ no interior do Rio de Janeiro, campus Engenheiro Paulo de Frontin. Durante 2016 e 2017 pude ministrar aulas no campus e visitava o espaço algumas vezes por semana porém, não consegui fazer a doação do acervo pois o tempo era corrido. Como o curso do campus, ao qual estava ministrando aula, era onde a graduação de Jogos Digitais ocorria, esta doação, mesmo atrasada, foi uma benção.
Durante as diversas semanas dessa entrega, o bibliotecário que recebeu o material, também me doou um livro, particular dele, que pude ler durante uma longa viagem ao Amapá. O livro, depois de lido, foi doado para Universidade Estadual do Amapá para constar no acervo deles. E depois disso, voltei para minha casa. Esta postagem é sobre esse enxuto livro de contos russos.
Como já havia lido obras de autores um tanto inesperados, ingleses, americanos, japoneses, poloneses, italianos, agora foi uma russa que ganhou oportunidade. Alguns desses autores são famosos outros nem tanto. Se pensou em Harry Potter, Senhor dos Anéis, Cornicas do Rei Arthur, Musashi, The Witcher, foram algumas das obras famosas mas outros também tiveram atenção. A morte e a morte de quincas berro d’água e Boca do inferno são bons exemplos de obras brasileiras.
O livro dessa vez vem da Companhia das Letras e está traduzido para o português do Brasil e tem um vocabulário nada rebuscado. Obviamente, por ser algo que se passa na Rússia e arredores, alguns nomes são um tanto complexos mas nada que seja difícil de ser digerido. A obra está organizada em capítulos onde em cada um deles tem um conto distinto sendo apresentado aos leitores. Cada historinha narrada torna o livro num apanhado de histórias sobre diferentes cidades e regiões, desde a Rússia central e a capital Moscou até outros locais fronteiriços.
Cada conto relata uma particularidade da Rússia, seja na pobreza, no cotidiano, no frio intenso, nos horrores da guerra, ou no desejo de alguns espíritos de ter seus corpos enterrados… A autora mostra como manter os leitores presos num emaranhado de pequenos mistérios em seus distintos desfechos sejam eles trágicos ou fatalidades.
Apesar de ser um conjunto de historietas inventadas, a maioria tem um certo quê de realidade. Mesmo onde os romances mais estranhos possam ser estranhamente construídos, não restam dúvidas de que todos têm uma origem na realidade geral. E nesse ponto, realidade, a autora surpreende.
Os relatos internos das personagens assustam ao mesmo tempo que impressionam. Detalhes de localidades, situações, dilemas da vida, e contextos perpassam as entrelinhas das histórias criando uma estranha conexão dos leitores àquelas personagens. Constrange e intriga. Incomoda e apavora. E nesse emaranhado de sensações aparentemente impensadas aprisiona os leitores.
Nem todos vão gostar por alguns fatores. Localidade, profundidade da obra, vocabulário e origem da autora podem ser alguns deles. Mas principalmente sua capa e título longo. Esse sim pode causar constrangimento. A capa faz alusão direta a um dos contos e foi escolhida a dedo. Os outros contos não causam uma ilustração mental tão forte quanto o conto escolhido. Mas, por ter um desenho de um gato na frente pode ser o fator errado nessa aquisição. O livro não fala de histórias de gatos, mesmo que um ou outro tenha gatos. Poderia ser essa a intenção mas não é. A intenção é ter algo de destaque não de impacto.
Como determinadas culturas cultivam mitos e mistérios sobre determinados animais, os gatos representam, de alguma forma, esses mistérios. Não é o primeiro livro que leio de mistérios onde a capa tem um gato estampado.
Durante a leitura algumas passagens podem ser desagradáveis para alguns e isso me deixa na posição de: maiores de 15 anos podem ler mas é preciso um pouco de estômago em algumas partes. Não deixe que a capa do livro molde seu julgamento. É apenas um conjunto de contos não um livro 100% de mistérios cabeludos e assassinatos mirabolantes como Agatha Christie ou Cherlock Holmes.
Se algum dia puder ler e tiver com cabeça relaxa e fresca, sem compromissos, de férias e com tempo, pode ser uma leitura diferenciada, mesmo com algumas de suas passagens um pouco indigestas. Para alguns já no início será um motivo para não voltar então não prossiga – e eu estou nesse grupo – mas fui até o final e foram poucas as histórias que causaram tal situação.
Como é dito no início do livro “é uma obra que fala da vida e do amor” não da morte como alguns podem imaginar e talvez passar pelos pensamentos.
Recomendado? Não como obrigatório mas Sim como expansão da sua visão de mundo.
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