Muito Além do Adobe Photoshop...

Essa conversa dará muito pano pra manga e com ela vem uma série de detalhes que precisam ser evidenciados e podemos ir além disso pois devido o comportamento humano ser muitas vezes mais focado no tradicional e conversador - o que nos leva a zona de conforto - do que num movimento de curiosidade e descoberta, trabalhar para reduzir a retrucagem dos acomodados é mais difícil do que ensinar coisas relevantes e importantes para os novatos numa sala de aula, seja ela tradicional ou tecnologicamente moderna e equipada. Para isso vamos com calma pois o exemplo, neste caso, é tão importante quanto a problemática...

Essa conversa veio da seguinte postagem

"Pessoal, saudações.

Uma ex-aluna quer migrar do Photoshop para o Krita. A única coisa em que consegui ajudá-la foi em relação as teclas de atalho e mais nada. Os recursos que ela usa (ela é ilustradora) são fáceis de serem reproduzidos no Krita? Estou perdido em relação a isso e gostaria de ajudá-la."

Autor: Hamilton Kabuna - FB Group: Krita – BRASIL em 11-03-2021

Como forma de melhorar o contexto respondi: "Não seria mais fácil aprender a usar o programa como algo novo e do zero? Tipo ela sabe ilustrar mas digital ou manualmente? Se for manual, a técnica persiste independente do papel e da caneta, treino é tudo.

No caso dos programas a interface sempre vai causar problemas por isso camadas e pinceis e borracha seria um bom princípio pois noções de forma, cores, perspectiva e proporções ela não vai perder mesmo que mude de ferramenta."

Hamilton: "eu dei essa opção para ela: começar do zero. Mas acho que ela tem medo de se perder no fluxo de trabalho. Ela me mandou um vídeo, para saber se é possível fazer no Krita. Eu acredito que sim, pois não vi nada fora do comum, mas como não mexo com manipulação de imagens, no nível do vídeo e com as ferramentas do programa, confesso que não respondi."

Thiago: "Ao que parece ela está com medo da interface não das possibilidades. Como ela não está acostumada, mesmo que tenha bons exemplos, ela ainda está na dúvida e no receio de migrar."

Hamilton: "rapaz..."

Hamilton: "tu me permite mandar esse teu texto, sobre interface, para ela (e para alguns cursos de design também?"

Thiago: "Claro. Esse discurso já é velho argumento meu. Muitos ex-alunos do Senai RJ não imaginavam que usar o Blender seria divertido. Ensinei a base do programa que funciona para a maioria das outras ferramentas. A dificuldade da maioria, e eu inclusive, foi me adaptar a interface.

No inicio estava acostumado com o 3D Max depois fui pro Maya (muito melhor) e no final migrei pro Blender, hoje estou no bforartists que é ainda mais fácil em algumas coisas que no Blender mas é um retrocesso porque ele tem os atalhos baseados no Maya com a interface do blender. Isso pode bugar a galera que está acostumada com o blender a mais tempo."

Thiago "E na prática, o que percebi nos últimos 10 anos, foi:

1) Cometemos um erro terrível de achar que o que sabemos, devido a outro programa, é melhor do que o que vamos aprender nos novos.

2) Colocamos muitas barreiras no processo de aprendizado em vez de termos a cabeça aberta ao novo programa.

3) O maior desafio individual é passar da parte inicial da curva de aprendizagem dos novos programas devido a bagagem que temos dos outros.

4) Enquanto não nos propusermos a querer aprender nós mesmos iremos nos travar o que já mostra como somos conservadores."

Thiago "Ter dificuldade para aprender algo é natural, aquele pedaço do conhecimento ou forma de ensinar/aprender é variável e depende muito mais das pessoas do que do processo em si. O processo ajuda mas não é só isso. Não querer aprender e colocar barreiras, desculpas e outros argumentos, para não o fazer, é zona de conforto e comportamento tradicional conservador. Isso é que precisa ficar claro para as pessoas."

