Coleção: Animação - Stop-motion - Barry Purves - Bookman - 2011

Estudar para o mestrado me fez ganhar ritmo de leitura. Continuar com os estudos, em inglês, me forçou a pensar em novas maneiras de colocar no papel algumas das ideias. Com o foco nos livros de design me veio a constância em ler livros técnicos e isso é bem cansativo. Devido a isso precisei mudar um pouco as leituras para romances diversos até porque só existem 2 tipos de livros, ou é romance ou é técnico.

Até que me veio uma vaga de trabalho - professor de animação 2D e roteiro para jogos digitais - mas era uma vaga em Goiânia então como ficariam os estudos para o mestrado em design? Decidi vir assim mesmo e concorrer a vaga. Com alguma experiência de sala de aula e em cursos de jogos digitais me fazia ver as coisas por um outro olhar. E o mestrado? Melhor esperar um pouco mas o blog continua e com ele novos livros pra ler. Resumir é uma das vantagens de se ter um blog literário sobre várias coisas que podem ser lidas.

O livro da vez...

Este eu peguei na própria Faculdade. Acabei demorando mais do que deveria até terminar e ao terminar vem o resumo. Pra entender animação é preciso entender de roteiro e produção audiovisual. Minha sorte foi ter feito trabalhos de edição de vídeo por 2 anos, o que me fez me adaptar rápido ao processo e ao livro que precisava ler. 

O livro conta com a vasta experiência do autor. Por já ter trabalhado na produção de Stop-motion, o livro é mais um guião de como preparar e executar o trabalho, prevendo os problemas, revolvendo coisas durante o processo do que realmente um passo-a-passo de como fazer animação. Tem dicas preciosas e importantes mas não é nada além disso. Um guia do mochileiro das animações Stop-motion, pode até ser mas não vai passar disso.

O conjunto crucial de dicas que importam são bem simples.

Animação é um trabalho lento, demorado, cansativo, solitário. Muitas vezes realizado por horas a fio sem ter quem fale com o animador. Em Stop-motion, essa situação se torna ainda mais evidente para os responsáveis pois os estúdios de animação podem ter tamanhos diversos e geralmente podem acabar sendo pequenos espaços para poucas pessoas que trabalham sozinhas com pouca interação entre elas. Junte a isso um aparato tecnológico de câmeras, tripés, luzes, bonecos, mesa, acessórios, cenários, posicionamento do animador, posicionamento dos objetos... Resultado, um local perfeito para quem gosta de monotonia.

Para quem se imagina fazendo trabalho de animação como as da Disney, realmente o livro é uma mão na roda pra falar "não pensem em Disney quando fizer animação Stop-motion, são públicos distintos" fora as técnicas, tecnologias e profissionais, também são diferentes.

A Fuga das Galinhas

Para os animadores tempo é tudo e na animação stop-motion, esse timing é muito mais lento e robusto em detalhes do que se imagina. 

Tudo que se aprende a fazer a mão, no papel com lapis, deve ser usado aqui porém com diferentes recursos, materiais e limitações dessa técnica.

A realidade almejada na animação 3D como a conhecemos, não é nem de perto o objetivo dessa animação. Quanto menos realista e mais emotiva, melhor.

Roteiro é tudo na animação. Na técnica do Stop-motion o posicionamento da câmera e os detalhes dos personagens são o ponto. Quanto melhor o enquadramento e a sutileza do movimento melhor pois mais perceptível e assimilável ele se tornará ao espectador.

Coraline - O mundo Secreto

Toda animação é um conjunto de outras animações em tempos diferentes na frente da câmera. No Stop-motion quanto menos houver de animações secundárias melhor. Não que não haja animações lindas e cheias de personagens ou menos complexas mas, neste caso, a complexidade é do tempo que cada item ficará na frente da câmera para se ajustar a percepção dos espectadores ao conteúdo que se está apresentando.

Faça um Storyboard e se possível um Animatic antes de começar a fazer o Stop-motion. Com esses dois documentos o trabalho fica mais fácil de ser realizado. Com o Storyboard se encontrar fica mais fácil pois trabalhar em variadas cenas por variadas pessoas em momentos distintos pode ser muito comum. Com o Animatic pode-se verificar se o tempo daquela cena ou posicionamento da câmera serão realmente as melhores opções.

