Nova Arquitetura – Bauhause – Valter Gropius
A escrita sobre este livro, ficou no forno por mais de 4 anos. Após lido e com a passagem da oportunidade de escrever e publicar sobre, eis que chega o momento. O Blog, querendo ou não, é sobre Design e assuntos coligados mas de uma forma geral, também abarca literatura. É nesse embaralhado grupo de opções que o texto de hoje dedica seu espaço a Gropius e a Arquitetura.
O livro que Gropius escreveu em vida e que relata, por ele próprio, como a arquitetura mudou durante o século XX é uma obra onde o olhar do profissional/professor da arquitetura, uma área coligada a design, tem muito o que aprender com o design, e a ensinar ao próprio curso de Design.
Bauhaus é a mais famosa escola de Design da 1ª metade do século XX e sua estrutura inicial serve, até hoje, como referencia para a criação de novos cursos, mesmo os mais modernos. Para quem percebeu, num passado não tão longínquo, Design estava atrelado mais as guildas dos mestres artesãos do que a Arquitetura enquanto a Arquitetura se alinhava mais a Engenharia. Enquanto a existiu, a escola passou por grandes mudanças em distintos períodos onde os governos de algumas cidades aceitaram sua proposta de trabalho e forma de ensino enquanto outros não a aceitava.
Se uma escola, principalmente de artes, não fosse politizada o suficiente para incomodar governantes? Ela já perde seu fator: o de revolucionar.
Ensinar não é só repassar valores e o olho tradicional, mas mostrar aos educandos como construir o novo que irá levar a sociedade, e o mundo, ao seu constante progresso e evolução, tanto no fator tecnológico quanto no fator cultural. Cultura só existe porque foi preciso desenvolver tecnologias. Tecnologias não existiriam sem as culturas humanas. Ambas podem ser estudadas de forma separada mas estão intimamente interligadas.
Enquanto a Arquitetura anda de mãos dadas com ambas as coisas: por um lado é a demonstração da tecnologia vigente construindo itens para acomodar pessoas enquanto que por outro é a expressão de uma técnica apurada aplicada a algo artístico onde todos que passam ao seu lado irão ver como diferente do padrão.
O olhar do professor é tão complexo quanto o dos arquitetos. Artes, ciências, técnicas e tecnologias caminham juntas para um propósito maior. Enquanto os aglomerados humanos tendem a aumentar, é no sentido oposto que o ser humano se mostra. Na sua singular individualidade. É neste ponto que nasce os sentidos dos olhares. “O que se quer construir com essa visão de mundo?” esse é o mote da arquitetura: a construção de algo para atender as diversas necessidades de todo ser humano, de alguma forma, em algum lugar.
A Arquitetura é um dos recortes que o olhar de uma pessoa visionária tem para demonstrar seu intelecto. Como devem ser os cursos de design e seus coligados? É a grande questão.
Da mesma forma como a arquitetura em suas maquetes, das artes plásticas com a aplicação das técnicas em diversos trabalhos, das engenharias em seus projetos multi disciplinares e plural, como uma infinidade de outras graduações podem se beneficiar da ideia e estrutura das oficinas estipuladas no coração da escola (e mais recentemente laboratórios e FabLabs distribuídos pelo globo) em prol de sua prática diária constante que os educandos poderão ser melhores profissionais nesse pós curso? Esse é o desafio de todos.
Gropius conta parte de sua história atrelada a história da escola. Junto de outros expoentes da época, e numa ebulição de novos conflitos políticos que o mundo voltaria a ver, fez a escola crescer. Iniciando em Weimar e continuando em Dessau a escola sucumbiu a nazismo em 1933 com o fechamento total dela pelo regime.
O que caracteriza a escola foi que ao definir um ciclo básico de formação para todos os alunos e oficinas onde iria colocar seus conhecimentos em prática, ao final destes ciclos os alunos saiam não só como futuros profissionais mas como mestres da escola. Não atoa que alguns deles voltaram para ministrar aulas e a escola viu seu auge nessa renovação de artistas e professores.
O autor dedica espaço a como ele pensava que deveriam ser os cursos. Desenvolvimento de técnicas aplicadas a soluções diversas. A divisão da época entre as Artes superiores versus Artes inferiores era o dilema que precisava ser eliminado. Arte é uma coisa e técnica é outra mas ambas devem andar juntas. Da mesma forma que os movimentos Arts & Crafts e o Art Nouveou tentaram juntar ambas as vertentes, foi na Bauhaus que ambas a visões começaram a se aglutinar.
Também dedica muito tempo do trabalho mostrando que a sociedade urbana precisa da arquitetura para conseguir superar parte de seus problemas. Conforto e bem estar social das pessoas passa por uma melhor distribuição e ocupação dos espaços urbanos em prol de uma ocupação mais organizada.
Com a construção de espaços para fins definidos, a escola e curso de Design, juntamente a arquitetura, foram, em parte, absorvidos pelos industriais interessados, da época, que queriam melhorar o aproveitamento de suas fábricas. Melhorar a organização e a logística interna. Organizar a sociedade era o estigma da época e quem poderia conduzi-la a isso era a Arquitetura e Engenharia Urbana.
É uma leitura um tanto cansativa. Ultrapassada pela velocidade do tempo atual mas suficientemente eficiente na definição de problemas que a arquitetura pode e deve resolver. Apesar de ter seus contextos já ultrapassados, como fator histórico é um livro de cabeceira. Para estudantes, de Design, de Arquitetura, de Engenharia, de Artes uma visão de época que auxilia a chegar em novos olhares.
Com ressalvas: recomendo a leitura. Mas tenha paciência, é cansativo.
Até o próximo.
Ass.: Thiago Sardenberg.
Comentários
Postar um comentário