A Retórica, o discurso, e a temática do trabalho...

Com a quantidade de textos e livros que o mestrado obrigado os candidatos a estudar um detalhe em comum existe, entretanto este pode acabar passando despercebido pelos estudantes. No momento da prova escrita o que importa não é somente a opinião dos candidatos; se essa opinião será a favor ou contra a opinião da banca; e como ela é definida e dissertada no texto escrito. A retórica, ou seja, a oratória do discurso, precisa estar descrita no texto do candidato com clareza e objetividade para que os avaliadores possam classificar os pretendentes pela sua forma de colocar as ideias no papel e na norma culta da língua e não somente rebater ou apoiar a opinião da banca examinadora.


Mas afinal o que é retórica, o que é discurso e qual é a temática?

Ricardo Boechat, falecido jornalista da rede Bandeirantes, adorava essa palavra: retórica. Pela filosofia - retórica (que vem da oratória) - é a arte da eloquência; a arte de bem argumentar; arte da palavra falada e ou o conjunto de regras que constituem a arte do bem dizer; a oratória. Retórica tem relação com o discurso que é falado e não apenas ao que é ou foi escrito. O significado da palavra discurso é: a mensagem oral, solene e prolongada, que um orador profere perante uma assistência (um público, ou audiência). Temática é o conjunto dos temas que caracterizam uma obra (literária ou artística). É o ponto crucial do que compõe um todo ou uma parte de algo bem maior.

São palavras que definem uma série de conceitos e pressupostos com informações que os candidatos aos mestrados/doutorados precisam saber antecipadamente, caso contrário podem não chegar a um resultado satisfatório.

Durante a leitura dos textos técnicos essa distinção só se torna perceptível depois que os pensamentos dos autores, clássicos, modernos e contemporâneos, começam a se relacionar entre si, na mente dos leitores.

Porém, existem outros pontos que o texto das provas de acesso aos mestrados/doutorados precisam ter... Um é a opinião do candidato, o outro é fonte de referência e por ultimo a adjetivação no texto escrito. Para entender o que é cada um desses pontos que as provas pedem, vou por partes.

Diferenças entre opinião, referência e adjetivação...

Opinião é o modo de pensar de uma pessoa; aquilo que se pensa em relação a algum assunto. O julgamento, ou um determinado ponto de vista sobre variados assuntos; é uma avaliação sobre determinado tema. É a demonstração de um pensamento pessoal (particular) em relação algo e carrega, involuntariamente, uma avaliação. Confunde-se com o julgamento puro e simples (bom ou ruim, e semelhantes) e mesmo que essa opinião exista dentro do modo de pensar das pessoas, a mesma pode não querer passar esse julgamento no discurso. Porém opinião também é um julgamento, explícito ou implícito, nos discursos.

Referência é o ato ou efeito de referir, contar ou relatar. Fazer referências é indicar algo que alguém falou/escreveu previamente em algum local e indicar este faz parte da referenciação. Pode ser aquilo que se refere, conta, relata sobre algum assunto ou temática. Todas as provas de mestrado indicam uma bibliografia básica – a tal referência – e mesmo que esta bibliografia mude de tempos em tempos, ou não seja referenciada de forma explícita no edital de convocação, ela existe. É a partir dessa literatura que boa parte do que é pedido, na prova de acesso aos mestrados/doutorados, irá se basear, caso contrário ou a prova não tem uma temática definida (o que não é impossível de ocorrer) ou a falta de uma bibliografia técnica específica é um problema da área de atuação em estudo (o que também não é improvável de ocorrer).

Adjetivação é a ação ou efeito de adjetivar. Modificar um substantivo com um ou mais adjetivos, combinando-os entre si. Complementam o texto principal com informações que encorpam o trabalho e podem acrescentar opiniões – tanto do autor quanto do personagem da obra apresentada – mas inevitavelmente podem desnortear o escritor do assunto principal pois “floreia” demais seu trabalho. Nos textos de pré-projeto dos mestrados/doutorados, a adjetivação costuma causar problemas a quem escreve um trabalho acadêmico. Tecnicamente é um artifício da língua escrita, com um uso bem específico da norma culta, para “melhorar” o texto proposto porém pós-graduações não fazem trabalho literário livre porque elas tem regras e seguem o princípio do método científico que é específico e mais bem definido além do que é pedido numa obra literária com objetivos comerciais. As regras que regem um trabalho acadêmico são distintas em relação aos textos comerciais (jornais, revistas, romances, críticas).

