Design Industrial - Bërnd Lobach
Um dos poucos livros da bibliografia da ESDI que o português do Brasil é a língua da versão lida. Tirando este livro, só o Gestão do Design da Mozota e o Objetos de Desejo de Adrian Forty, todos os outros só estavam em inglês. Por sorte, o livro do Lobach também tem versão em espanhol que é facilmente encontrada pela internet em PDF.
Conceituando o Desenho Industrial e o Designer Industrial
O profissional de design conhecido como Designer Industrial é responsável pela materialização das demandas dos consumidores por novos produtos que satisfaçam suas vontades e desejos. Falar de Design Industrial é impossível quando não se coloca o consumidor/usuário de produtos industrializados; da indústria com sua pretensão de lucro devido o capitalismo exigir o aumento de riqueza e o barateamento de produção para maximização de retorno dos investimentos; e acima de tudo, o próprio Designer que é o intermediário entre a indústria produtora de bens duráveis e o consumidor que é o responsável pela manutenção das cadeias de consumo.
O grande trabalho do profissional denominado designer é equilibrar as demandas da produção, acelerada e exagerada, da indústria com impacto direto no meio ambiente e o quanto de novidades serão absorvidas pela população sem ser muito diferente das tradições que os mais velhos se agarram e valorizam. Enquanto não haviam mercados para produtos industrializados estabelecidos (veja o início da Revolução Industrial, na Inglaterra), haviam outros fatores que faziam o consumo ser diferente. O trabalhador assalariado não existia pois a escravidão era padrão; a parte rica da sociedade só pensava em criar/consumir itens específicos e de luxo; e a população padrão (a maioria da sociedade) não tinha capacidade financeira para criar demandas para consumir os bens (duráveis ou não, industrializados ou artesanais) da era pré-industrial.
Fatores do livro
O livro é um apanhado de conceitos e informações históricas da profissão do Design, desde a origem do termo, os primórdios, até os impactos sociais da profissão. Se o designer não estiver antenado a demandas e as tendências dos consumidores (independente da época ao qual este participa), a padronização que a indústria causa na produção de bens de consumo acabará por conduzir a produção aos itens cada vez mais semelhantes entre as fabricantes em que a baixa qualidade é um fator agravante e o consumidor por não ter escolhas melhores compra o que há, pois a produção prioriza o lucro da fabrica, enquanto aqueles profissionais que prezam pela qualidade e cobram preços exorbitantes, devido a produção específica, lenta e não padronizada, tende a criar itens de luxo e de arte que poucos poderão pagar por.
O que é design? Pelas palavras do livro “é uma ideia, um projeto ou um plano para a solução de um problema determinado. O design consistiria então na corporificação desta ideia para, com a ajuda dos meios correspondentes, permitir a sua transmissão aos outros. Já que nossa linguagem não é suficiente para tal, a confecção de croquis, projetos, amostras, modelos constitui o meio de tornar visualmente perceptível a solução de um determinado problema.”
A origem do termo alemão vai além e conduz a “Design = Configuração = Gestaltung (origem alemã) a configuração como conceito geral mais amplo...” e continua “Configuração de Produtos Industriais - Esta seria uma tradução adequada de Design Industrial já que ela contém todos os aspectos essenciais.”
O Homem em Sociedade e na Sociedade Industrial
O ser humano, ou bicho homem, é um ser consciente de suas tarefas e funções. Tirando suas ações instintivas como: se alimentar; se proteger dos perigos; soltar excrementos; e se reproduzir (como todo animal e planta fazem normalmente) o ser humano é dotado de capacidades interpretativas e acúmulo de conhecimento que de tempos em tempo o faz evoluir de um estado primitivo e animal para um estado avançado de modelador do seu próprio ambiente.
Lobach escreve no livro “O homem como indivíduo tende a ver primeiramente os problemas da vida, com os quais é diretamente confrontado, ou nos quais esteja envolvido. Porém o indivíduo com seus problemas particulares é somente uma parte ínfima do grande complexo que é a sociedade. Quase tudo que nos rodeia tem sua origem na sociedade. Por isso toda consideração parcial, como a aqui apresentada do design industrial, só se tornará inteligível em seu conjunto quando seu desenvolvimento se der fora das relações com a sociedade.”
A materialização de soluções dos problemas só é percebida quando o homem é confrontado com problemas aos quais não pode superar naquele momento e precisa pensar e construir. A primeira necessidade do homem, fora suas necessidades naturais, é alcançar sua satisfação. Sem satisfazer os seus próprios desejos o homem pararia de correr e não o faz para se satisfazer.