Hamilton: "Você me deu uma ideia para uma pauta de podcast..."

Thiago: "Eu tento fazer o trabalho da forma que a coisa que estou ensinando dê certo. Os projetos, trabalhos e situações é o dia-a-dia da carreira que vai proporcionar mas saber usar as funções e ferramentas básicas de forma coerente é questão do ensino das mesmas não dos alunos.

Já tive professor que dizia ensinar o programa e na prática tive que fazer na marra o trabalho que pediu. Foi quando descobri o que é ver um professor ficar na zona de conforto. E isso foi em faculdade particular... Bem complicado."

Explanação sobre a situação

Por já ter trabalhado na educação técnica, profissional, e graduação, tanto em instituições privadas quanto pública, acredito que tenho alguma bagagem para fornecer algumas ideias sobre o problema relatado acima e para isso uso como situação real o ensino de softwares. Situação esta que passei tanto no Rio de Janeiro (durante mais de 3,5 anos de sala de aula), quanto em Goiás (onde permaneci por 6 meses dando aula de produção gráfica, animação e roteiro para o curso de jogos digitais).

A realidade é a seguinte:

Nas grandes instituições de ensino, principalmente as particulares, que trabalham com as ferramentas digitais mais usadas no mercado profissional, é comum que as mesmas tenham acesso e recursos não restritivos para disponibilizar aos alunos e professores estas mesmas ferramentas em sala de aula.

Essas ferramentas não são fáceis de serem encontradas e a maioria delas tem 30 dias para uso ilimitado antes dos usuários serem cobrados por uma mensalidade ou um valor inacessível, para a maioria, para então ser perdido o acesso ao programa e suas funções.

Apenas um mês de validade, tem a versão testes do programa, para uma situação de ensino onde o curso base demora de 3 a 4 meses (um semestre de faculdade), é muito pouco tempo.

Para continuar a ter acesso ao programa, ou o usuário precisará pagar para ‘liberar’ a ferramenta – o que faz o negócio da produtora/fabricante ser oficial e gerar retorno e o devido valor agregado a estes programas – ou estes mesmos usuários precisarão partir para as versões alternativas – pirateadas – com o risco de serem infectados com um vírus qualquer no seu computador caseiro (o que não vem ao caso agora).

Muitas vezes, as versões mais recentes desses programas são restritas aos equipamentos mais modernos e/ou com boa e periódica manutenção preventiva, o que a esmagadora maioria dos usuários não faz – por desconhecimento ou falta de recursos – nem tem acesso.

A maioria dessas peças – que fazem um computador funcionar – são importadas e o dólar, hoje dia 11-03-2021 está cotado a R$ 5,54, a compra delas não está favorável, e independente da versão que se tenha acesso qualquer compra de eletrônico se tornam ainda mais restritiva.

Vendo a situação de forma holística podemos perceber que trabalhar com informática não é um dos trabalhos mais baratos que existe e mesmo que tenhamos alternativas, muitas vezes os professores dos cursos e das faculdade (técnicos, livres e graduações) esbarram na zona de conforto dos profissionais e dos alunos pelos mesmos já terem visto ou escutado algo sobre estes programas. E por estarem acostumados a arrumar soluções, para não sair do conforto que é usá-los, mesmo arrumando de forma ilegal o programa oficial, a saída é se arriscar.

É nesse ponto, o das alternativas, que este texto irá trabalhar.


O que existe disponível, além do Photoshop?

Pela quantidade esmagadora de programas que existem disponíveis no mercado para serem testados e consumidos, temos uma infinidade de opções mais parrudas e completas e outras não tão pesadas mas que foram pensadas para serem leves e funcionais para máquinas menos possantes. Neste caso vou me focar em 2 princípios simples: pagos ou gratuitos (relevando a plataforma a qual foram desenvolvidos pois não é a ideia limitar pelo sistema operacional usado pelos usuários, até porque não sei em qual máquina o usuário irá trabalhar).