Com a narrativa pronta e o roteiro escrito fazer as vozes é o próximo passo. Para os animadores novatos, imaginar que a animação vem antes das vozes, é bom estudar um pouco mais sobre seus processos. Com as vozes e diálogos definidos e gravados cabe ao animador fazer o movimento dos lábios dos personagens ser o mais fiel possível aos diálogos.

Wallace and Gromit

Quando se começa a fazer a animação é possível que um conjunto de músicas já estejam imaginadas porém defini-las é um problema porque nem todas as músicas funcionam com o projeto e as preferências dos produtores e, consequentemente dos animadores, são irrelevantes pois o que interessa é o trabalho final não os seus gostos pessoais. 

Uma das técnicas mais importantes é saber se serão feitos todos os quadros ou se serão feitos a metade para economizar tempo e recursos. Como esse tipo de escolha depende do orçamento do projeto é na ideação do mesmo que se define a quantidade de quadros. Dê preferência a técnica mais eficaz e não a mais fácil. Saber o que funciona é a melhor escolha do que fazer o que é mais fácil.

O objetivo das animações é contar histórias da vida, no Stop-motion é mostrar a vida. Mesmo com as imperfeições e restrições da técnica. E para que isso ocorra de forma agradável escolhe-se também a palheta de cores. Sem elas o trabalho pode ir inteiro para o lixo e recursos preciosos de tempo e material ser perdido.

As câmeras irão registrar a maioria das coisas importantes que estarão na animação final. Defina bem qual câmera usar, onde e como posicionar e acima de tudo, o que vai ser preciso colocar e manter nos cenários dessas histórias. Caso haja pouca variação melhor. Se houver muitas mudanças evite mover muito na câmera. Descubra ou desenvolva processos que facilite seu trabalho e mantenha a maioria dessas coisas o mais próximo possível do parado.

Mary And Max - Uma Amizade Diferente

Os materiais mais comuns são: massinha, bonecos articulados, tecidos, areia. A argila é bem aceita na cerâmica mas será que ela funciona para alguma coisa além de detalhes no cenário da animação? Dependendo do material é melhor não pensar muito, evite, pois é incomum.

Rostos, olhos e mãos são pontos cruciais na definição de telhes nas animações. Se estiver ocorrendo filmagem de coisas muito próximas esses elementos são essenciais. Se a animação permite o uso da câmera a longas distâncias, certos detalhes podem ser trabalhados de outras formas ou até mesmo ignorados pois não irão aparecer mesmo.

Foque os trabalhos em características cotidianas e de rápida assimilação pelo espectador. Se precisar de um cena específica defina os detalhes e se for só trabalhar com movimento dos personagens, a cena pode ser mais genérica porém, cena, diálogo, posição da câmera e diálogos (caso haja) é trabalho do roteiro.

Água é um problema. Dependendo do material usado para fazer o Stop-motion, elementos úmidos podem destruir o trabalho devido a algum acidente ou evento inesperado. Simule os líquidos com outros materiais e use o inusitado. 

Noiva Cadaver - Nightmare Before Christmas

Muitas cores nas cenas causará uma certa impressão que indica forte emoções, em contra partida poucas cores indicam situações menos agradáveis como um sonho ruim, pesadelo, situações sinistras ou temáticas conturbadas que a sociedade ainda não conseguiu digerir direito para ser comentado com certa naturalidade. Atenção nesses detalhes.

Acima de tudo, veja outras animações, de diferentes autores, lugares, épocas e técnicas para entender como fazer para contar sua história. Animação faz tanta parte do cinema quanto o teatro faz parte da expressão humana. Não é mais possível ver a sociedade sem esses elementos culturais que são tão importantes quanto a literatura e os jornais diários.

Conclusão...

Animação é um processo árduo. E para aqueles que pensam que é fácil, tira o cavalo da chuva E jogue na parede aquele vaso feio de plantas, que serve de enfeite na mesa da casa da avó, e está guardada no topo armário mais empoeirado da casa, pra ver se ele irá ficar inteiro depois do almoço de natal. Da mesma forma que todos os trabalhos dão trabalho, animação é um trabalho, digamos, bem trabalhoso. Demanda tempo e uma carga de esforço maior do que a maioria leiga imagina ser.

É bacana ser um animador? Sim e não. Sim porque temos bons trabalhos. Não porque a maioria foge do trabalho quando descobre quanto trabalho existe antes de ver o filme completo na tela do cinema.

Felizmente existem festivais de animação. Frequente-os, é uma ótima forma de aprender coisas sobre a vida e principalmente sobre animação.

Até o próximo livro.

Ass.: Thiago Sardenberg