“Correspondendo às múltiplas necessidades do homem, a materialização de ideias para a satisfação dessas necessidades conduz à produção de diversos objetos, que podem se classificar em quatro categorias”
1) Objetos naturais -> em abundância sem influência do homem
2) Natureza modificada como objeto -> artefatos rústicos / estéticos / exóticos
3) Objetos artísticos -> estéticos de fabricação própria com intuito de sobreposição ao outro
4) Objetos de uso -> utensílios / manufaturados
Quando o autor define os princípios de objetos que podem satisfazer as necessidades humanas tudo o que for criado pelo homem será classificado e ordenado em uma dessas 4 grandes possibilidades.
Filosofia e Sociedade
Quando a industrialização se torna padrão, novos produtos surgem e com eles novas classificações também ocorrem. Ao definir os tipos de produto como itens de consumo as relações do indivíduo com a industrialização se torna mais intensa e a sociedade se transforma. Os produtos de consumo se tornam itens de desejo em algumas categorias. De uso individual, de uso de determinados grupos e para uso indireto (coletivo ou não) formam uma gama de opções.
Loback faz uma referencia importante sobre como a filosofia definiu a industrialização e usa como exemplo as ideias do filósofo alemão Eric J. Hobsbawm ao falar “O intercâmbio de matérias-primas de além-mar, principalmente o algodão, por produtos da indústria britânica, formaram as bases para as relações econômicas mundiais. A indústria britânica se desenvolveu em virtude deste intercâmbio com o além-mar. A importação do algodão bruto favorecia as manufaturas têxteis de Manchester.” E continua “Eric J. Hobsbawm designou esta expansão da indústria têxtil entre 1780 e 1840 como sendo a primeira fase da Revolução Industrial da Grã-Bretanha. [...] Para a configuração de produtos industriais, o desenvolvimento da indústria têxtil é menos interessante que a época seguinte, quando houve desenvolvimento das indústrias de bens de produção e construção das estradas de ferro, entre 1840 e 1895. Hobsbawm a chama de segunda fase da Revolução Industrial da Grã-Bretanha.”
Mudança de século do XIX para XX e além...
Sem uma função prática definida o designer de sistemas e de produtos industriais não tem um objetivo concreto além de ser uma das peças da produção industrial onde a mesma, por ser acelerada, prioriza o lucro das fabricas. O designer só se torna consciente de sua tarefa quando o sistema de trabalho vigente se torna o assalariado. A população passa a consumir por ter recursos financeiros e como não existe mercado de consumo abrem-se novas opções de trabalho, tanto na indústria para produzir itens diversos, quanto no comércio e nos serviços urbanos, onde a massa da população cresce devido aos benefícios e praticidades que a industrialização desenvolve.
É verdade que durante a primeira fase da R.I. o aviltamento social era parte da realidade. Onde uma família de muitas pessoas e moravam numa residência humilde de uma das várias cidades industriais em que as fábricas precisavam de mão-de-obra abundante e pagavam pouco por essa mão-de-obra. Ao se organizarem em sindicatos e se movimentarem por melhores salários, condições menos degradantes de trabalho e jornadas de trabalho menores com direito a férias e outros benefícios o enriquecimento da população foi inevitável. Disso o consumo se estabilizou e novas demandas surgiram. Loback comenta “Depois da virada do século, o incremento do poder aquisitivo da população trabalhadora, se desenvolveu e a indústria de bens de consumo, cujos produtos fabricados em massa, tinham cada vez maior aceitação. Em sua maioria, foram produtos cujo uso podia satisfazer às necessidades cotidianas da vida... Desde a fundação da Bauhaus em 1919, com a troca do nome da instituição e a nomeação de Walter Gropius como seu diretor, muito se escreveu e publicou sobre a Bauhaus.”
Uma das consequências da população que nasceu e viveu em cidades após a industrialização foi a criação de escolas (públicas e provadas) e das faculdades e universidades (um dos muitos chamariz das grandes cidades antigas). Mesmo antes da industrialização, cidades enormes já existiam e nelas surgiram outras atividades como professores, comerciantes, artesãos, servidores públicos, burocratas, banqueiros entre tantas outras profissões. A realidade da indústria foi inevitável e “O objetivo da Bauhaus era reunir todas as disciplinas artesanais e artísticas, da construção, como uma unidade sob a primazia da arquitetura. O modelo eram os mestres de obra das catedrais da Idade Média, onde se reuniam todas as disciplinas da construção. De acordo com esta ideia, na Bauhaus existiam as mais diversas oficinas.”
