O novo poder: Cibercultura e ativismo digital - uma outra maneira de expor ideias e pensamentos...

Movimentos cyber sociais. Livro: O novo Poder, democracia e Tecnologia. 2018, BH, MG.

O livro “O novo Poder, democracia e Tecnologia” traz reflexões sobre o futuro dos movimentos sociais que pedem maior e melhor representatividade popular nas esferas políticas que compõe os modelos governamentais existentes em diferentes países. Tendo ocorrido a partir de convocações via Internet e redes sociais, o descontentamento popular perante os seus representantes políticos e sua falta de representatividade pela população causaram movimentos conhecidos como a Primavera Árabe e o Ocupy Wall Street. Cada um com seus motivos em seus países e com suas próprias reivindicações. Entretanto, na outra ponta desse movimento, outras movimentações como “neoconservadorismo” e “neoliberalismo” também se reestruturaram e mantiveram suas pautas no jogo politico da elite dominante da sociedade.



Mesmo que o “neoliberalismo” já seja conhecido o “neoconservadorismo” era algo menos evidenciado. Foi dessa união de movimentos, até então distantes, que causou as mudanças sociais vistas na Primavera Árabe, no partido do Podemos da Espanha, no Ocupay Wall Street (que reivindicou a não vinculação financeira privada as campanhas eleitorais do país) e na movimentação populista de Donad Trump nos EUA enquanto outros governos ao redor do globo também se mostraram. Os movimentos, geralmente convocados pelas redes sociais, ganharam forma e tanta força ao ponto de derrubar uma ditadura de 30 anos no Egito que, infelizmente veio a eclodiu outra ditadura militar extremamente repressiva, no mesmo país, posteriormente. 

O que o livro tem?

Ele trata de como as diferentes tecnologias e sistemas digitais podem ser usados para ações politicas pertinentes por uma parte da população e não sustentável por outra parte acarretando na reorganização das forças politicas vigentes em que o velho e novo se digladiam em busca de maior representatividade e poder, tanto econômico quanto político. As forças políticas tradicionais não sabiam usar as novas ferramentas a seu favor enquanto os novos movimentos políticos não se contentavam com as estruturas consagradas da politica tradicional. Mesmo estando dentro de suas esferas de influência, ambos precisariam extrapolar essas esferas e invadir o território do outro para ser visto pelos seus opostos.

O Confronto das duas visões de mundo era evidente enquanto o chamado e o clamor popular pouco poderiam fazer e ser ouvidos pelas arcaicas e estruturadas instituições e personagens políticos que não eram destituídos dessas mesmas macroestruturas de poder e governança. Parte da responsabilidade era dos governos em suas oligarquias partidárias enquanto na outra parte era da mídia em sua força de manipular opiniões e a falta de representatividade que a população exaltava. Enquanto a população não se encontrava em suas reivindicações dentro desses levantes novos movimentos foram ocorrendo sub evidenciando os problemas não resolvidos tanto pelas elites politicas quanto pelas empresariais. O mote, mesmo em situações distintas, era o mesmo, preservação da sua estrutura original e forma perante as novas reivindicações e movimentos sociais que não geravam mudanças significativas e evidentes para eles.

Dessa forma o movimento de desdemocratização dos governos e dos eleitores ganhou traços evidentes entre as forças politicas originárias, conservadoras enquanto os novos movimentos de representação social não eram perpetuadas devido a fatores externos a eles. A visibilidade da evidente perda de poder econômico, causado pelos “neo tradicionais movimentos” e organizacional ocorreu quando direitos trabalhistas foram perdidos pelos profissionais, as sindicalizações foram reduzidas e os contratos de trabalho de categoria foram substituídos pelos contratos temporários de prestadores de serviços com pequenas empresas, mais baratas que os funcionários, ganharam fama devido ao movimento de empreendedorismo geral que as elites financeiras dos países causaram. 

Além desses movimentos, ainda ocorreram diferentes movimentos políticos que causaram ainda maior perda de visibilidade dos movimentos enquanto os levantes populares foram duramente repreendidos pelas forças de segurança locais nas cidades onde ocorreram. A revolta generalizada não gerou as devidas e subdesejadas “revoluções” e a intensa movimentação não levou a mudanças concretas nas lideranças originárias. 


O que então, essa relação têm com o tema Tecnologias da Informação e Comunicação Digital?

