A importância de uma Bibliografia base e a complementar

De todos os processos que participei para chegar a algum mestrado o mais chamativo foi o da EBA UFRJ. Devido a um detalhe importante deste edital faço uma critica saudável perante o seu processo de acesso.

Nos editais realizados nos últimos anos, e desde o primeiro, a que tive a oportunidade de participar, em nenhum deles existe uma bibliografia básica ou específica para se preparar às provas. 

Na época que participei deste processo, estava muito mais focado na temática do meu mestrado do que na temática da prova, o que são assuntos bem distintos, e devido a existência dessa diferença, além de não ter ido bem na prova, também não alcancei a devida concentração. Junte a isso uma falta de uma metodologia de estudos para me preparar às provas, o resultado dessa conjuntura toda foi um nervosismo descabido e uma infeliz confusão dos dois temas na realização da prova. 

Vive-se e aprende-se muito com essa vivência mas não é fácil superar a frustração do processo perdido e principalmente, analisar onde foi que errei.

A crítica saudável é em relação ao detalhe do edital e não ao que passei durante aquele processo.


O tal detalhe do edital...

Neste edital existem as seguintes temáticas: 1 – A relação entre o design e os movimentos políticos e sociais; 2 – Mídias e códigos visuais; 3 – Design e diversidade cultural; 4 – As relações entre o verbal e o visual no design; 5 – Design e poéticas contemporâneas; 6 – Design e cultura material. 

Sabendo quais e quantas são essas temáticas, ficaria até mais tranquilo arrumar os devidos documentos que seriam úteis para realizar os estudos entretanto não foi o que ocorreu. Existem textos específicos? Sim, existem, mas como realizar, durante uma prova de 4 horas, as associações que a banca pede entre as temáticas informadas? Além de precisar escrever tudo a mão rapidamente e com uma precisão impecável? Complexo esse problema fora que o próprio processo já é cansativo por natureza.

Editais da UERJ e UFRGS e a plataforma Sucupira

Pela plataforma Sucupira, o MEC deixa acessível todos os cursos autorizados e em funcionamento no Brasil, para se consultar em quais áreas estão concentrados; quantas são as faculdades e quantos cursos existem; e a classificação geral deles com suas respectivas notas e se são Mestrado Acadêmico e Profissional e ou Doutorado Acadêmico e Profissional também.

Diferenças a parte entre cada um desses cursos, para a validação do título, pelo MEC, não importa se é acadêmico ou profissional, o título é o mesmo para ambos os níveis.

A importância dessa plataforma é tamanha e ajuda a verificar onde o candidato pode realmente se dedicar a fazer os processos seletivos que além de ser uma mão na roda na filtragem de quais locais e regiões se encontram cada um desses também indica o tipo de curso pretendido. Uma atitude boa do MEC feita alguns anos atrás.

Dessa lista pude verificar, individualmente, cada uma das instituições e seus respectivos editais de acesso. Foi neste ponto que tanto a solução quanto o problema real apareceram.

São poucas as universidades que disponibilizam, em seus editais de mestrado / Doutorado em Design, alguma bibliografia de referência (um verdadeiro problema). Somente UERJ e UFRGS tinham editais “completos” para estudar sobre as principais temáticas do Design. Me basear nessas poucas opções foi a solução e delas pude expandir a bibliografia geral.

Ruim ou bom, as escolhas das universidades foram importantes para eliminar opções que, mesmo com sua importância e por existirem, não são tão relevantes para os candidatos que precisam / podem dedicar um bom tempo nos devidos estudos para realizar as provas.

Para entender mais sobre a bibliografia que precisei ler para me preparar acesse este link.

As temáticas da UFRJ no momento da prova

Com a definição dos livros - e temáticas - realizada pelos editais, o processo praticamente é o mesmo em todas as provas... Pagar a taxa do edital, entregar a documentação pedida junto com o pré-projeto, aguardar o retorno de confirmação de inscrição recebida e aceita, e no dia da prova, escrever muito nas 8 horas de duração (4 para temática e 4 para língua estrangeira) e dependendo do edital as duas provas são no mesmo dia.

Na UFRJ o processo seguiu assim: os seis temas foram colocados para sorteio, três dos candidatos foram chamados para realizar o sorteio dos papeis com os números dos temas e a prova seria escrever e relacionar de dois até os três temas sorteados num texto redigido que tenham coesão as ideias do candidato. A ordem dos temas estava escrito na folha que o candidato recebeu para escrever suas respostas e a prova ocorreria sem maiores problemas.

Mesmo com textos específicos explanando e explicando o que é cada um desses temas, esses documentos não seriam o bastante para realizar a prova com tranquilidade pois a falta de uma bibliografia específica dificulta o direcionamento dos estudos previamente realizados caso o candidato já estivesse alguns anos longe da sala de aula e atuando na profissão.

