1 Semana com o Regata OS, e isso foi lá em 2020...

Depois de alguns dias de uso deste sistema operacional agora dá pra fazer considerações…

Antes de mais nada, o sistema foi recomendado por uma pessoa no grupo do Kretcheu no Telegram, que fez outras indicações também e uma delas foi o Zorin OS. Como venho do velho rWindows, ou o Janelas, tenho um hábito básico de sair jogando tudo que existe porque gosto. Pelo sistema ter suporte direto com o cliente Steam e outros serviços, já me chamou bastante a atenção. Ao descobrir que era feito por brasileiros, fiquei mais empolgado. E não é porque não sei inglês, sim eu sei inglês, mas o motivo foi por ser um sistema de conterrâneos. Ao ver vídeos de instalação do sistema, descobri também a comunidade brasileira de desenvolvedores. Assim que a acessei expliquei a situação e recebi as orientações que precisava. Com o passar das horas percebi problemas e nos dias seguintes detectei vários outrs. Contactei a equipe e eles agradeceram o retorno, arrumando o sistema e a loja de aplicativos. Atualizaram os arquivos e o sistema rodou.


A realidade do trabalho que faço

Sou designer formado na faculdade. Meu contato inicial com softwares foi com os prioritários (muito antes da graduação). Acessíveis? Nem um pouco. Mas, como todo bom brasileiro, dava meu jeito pra arrumar as ferramentas. Responsabilidade da faculdade em usar ferramentas prioritárias. Diga-se de passagem, era faculdade privada logo, corresponsabilidade minha pois aceitava essa realidade de maneira inconsciente. Inclusive, só usava os prioritários, porque estava acostumado. E, devido a desconhecimento de causa, tinha muitos preconceitos com os softwares livres, e diversas dúvidas, os achava capados, enxutos, e com muita falta de recursos. Resultado era não usar por estar acomodado aos excessos dos outros programas e isso me limitava. Apesar de ser um contra senso também mostra como somos manipulados pelas grandes corporações, nesse nível de consumo.

Na outra ponta dessa equação, existe a realidade da Produção Gráfica que usa o material impresso como produto final. Jornais, revistas, panfletos, livros, manuais, cartão de visitas, fotografias, cartão-postal, embalagens, etiquetas, envelopes, enfim vários produtos físicos de diferentes tamanhos e volumes. Todo esse material precisa passar por um processo de adaptação das cores luz (cores vistas a partir dos monitores) para as cores pigmento (as cores que as impressoras colocam nos suportes, papel, tecido, plástico entre outros) mesmo que existam vários processos de impressão e diferentes impressoras, só dois desses processos interessam: o OffSet e lazer. Nas impressoras caseiras existe um processo parecido com o offset, e mesmo inferior se asemelha porém perde-se qualidade enquanto a impressão a lazer, mesmo excessivamente mais cara, para baixa tiragem compensa pela velocidade, qualidade e proximidade ao que se vê nos monitores.

Além da produção gráfica também tenho trabalhos com 3D em Blender e de produção audiovisual onde as ferramentas mais conhecidas e usadas são as prioritárias (pagas). Mesmo que existam diversas alternativas, nos mais diferentes valores, as abertas sofrem para ter visibilidade e recursos que as dominantes têm. Além de atuarem para estrangulam as menores, acabam por comprar essas empresas, que têm um trabalho relevante, que pode as fazer grande parcelo de seu mercado. Outro infeliz resultado dessa situação é a eliminação da concorrência via compra direta e descontinuidade dos desenvolvimento de ferramentas e/ou a simples manutenção de monopólios corporativos das grandes fabricantes. Na prática é pior para os consumidores pois não favorece a concorrência.