Comportamento e tendências sociais
A escola Bauhaus foi um marco tanto na história alemã, quanto na história da industrialização durante o século XX quanto no Design Industrial pois estipulou um formato de ensino que serviu de base para outras escolas posteriormente. A função dos produtos em sua simplicidade e objetividade direcionada deram as regras da metade do século XX na indústria que foi seguida para além da segunda metade. No século XXI tanto os itens simples quanto os complexos, os menos simbólicos quanto os mais simbólicos tem espaço e são consumidos normalmente.
Os itens criados pela indústria, além de serem “desejados” também representavam diferenciação interna das sociedades humanas. Pela população se dividir em grupos que tem interesses comuns, certos comportamentos ditam as regras nesses grupos. Os itens de consumo podem ser divididos entre: itens de prestígio e itens simbólicos. Os simbólicos representam lugares, coisas enquanto os de prestígio quantidade de recursos financeiros ou a intelectualidade do portador são relevantes para um ou mais grupos aos quais estes símbolos são aceitos e reconhecidos.
Afinal, o que o designer é e faz?
“... espera-se que o designer industrial produza soluções novas para produtos industriais. O designer pode ser considerado como produtor de ideias, recolhendo informações e utilizando-as na solução de problemas que lhe são apresentados. Além de sua capacidade intelectual e de reunir informações e utilizá-las em diversas situações, deve possuir capacidade criativa. A criatividade do designer industrial se manifesta quando, baseando-se em seus conhecimentos e experiências, for capaz de associar determinadas informações com um problema, estabelecendo novas relações entre elas. Para isto é necessário observar fatos conhecidos sob novos pontos de vista, abandonando-se a segurança daquilo que é conhecido e comprovado, por uma postura crítica em busca de novas respostas a antigos problemas. A originalidade que se exige do designer industrial para conceber produtos inéditos deve-se ao imperativo cada vez maior da novidade como arma poderosa para superar a situação competitiva do mercado. Para que o designer industrial possa desenvolver ideias originais e transformá-las em um produto inovador, são necessários alguns requisitos.” ao definir o que o Designer deve fazer Lobach é categórico pois existe um processo a ser passado antes, durante e depois do trabalho.
Fase 1: Análise do problema. Existe um problema? Analise-o sem pensar muito na solução. Depois vem a Fase 2: Geração de alternativas. Nenhuma alternativa é ideal, todas elas são válidas, algumas melhores do que outras. Acontece na Fase 3: Avaliação das alternativas, ao se chegar em resultados visíveis e palpáveis, a solução ainda não existe mas algumas alternativas já serão conhecidas e poderão ser trabalhadas. A ultima fase, a Fase 4: Realização da solução do problema, é a parte onde a junção de todas as opções menos problemáticas e mais adequadas ocorre. Por já terem sido testadas anteriormente, as melhores serão agrupadas para se gerar o produto final.
Conclusão
O trabalho do designer não é tão simples quanto se pensa e nem um pouco fácil de ser definido teórica e praticamente. São tantos detalhes importantes que levam a diversas conclusões pouco adequadas a realidade do profissional que uma definição concreta, objetiva e auto explicativa deixa de existir. Devido a esta falta de definição do termo e da complexa sociedade ao qual convivemos, cheia de hábitos e comportamentos voláteis, a indústria também é uma resposta natural dessa complexidade que o bicho homem atual demonstra e assimila.
Se o termo tem sua dificuldade de definição, imagina explicar isso tudo em poucas palavras? É muito melhor ler o livro e aprender com ela o que nem todos consegue explicar.
Até o próximo livro.
Ass.: Thiago C. Sardenberg
Conceituando o Desenho Industrial e o Designer Industrial
O profissional de design conhecido como Designer Industrial é responsável pela materialização das demandas dos consumidores por novos produtos que satisfaçam suas vontades e desejos. Falar de Design Industrial é impossível quando não se coloca o consumidor/usuário de produtos industrializados; da indústria com sua pretensão de lucro devido o capitalismo exigir o aumento de riqueza e o barateamento de produção para maximização de retorno dos investimentos; e acima de tudo, o próprio Designer que é o intermediário entre a indústria produtora de bens duráveis e o consumidor que é o responsável pela manutenção das cadeias de consumo.
