Homo Ludens - Juhan Huizinga - 1930
Enquanto os estudos do mestrado não voltam me sobra tempo para pesquisar o que me interessa bastante: jogos de vídeo game. Muitos acham que o game é apenas uma brincadeira de criança, que não é coisa séria e pode ser ignorado facilmente. E até certo ponto isso não está errado, desde que se considere os significados da palavra Luden.
Luden é a origem do trabalho do Letrado Historiador Huizinga que durante a década de 1930 publicou um livro que delimita, conceitua e explana o que, realmente é, o jogo como conhecido pelo ser humano. Precisar recorrer a um livro de quase 100 anos para conceituar algo é um ponto crucial da pesquisa científica porém, não ter muita menção sobre ele nos livros atuais é complicado. Fica como dica para futuros leitores e uma crítica saudável dos atuais autores.
Antes de falar das principais características dos jogos é preciso entender o que significa as palavras que dão origem ao título do livro.
Luden é um termo em Latim que pode significar duas coisas. 1° Diversão ou 2° Aprender.
Para os romanos, aprender e se divertir não são termos nem condições dissociáveis. Quando as pessoas se divertem aprendem coisas e quem falar que aprender não pode ser divertido, precisa voltar pra escola 'romana clássica' para aprender a se divertir...
Sabendo que Luden é parte da origem do termo Lúdico (relativo a brincar, brinquedo, diversão ou divertimento) sobra outra relação: diversão vem de onde? Divertir, pelo dicionário, significa: desviar, distrair a atenção (de alguém, de si própria ou de algo) ou: fazer esquecer; fazer perder o hábito.
Dessa forma a relação entre Luden, aprender e divertir é? Aprender: adquirir conhecimento ou domínio (de assunto, matéria, etc.) através do estudo ou da prática (esportes); instruir-se; tornar-se hábil ou tornar-se capaz (de fazer algo) pouco a pouco.
A etimologia do termo homo vem do latim que é referente ao homem, ou indivíduo da espécie humana, ou seja, nós mesmos.
Com isso temos as origens dessas nossas palavras no Latim e com essa explanação será possível continuar com os conceitos e princípios dos jogos.
Toda atividade dita lúdica tem duas funções: ensinar e distrair. Se ensinar tem relação com aprender, distrair tem relação com divertir o que torna contextual o uso do termo Luden.
Jogos - Seus princípios
Originalmente, eu, com observação empírica dos jogos, com base nos meus comportamentos durante as partidas e dos meus amigos e familiares, com o passar dos anos, havia definido-os como: uma atividade repetitiva, que distrai os praticantes (e público), causa prazer, relaxa, melhora os reflexos, a maneira de pensar sobre aquela atividade executada a exaustão.
Infelizmente essa definição não abrange toda a complexidade do que são as atividades de jogos e como melhor podemos defini-las.
Huizinga coloca da seguinte forma: Jogos tem regras próprias, espaço, tempo e condicionais de término. Satisfaz seus participantes e pode ser interrompido e retomado a qualquer momento, sendo executado de forma espontânea pelas pessoas (indivíduos).
Diferente do que havia colocado como 'praticantes' Huizinga deixa claro que não são só os praticantes que participam dos jogos, o público é tão participante quanto os praticantes deixando claro que os jogos tem 2 grandes grupos: os praticantes e a plateia (o público).
Huizinga também claro que todo jogo é executado nas horas de ócio do ser humano. Além disso, jogo não pode gerar lucro de alguém ou alguns sobre outros, o que na realidade é um contra senso ao que os jogos movem, hoje, de recursos financeiros.
Disso é possível tirar a seguinte definição...
Jogos são: toda atividade repetitiva, que distrai os participantes (e/ou público), causa prazer, relaxamento, melhora dos reflexos e a maneira de pensar sobre aquela atividade - continuamente - executada a exaustão. Tem regras próprias, espaço, tempo e condicionais de término. Satisfaz seus participantes e pode ser interrompido e retomado a qualquer momento. É executado de forma espontânea e nas horas de ócio do indivíduo.