Algumas curiosidades...

Esse texto começou a ser esboçado em um ponto onde os estudos para o mestrado me levaram ao final das bibliografias de referência. As seguintes universidades: UFRJ; UERJ; PUC Rio e UFRGS, tem suas bibliografias especificadas (itens 1; 4 e 7 das notas ao final) porém, de todas as instituições que tem mestrado/doutorado em design, são poucas as que definem os livros de referência.

Azar ou não ou apenas uma questão – de escolha – de deixar inacessíveis os editais de convocação para verificação de informações posteriormente, tal ato dessas instituições me levou a uma infeliz constatação: a maioria das universidades não define uma bibliografia definida de estudos para seus cursos de Pós-Graduação Stricto Senso. Coincidência ou não, não cabe aqui ressaltar mais do que isso (veja nota 1 ao final).

Conclusão

O que as provas de acesso pedem é um nível elevado de coerência no discurso dos candidatos. Através da sua norma culta de se expressar que não se pede normalmente no dia-a-dia da profissão, salvaguarda para os candidatos que vieram das áreas com licenciatura, o que não é o caso do Design e mesmo que tenha uma exceção numa universidade específica.

O trabalho de explanação das ideias e explicação delas é o grande objetivo da prova e para ser feita é preciso saber o que os diversos autores falam sobre a área de atuação.

Os editais costumam estipular os livros para ler porém eles não obrigam os candidatos a ficaram somente neles. Na hora da prova, a referência escrita de forma certa e com clareza, para a banca avaliar, é a maior dificuldade de se definir pois prova é prova e candidatos não deixam de ser alunos.

Enquanto alguns profissionais absorvem com rapidez e facilidade muitas opiniões diversas, que irão passar pelas suas memórias no momento da avaliação, como candidatos o nervosismo deles é inevitável pois estarão em uma prova.

Enfim, treine o seu discurso, faça textos e mais textos, com pontos de vista diferentes, avalie criticamente sua escrita, refaça os textos, peça a opinião de outros para saber se as ideias estão claras e objetivas e acima de tudo, tenha uma boa escrita de texto sem ser prolixo (repetitivo) ou com uma narrativa cansativa que causa morosidade na leitura da banca avaliadora.

Só com o devido treino se alcança o mestrado ou doutorado e o candidato aprovado vai ser cobrado e por isso é preciso treinar muito a escrita.

Ass.: Thiago Sardenberg


Notas:
1: Para verificar os cursos de design vá em: plataforma sucupira; cursos avaliados; por área de atuação; arquitetura, urbanismo e design; e depois Desenho Industrial. Nessa página irá encontrar parte dessas informações.

2: Quando terminei de ler os livros básicos e complementares desses estudos, comecei também a fazer referências internas aos mesmos, levantando as temáticas pertinentes que eram repetidas de forma a criar coerência nos discursos dos autores (outro futuro texto para este blog que vai gerar muito trabalho continuado de pesquisa).

3: Quem define em seu edital as temáticas de estudo, e não uma bibliografia, é a UFRJ. Por ter seis grandes temas de estudos, a lista de livros que precisei ler esbarra em cinco deles, sobrando apenas um deles, poética do design, para me dedicar de forma específica.

4: Os livros lidos nos últimos 2 anos para acessar o mestrado se encontra nesse link. Preferi fazer essa lista e deixa-la pública pois a leitura deles, de preferência a maioria, ajuda a entender mais sobre a área do Design.

5: Design carece de algumas definições básicas que poderiam simplificar os estudos dos candidatos e nortear os cursos de Mestrado e Doutorado com relação ao que cobrar deles nos processos seletivos porém, a falta de definição, é um problema que vem desde o final do século XIX e ainda não foi resolvido (outro futuro texto).

6: O problema da falta de documentação já foi verificado por diversos autores da área, e foi tema de texto em língua estrangeira para prova de tradução no processo de seleção. Já fiz uma prova onde o texto apresentado explanava a dificuldade de se encontrar documentos (livros, revistas ou artigos científicos) sobre como ocorrem os processos de escolha na produção da comunicação visual comercial. O texto estava em inglês.

7: Para conseguir encontrar alguns desses livros em PDF ou outro arquivo digital disponível, pode-se consultar a disponibilidade deles nos seguintes locais: Library Genesis; E-books-Cart; e Internet Archive

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