Nos programas pagos temos: 

Affinity Photo, Aperture, Corel Painter, Corel Photopaint, PaintShop Pro X…, Pixelmator, Serif PhotoPlus X…, Sketch, e o próprio Photoshop. Obviamente cada um deles tem seus prós e contras mas também são versáteis para fazer o que se dedicam. Fora alguns casos que são, copia e cola da interface da Adobe, o uso de alguns pode ser bem distinto ao clássico Photoshop mas acredito que não seja essa a intenção da desenvolvedora. O ditado de “em time que se está ganhando pouco se muda” é aplicado aqui sem medo de ser feliz.

Nos programas gratuitos – e esta foi a surpresa – temos uma esmagadora maioria de opções: 

Canva, CinePaint, Gimp, GrafX2, Krita, Paint.NET, Photo Filtre, Photo Lab, Photopea, Photoscape, PhotoWorks, PicMonkey, PIXRL, SketchBook Pro, Seashore, Sumopaint… É muito nome dificil e chato de ser lembrado mas que ao se entender que Photo (fotografia em tradução direta e livre) dita o rumo do tal programa, fica mais tranquilo de se entender qual o motivo dele existir.

Se quiser parar de ler por aqui pode, o resto é só ladaínha do autor mesmo...

Conclusão

Pelo Photoshop ser pago, recursos quase infinitos e equipe de desenvolvimento terão tempo disponível para melhora-lo o tempo todo e por isso ele é o carro chefe. E enquanto a maioria dos gratuitos tem versão Mac, Windows e Linux e estão em desenvolvimento constante para acrescentar coisas novas e não ficar comendo poeira em relação ao Photoshop, o mesmo só tem para Mac e Windows. Vacilo...

E depois de muito falar e cansar o leitor sobre o que existe de opção fica aquela sensação de ter gasto um tempo precioso para ler esse texto e continuar sem ter noção de pra onde ir ou qual programa deve se escolher e a minha escolha particular é: teste ou todas as opções gratuitas antes de começar a gastar dinheiro com os programas pagos ou a maioria. Em algum momento uma delas vai cair como uma luva mesmo que não tenha tantos recursos. Aprenda a usa-la e seja feliz. Faça seus melhores trabalhos e divulgue a ferramenta, é isso que fará o seu trabalho ser mais conhecido. O uso constante.

Observações extras

Os programas gratuitos são pensados para serem mais leves e rápidos sem fazer a máquina perder desempenho caso seja ultrapassada. A ideia não é limitar ou penalizar seus usuários apenas ser mais uma opção.

Quando puder, e se puder, aprenda a usar de alguma forma o Photoshop para se debruçar nas outras opções sabendo o que tem nele pois a maioria dos programas concorrentes partem do mesmo princípio básico: reconhecimento e semelhança que irá ser replicado o tempo todo.

Os Filtros, pinceis, camadas, canais de cores, modos de cores, modos de mesclagem, seletor, caneta, corte de objetos, dimensionar, solda, colagem, band-aid, carimbo, formas e etc são essenciais para o funcionamento dos programas e na prática todos eles terão exatamente essas coisas disponíveis para seus usuários.

E para não se perder nas interfaces de uns nos outros quando fuçar procurando as coisas treine muito. Não tenha medo da interface. Ela é sua amiga. Ela é feita para te ajudar. Se acostumar a ela demanda tempo então se dê esse tempo.

Agradecimentos

Deixo aqui meus agradecimentos pela oportunidade de usar os comentários de Hamilton Kabuna no grupo para fazer dessa postagem algo mais esclarecedora para os interessados. E também aos comentários de outros participantes que cobraram os links de outras publicações que já havia feito sobre softwares livres e brasileiros que usam os mesmos e tem bons portfolios.

Ass.: Thiago Sardenberg

OBS: Por favor, se fizer copia desse texto, em qualquer mídia disponível, no momento da cópia, fazer as devidas referências a este blog. Grato.

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