Desse jeito deixa-se claro que jogo não é uma atividade para retorno financeiro. Inevitavelmente a evolução das práticas esportivas, dos meios e coisas que geram entretenimento e podem levar o ser humano ao momento de ócio, é uma das mais retonsas do capitalismo. Como não estamos falando de economia, finanças ou investimento, o ponto financeiro dos jogos será ignorado. Porém, o estado - momento - de ócio é algo importante pois Domenico de Masi, filósofo italiano, define uma condição primordial do ser humano: ócio criativo. O ócio é uma condicional importante para se quebrar as rotinas de estudo e do trabalho que são altamente estressantes no mundo moderno/contemporâneo.
Como então levar em conta os fatores ócio e finanças sem dissocia-los? Complicado e não é a intenção desse trabalho porém disso é possível sair outro estudo "A importância do ócio para as atividades laborais e financeiras" mas não é o caso ainda.
Características Próprias
Pelo livro Homo ludens os jogos possuem características próprias sendo definidas as principais delas:
01) Ocorre dentro de um espaço físico, com regras próprias.
02) Atividade sujeita a ordens, se deixar de ser jogo, pode ser, no máximo, uma imitação forçada (de uma atividade).
03) A utilidade do jogo constitui uma petição de princípio, ou seja, segue pois criou regras claras.
04) Tem a função de ensinar aos participantes 'coisas' de forma lúdica (neste caso divertida).
05) Mesmo dentro de suas regras, é uma atividade livre e espontânea.
06) Para os adultos é uma ação que facilmente poderia ser dispensada, e é supérfluo.
07) Só se torna algo urgente na medida em que o prazer por ele provocado o transforma numa necessidade.
08) Pode-se, em qualquer momento, adiar ou suspender.
09) Jamais é imposto pela necessidade física ou pelo dever moral.
10) Nunca constitui uma tarefa ou obrigação e é sempre praticado nas “horas de ócio”.
Todos os jogos, no caso suas atividades, precisam ser divertidas para ambos os lados (praticantes e públicos). Nos praticantes: os 'jogadores' dos times precisam se divertir para aprender as coisas relacionadas a atividade caso contrário não haverá uma disputa (uma das funções estipuladas pelas regras). Com as condicionais de vitória e derrota, espaço, tempo e como cada praticante participa tem-se o jogo nas suas bases. No caso do público, o jogo precisa sempre gerar algo maior e melhor caso contrário gerará estresse, que é uma outra consequência das regras (a vitória, a alegria, e a derrota, frustração, de alguém).
Características Fundamentais
Com isso podemos levantar as características fundamentais dos jogos (também no livro):
1) O fato de ser livre, de ser ele próprio liberdade.
2) (intimamente ligada à primeira) o jogo não é vida “corrente” nem vida “real”, trata-se de uma evasão da vida “real” para uma esfera temporária de atividade com orientação própria.
3) O isolamento, a limitação. É “jogado até ao fim” dentro de certos limites de tempo e de espaço. Possui um caminho e um sentido próprios.
4) Ele cria ordem e é ordem. O caos da vida gera distúrbios e precisamos arruma-los. Jogo é a ordem dentro do distúrbio da vida cotidiana.
5) Jogo é tensão. Um jogo não competitivo não tem atratividade, não tem a desejada tensão.
6) Todo jogo tem suas regras. Sem as regras não se cria ordem ao caos. E sem a noção de ordem não há como definir o caos.
Conclusão
Até a página 30 do livro o autor se dedica a definição pura dos jogos e do comportamento das pessoas dentro desses limites, as regras dos jogos. Depois disso é um livro de exemplos e momentos onde a ordem precisa ser imposta (determinante) perante o caos dos homens e como os espaços (limites) e momentos (situações) diferentes do cotidiano (rotina), podem ser moldados (transformadas) e condicionadas (inseridas) aos comportamentos - coletivos e individuais - da própria sociedade (controle do caos comunal).
Leia-o sem compromisso com o seu trabalho e esteja preparado para se cansar. A obra não está dividida em capítulos claros e a continuidade do texto parece obra de Saramago, um único parágrafo.
Até o próximo livro
Ass.: Thiago Sardenberg
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