Mesmo que as grandes empresas tenham esse recurso (recursos financeiros), elas continuam a sofrer com a pirataria de seus softwares onde a mesmo não parou de ocorrer mesmo que o sistema de assinaturas e com mensalidades variáveis tenha aumentado seu acesso. Para evitar tais ações criaram sub ferramentas online com recursos online em nuvem e a inter dependência de conexão constante para os programas funcionarem. Mudar o mecanismo de negócios favoreceu ainda mais a restrição das ferramentas e não sua acessibilidade. Saír da venda direta e individual dos softwares, para pacotes deve se constituir como uma solução temporária à pirataria até a infra estrutura da internet permitir todos os programas pagos serem online com acesso exclusivo e individual pelos consumidores. Até que isso ocorra em definitivo, a pirataria vai continuar pois existem consumidores comodistas onde não dispensam os programas pagos mas não migram para os abertos. Enfim, a situação está nesse patamar.

A solução natural, para esta infeliz faceta da realidade, é alterar de programa. Ou os abertos, que é uma solução, ou para programas mais baratos que fazem os mesmos trabalhos, mesmo que estes não sejam tão mais baratos que uma assinatura mas que entregam o acesso vitalício ao software desde o primeiro pagamento. 

Por um lado esta postura foi boa na manutenção dos negócios dessas empresas, não as permitindo sair de circulação com a acirrada batalha contra a pirataria nesta conta porém, infelizmente, não eliminou o principal entrave dos usuários/empresas: reduzi seus custos. Querendo ou não, esses custos serão repassados aos clientes dos clientes (os consumidores dos prestadores de serviços) e os valores desses serviços tenderão a crescer pois se aumenta os postos intermediários, ou seja, aumenta as burocracias para solucionar problemas cotidianos que deveriam ser mais fáceis e estão dificultando.

A realidade das grandes empresas, inevitavelmente, é sua burocracia. Como são enormes, em diferentes territórios, com diferentes regulações, elas precisam se adaptar a estas condicionais. Sem essa burocracia, o sistema de regulação interno, que faz os consumidores não saibam totalmente o que podem, ou não, fazer com suas soluções tecnológicas. Dessa maneira, estes são bombardeados com contratos de uso abusivos onde o não direito, sobre o software adquirido, se torna vigente. Os consumidores para usarem os softwares, para os usar, precisam concordar com os termos no momento da instalação, caso contrário o software não é instalado na sua máquina. Como também é de responsabilidade dos usuários ler os contratos, e são poucos os que leem as letras miúdas, os abusos ocorrem. Coube então aos governos locais, ajustar algumas dessas situações via legislação, seja Estadual ou Nacional, qualquer que seja o território ou legislação vigente. As grandes empresas precisaram se adaptar e melhorar os termos de contratos.

Dessa situação, favorável apenas as fabricantes dos softwares, fazer os usuários concordarem com cláusulas de contratos restritivos, elas estavam impondo limitações de uso. A desculpa é o direito autoral delas sobre suas ferramentas, o que não está errado, mas não as autoriza a criar cláusulas excludentes pois essa “desculpa” só preconiza o não término da pirataria. Usuário insatisfeito com  contratos esdrúxulos isso sempre existiu mas empresa que limita uso da ferramenta via contrato, isso é abuso de poder. No final das contas, essa política torna os usuários em consumidores de produtos e só. Produtos esses que são restritos pela natureza do produto e do capital industrial, retorno certo acima do benefício. Propositalmente limitante pelas suas fabricantes, para que estas não percam seu poder, seja ele financeiro, seja ele corporativo fornecedor de soluções, os usuários são vítimas e cabe a legislação regular certas condicionantes.

Como já dizia Cupani, em Filosofia da tecnologia, as “tecnologias podem ser sistemas, ferramentas, utensílios, equipamentos, linguagem e formas de pensar” que se sobrepõe a forma de ver o mundo que a população pode desenvolver. O ser humano é um ser tecnológico. Mesmo que diferentes tecnologias coexistam, pois tudo que o ser humano cria, é, em algum grau, uma tecnologia.