Sem as tecnologias de comunicação digital essas movimentações não teriam ocorrido. Ao se mostrarem como forças políticas desprezadas, também levantaram sua indignação com o sistema já estabilizado que convivem faz algum tempo (tempo este variável de país para país). Mesmo despreparadas e descentralizadas, o que é uma característica boa, mostraram que mudanças maiores e mais profundas são necessárias para se construir novas relações de poder, o que demanda tempo ao qual seus participantes não queriam esperar, era pra ontem e já! Uma nova fronteira de comunicação política foi estabelecida e os antigos líderes políticos não estavam acostumados a tal, renovação começa com pequenas ações.

As burocracias internas das estruturas governamentais e das grandes empresas também são grandes impedimentos para tais mudanças ocorrerem pois são delas que novas e importantes tecnologia se tornam acessíveis mesmo a preços elevados, o que leva ao real problema que os movimentos não evidenciaram em total sintonia uns com os outros: a força econômica dos diferentes líderes, em diferentes frentes, são os que mais lucram com a situação em sua maior amplitude. Por um lado temos um conglomerado tecnológico de diversas mega-empresas que geram lucro acima de qualquer coisa, e por outro lado tempos um conjunto de estruturas politica-partidária com visões e movimentação de preservação tão atreladas as forças financeiras externas, que evitar compra de votos, dos políticos, ou a criação de legislação favorável, somente as elites financeiras, fica indissociável. 


O que o texto elenca?

Ao final das explanações são declaradas algumas ideias, soluções e informações que, para o meu trabalho de educador com o uso de tecnologias é relevante. Antes das ideias o contexto social do Brasil.

A realidade brasileira local é: as tecnologias usadas são caras enquanto a maioria da população mal tem salário para pagar suas contas; Internet, celular e computadores – modernos ou não – são itens de luxo; a imposição mercadológica uma realidade injusta; o uso de softwares pagos nas escolas públicas, já precárias e com dificuldades financeiras conhecidas, um tremendo contra-senso; a não divulgação, tanto governamental por falta de políticas públicas de inclusão e uso de soluções tecnológicas abertas e de fácil aquisição quanto por interesses de diferentes origens não é relevante ou exaltada como soluções e sim atrasos, quando ocorre e se ocorrer; entre outros fatores culturais individuais que podem atravancar e atrasar o uso dessas soluções.

Os levantamentos apresentados pelo trabalho são pertinentes a partir do momento onde levamos em conta os contextos sociais que devem ser ressaltados pois a maior parte do mundo, nem energia elétrica tem disponível para sua população, quanto mais internet e comunicação aceitável para todos. Vamos aos pontos relevantes...

1) é “Importante avaliar, entretanto, que para que se possa atingir o cenário projetado para o futuro de vermos a tecnologia como instrumento de combate à presença histórica das oligarquias, para que essas inovações possam atuar no sentido da horizontalidade das próprias instituições políticas e de experimentalismos democráticos, que tenham impacto nas demais áreas de desgaste da democracia, seria necessário um amplo processo de inclusão digital e de acesso à internet e à banda larga, propiciando a todos o contato com as ferramentas tecnológicas, para criarem seus movimentos, atingirem a capilaridade necessária na sociedade e organizarem os processos políticos internos de seus grupos, a fim de disputar os espaços de poder. Nesse contexto, os projetos de inclusão digital e de acesso à rede que se espalham pelo mundo, passariam a ser uma ação que poderia efetivamente mudar a qualidade da própria política e atuar no sentido de acelerar esse tipo de processo em busca a uma sociedade mais igualitária. O controle dessas políticas me parece, então, decisivo para o cenário projetado.” (p.66 e 67).

2) “Parece-me fundamental ponderar também a existência de caminhos alternativos e mais democráticos de geração de inovações tecnológicas que não passam necessariamente pela força dos grandes grupos empresariais da área. Movimentos que lutam por liberdade na internet como os que defendem o software livre, constituem comunidades de ciberativismo, que anteveem há tempos o perigo de todo esse monopólio tecnológico descrito.” (p.71)

E dessa maneira ficam as ideias do livro em sua forma de demonstrar e nos trazer um pouco de luz sobre os movimentos sociais difusos que ocorrem ao redor do mundo com o uso das tecnologias como meio de levante popular perante a arcaica política do século XX tentando sobreviver, dentro de suas regras, as novas formas de elencar problemas e prioridades perante as lideranças e a população insatisfeita com o momento que vivem. E isso foram só 10 anos dos 22 anos que o século já passou. Vale pela reflexão e visão ampla da realidade desses tempos.

Até o próximo.
Ass.: Thiago Sardenberg

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