Constatando essa falta abrem-se outros problemas como: o que é cultura material? A bibliografia base indicou isso em variados livros. O que são posturas politicas do design? Foram poucos os textos, de autores clássicos, que comentam sobre politica e design ao mesmo tempo. E o que é Design e poéticas contemporâneas? Isso tem relação com o Brasil ou com o mundo?

Essas dúvidas podem aparecer a qualquer momento e não tê-las antes da prova foi um verdadeiro problema. Essa falta de discernimento me levou a confusão dos temas e a falta de leitura massiva sobre “o que é design?” também fez a situação toda piorar.

Se eu iria perder a prova? Isso era obvio. O quão ruim fui nela? Isso eu nunca soube. E foi bom não saber, o que me levou a critica saudável com relação ao processo, as temáticas e ao meu próprio modo de estudar.


Preparando-me para as novas provas

Assim que o processo terminou e continuei a estudar para a UERJ, na continuidade das leituras dos livros, pude ver os temas surgindo com o tempo. 

Autores como Victor Margolin e Adrian Forty falam de politica alinhada com o design em seus textos históricos. O livro Looking Closer descreve, por diferentes autores, como o design e cultura visual (escrita e desenho) se relacionam todo nos trabalhos do designer. As mídias são relacionadas com tudo o que é consumido pela população na cultura material, tanto de produtos e serviços como em sistemas de informação e comunicação em geral. As diversas culturas, ou seja, os países e suas línguas, tem sua forma de estudar e encarar o design e essa diversidade ajuda aos profissionais a perceber como a pluralidade de visões faz bem ao seu modo de trabalhar e chegar a soluções.

Design também tem relação direta aos projetos do dia-a-dia da indústria o que alimenta, diretamente, o consumo, ou seja, a cultura material. Projetar é fazer design e Mike Baxter, Nigel Cross, John Heskett, Brigette Mozzota, Bërnd Lobach falam de como a relação do design com a população e como as diversas empresas e indústrias podem levar a produção, de bens e serviços, a uma melhoria substancial do que é consumido pelas pessoas sem ser um absurdo de valor agregado ou padronizada demais e sem diferenciação.

A crítica saudável é justamente onde o edital pede “coisas” que os livros não dizem de forma explícita ou facilmente entendível e esse é o problema da temática “Design e poéticas contemporâneas”. Além de não ter informações relevantes com relação ao tema, também é genérico o bastante para não haver uma definição precisa. O que mais se aproximou de um exemplo foi o relato de um trabalho sobre o livro de Ítalo Calvino, Cidades Invisíveis, onde precisei procurar informações visuais sobre o que poderia ser esse livro e como a “poética no design” ou “design como poesia” ou algo semelhante a isso ocorre visualmente falando.

Conclusão...

Graças a outros editais pude estudar, em cerca de dois anos, o que precisava. Não que a faculdade não tenha feito isso porém não foi tão abrangente. A parte de visual, a relação entre o verbal e o não verbal, a diversidade das mídias e opções disponíveis isso foi bem abordado, porém o assunto Design vai muito além do que lembro da graduação e o que é realmente dito em livros. 

Design faz relação com consumo (cultura material), industrialização, comunicação, criação de serviços e produtos, e a facilitação da vida humana para que nós, pessoas, possamos dispor de mais tempo e recursos para nos dedicar a assuntos, atividades e movimentos que nos façam sentido e tenham relevância.

Design vai muito além do mero consumo de produtos industriais que cria sistemas de informação ou produtos jogados às lojas e são estimulados pela publicidade desenfreada para gerar um consumo cada vez maior.

Design tem muito mais relações abrangentes e indefinidas do que a cultura material e as politicas de estímulo a industrialização fazem na sociedade moderna e inevitavelmente, a indústria irá produzir muito lixo que é resultado residual da produção e do consumo mas que não era dada a devida importância porém começa a se tornar relevante aos consumidores.

Políticas públicas de redução do lixo produzido e descartado, sem a devida atenção para a agressão aos ambientes naturais já degradados que as fábricas e a população causou gerou numa série de medidas e conscientização por parte da população com relação ao que é e como é produzido pelas indústrias entretanto nem todos os países conseguem fazer e causar tal distinção internamente devido ao seu nível cultural e de consumo consciente que suas nações tem no atual momento.

Temática para textos novos em futuras explanações.

Ass.: Thiago Sardenberg

OBS.: Esse texto é apenas um esboço de uma ideia e se houver relevância para alguém, por favor, entre em contato. Se fizer republicação de algo escrito nele, por favor, dê os devidos créditos a este autor/estudante/profissional que dedicou tanto tempo aos estudos da área. Desde já grato pela consideração.

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