Mas, existe o Linux e com ele uma série de opções.


Chegada ao Software Livre

Após a formação, continuei a usar as ferramentas prioritárias porque a atuação profissional me pedia ate conhecer o Blender em 2012. Em 2013 e em 2020 mudei de máquinas mas isso tem um custo bem elevado. No início de 2020 veio a pandemia e a restrição de trabalhos foi inevitável. Com essas restrições mais uma das máquinas que usava queimou. Resultado disso foram duas máquinas perdidas em menos de 1 mês. Felizmente o desktop já havia trocado. Menos de meio ano depois ocorreu a troca de laptop, onde consegui um usado, e mandei pro reparo. Ainda funcionava, mal e porcamente, mas em dezembro de 2020, parou de novo. Em julho, fiz o reparo e voltou a funcionar, foi quando decidi migrar definitivo para o Linux. 

Em 2018 já estava migrando para os softwares livres mas sem um movimento forte. Em 2019 conheci a Godot e já usava o Blender para realizar alguns trabalhos e estava mudando para o Krita para outros trabalhos pequenos. Tentei usá-lo para fotografias mas essa não é a função, mesmo que possa ser usado para tal, não vai ser a melhor das soluções. Para isso use o Gimp. O Darktable é melhor na correção de cores das fotos e bem melhor. Durante o ano de 2020, já estava usando os softwares livres porque fiz a escolha de não usar mais softwares prioritários. Mais rápidos, leves, e acessíveis.

Foram um conjunto de descobertas e reaprendizado com design, maior do que as ferramentas prioritárias me causariam, pois reaprender a pensar foi o benefício. Mesmo que estas sejam fantásticas, e cheias de recursos, esse excesso limita pois não sabemos por onde começar ou pensar, o que fazer então? Design é muito mais do que usar um software. É pensar soluções e a viabilidade delas. O ferramental que acelera seus processos produtivos é meramente uso bom dos recursos. E o fator Criativo? Vai bem, obrigado, desde que seja bem alimentado, caso contrário será limitado pelas ferramentas. Outra máxima do design é do “Menos é Mais”. Além de estar ‘catequizado’ com as soluções fechadas, me sentia limitado por elas. Não me instigavam a usá-las mais pois não conseguia criar soluções. Elas servem pra isso? Servem. Fazem bons trabalhos? Não. Por que quem faz trabalho é o designer não a ferramenta, seja ela paga ou não. A mudança para as abertas me obrigou a pensar em outras formas de trabalhar. Lembra de tecnologia? Formas de pensar? É por aí.

Em setembro de 2021, migrei para o Linux. Apesar de ter sido um trabalhinho fazer a instalação do Regata OS, devido a erros meus de processo, a coisa começou a andar. Logo no início já me deparei com limitações. A loja do sistema não tinha tudo o que precisava. Já estava em contato com o grupo de desenvolvimento e entrei em contato. Rapidamente arrumaram, atualizaram o sistema, e rolou. Após isso, testar o AppImage (versões portáteis dos programas para Linux mas nem todos os sistemas são compatíveis com essa versão, azar do Mint)…

No 1º dia usando o sistema também estava vendo e participando das aulas do mestrado via Linux. A instituição que aceitou meu projeto é privada e está usando a plataforma da MS (olha a dona do rWindows aí)… mas como estava numa fase meio revoltada, principalmente com as coisas pagas e muito caras, fui teimoso e arrisquei. E não é que deu certo? As aulas foram vistas, registradas e com a documentação dos trabalhos tudo feito em Libre Office. Maravilha…

No 2º dia iniciei o sistema o comecei já ligando no Youtube. Fui ver o evento do GnuGraf 2021 todo no Linux. O resultado foi que rodou tranquilo. Obviamente havia problemas mas, como disse, estava no inicio dos testes. Ao descobrir essas falhas, conversei com os desenvolvedores e já arrumaram a base de dados. Atualizei o sistema e ficou até melhor em desempenho. Precisa melhorar? Sem duvida mas já é um começo. Neste mesmo dia ainda fiz uso do Libre Office, Scribus, Darktable para continuar um projeto que estava começando a realizar.

No 3º dia continuei a ver o GnuGraf, a executar o projeto de fotografias, a escrever os textos, editar as fotos, organizar o material e chegar ao resultado final da “revista” de fotografia foi um trabalho bacana. Até que o laptop, como dito morreu. Um problema na placa mãe a fez não funcionar de novo. Um reparo seria caro. A placa mãe poderia não existir ou ser recauchutada. O processador já era antigo. As famigeradas gambiarras não valeriam os riscos e custos. O projeto foi salvo certinho no HD do dispositivo que ainda funcionava mas o sistema já estava parado faziam mais de 3 anos desde a última vez que foi ligado. Enfim, o pior deveria ser decretado: a experiência que chegou a 1 mês de uso foi, forçadamente, interrompida.


Conclusão

A experiência com o Linux foi variável. 3 Sistemas testados: Mint, Ubuntu e Regata e algumas dores de cabeça. Para quem conhece as comunidades, isso se chama Distro Hopping. Distro, ou flavours, são as versão disponíveis de Linux. Hopping é o usuário que fica mudando de distro constantemente e nunca sabe nem escolhe qual é a melhor e nunca fica numa única opção. Ou seja? Nunca está satisfeito. Bom ou ruim, ao menos esse cara é bom em testar distros.

Veredicto!

1) O Mint tem limitações que a equipe de desenvolvimento impõe aos usuários. Limitações que não me agrada e, mesmo bonito, aquele excesso de verde é cansativo. Por esses e outros motivos, não recomendo o Mint para usuários avançados. Aos iniciantes é uma opção, acesso inicial e fácil uso.

2) Ubuntu me deu mais dores de cabeça do que me ajudou. Gostei daquele laranja e do menu lateral que muda bastante em relação aos outros sistemas, mas para quem vem do rWindows, mesmo com certa semelhança, incomoda. Apesar de já ter visto outras pessoas usando o Ubuntu, o que usei, foi uma decepção. Precisam melhorar o acesso e eu fazer outra incursão pelo sistema. Até ocorrer vai demorar algum tempo. Fora outros detalhes de senha e acesso a conteúdos que não me agradaram... Ubuntu é bom mas peca no quesito facilidades, no meu caso.

3) O Regata foi o que melhor me satisfez. Tinha tudo que precisava. Se não todos, a maioria absoluta dos programas que posso usar, em relação aos pagos (da janela e da maçã), estavam por lá. Foram boas descobertas de funções e recursos inteligentes que facilitam a adaptação dos usuários ao Linux. Não é para iniciantes mas é confortável suficiente para não ser limitado. O que descobri depois foi que o rWindows copiou algumas funções da interface Plasma que o Linux tem. Curioso isso. E minha escolha, num futuro qualquer, seria voltar ao Regata como sistema Linux base.

4) Anos depois dessa situação, o Steam OS, baseado no Arch Linux, foi lançado no mercado. Sabendo da compatibilidade do Arch para diversos programas, é uma alternativa interessante para ser considerada numa oportunidade futura. Esta opção fica como citação honrosa.

O adendo é o agradecimento às comunidades de usuários que existem pelo Telegram. São atenciosas e dedicam espaço e ouvidos aos novatos, basta saber se comunicar nelas. Para todas as comunidades, as quais precisei de ajuda, ficam meus agradecimentos. Essa galera me forneceu várias informações úteis e os participantes foram bem prestativos. Valeu galera.

Bom, pequeno ou não esse é a análise dessa experiência.

Até o próximo texto.
Ass.: Thiago Sardenberg.
OBS: para qualquer citação futura, deixe o link deste texto na sua citação, grato.

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