O grande trabalho do profissional denominado designer é equilibrar as demandas da produção, acelerada e exagerada, da indústria com impacto direto no meio ambiente e o quanto de novidades serão absorvidas pela população sem ser muito diferente das tradições que os mais velhos se agarram e valorizam. Enquanto não haviam mercados para produtos industrializados estabelecidos (veja o início da Revolução Industrial, na Inglaterra), haviam outros fatores que faziam o consumo ser diferente. O trabalhador assalariado não existia pois a escravidão era padrão; a parte rica da sociedade só pensava em criar/consumir itens específicos e de luxo; e a população padrão (a maioria da sociedade) não tinha capacidade financeira para criar demandas para consumir os bens (duráveis ou não, industrializados ou artesanais) da era pré-industrial.
Fatores do livro
O livro é um apanhado de conceitos e informações históricas da profissão do Design, desde a origem do termo, os primórdios, até os impactos sociais da profissão. Se o designer não estiver antenado a demandas e as tendências dos consumidores (independente da época ao qual este participa), a padronização que a indústria causa na produção de bens de consumo acabará por conduzir a produção aos itens cada vez mais semelhantes entre as fabricantes em que a baixa qualidade é um fator agravante e o consumidor por não ter escolhas melhores compra o que há, pois a produção prioriza o lucro da fabrica, enquanto aqueles profissionais que prezam pela qualidade e cobram preços exorbitantes, devido a produção específica, lenta e não padronizada, tende a criar itens de luxo e de arte que poucos poderão pagar por.
O que é design? Pelas palavras do livro “é uma ideia, um projeto ou um plano para a solução de um problema determinado. O design consistiria então na corporificação desta ideia para, com a ajuda dos meios correspondentes, permitir a sua transmissão aos outros. Já que nossa linguagem não é suficiente para tal, a confecção de croquis, projetos, amostras, modelos constitui o meio de tornar visualmente perceptível a solução de um determinado problema.”
A origem do termo alemão vai além e conduz a “Design = Configuração = Gestaltung (origem alemã) a configuração como conceito geral mais amplo...” e continua “Configuração de Produtos Industriais - Esta seria uma tradução adequada de Design Industrial já que ela contém todos os aspectos essenciais.”
O Homem em Sociedade e na Sociedade Industrial
O ser humano, ou bicho homem, é um ser consciente de suas tarefas e funções. Tirando suas ações instintivas como: se alimentar; se proteger dos perigos; soltar excrementos; e se reproduzir (como todo animal e planta fazem normalmente) o ser humano é dotado de capacidades interpretativas e acúmulo de conhecimento que de tempos em tempo o faz evoluir de um estado primitivo e animal para um estado avançado de modelador do seu próprio ambiente.
Lobach escreve no livro “O homem como indivíduo tende a ver primeiramente os problemas da vida, com os quais é diretamente confrontado, ou nos quais esteja envolvido. Porém o indivíduo com seus problemas particulares é somente uma parte ínfima do grande complexo que é a sociedade. Quase tudo que nos rodeia tem sua origem na sociedade. Por isso toda consideração parcial, como a aqui apresentada do design industrial, só se tornará inteligível em seu conjunto quando seu desenvolvimento se der fora das relações com a sociedade.”
A materialização de soluções dos problemas só é percebida quando o homem é confrontado com problemas aos quais não pode superar naquele momento e precisa pensar e construir. A primeira necessidade do homem, fora suas necessidades naturais, é alcançar sua satisfação. Sem satisfazer os seus próprios desejos o homem pararia de correr e não o faz para se satisfazer.
“Correspondendo às múltiplas necessidades do homem, a materialização de ideias para a satisfação dessas necessidades conduz à produção de diversos objetos, que podem se classificar em quatro categorias”
1) Objetos naturais -> em abundância sem influência do homem
2) Natureza modificada como objeto -> artefatos rústicos / estéticos / exóticos
3) Objetos artísticos -> estéticos de fabricação própria com intuito de sobreposição ao outro
4) Objetos de uso -> utensílios / manufaturados
Quando o autor define os princípios de objetos que podem satisfazer as necessidades humanas tudo o que for criado pelo homem será classificado e ordenado em uma dessas 4 grandes possibilidades.
Filosofia e Sociedade
Quando a industrialização se torna padrão, novos produtos surgem e com eles novas classificações também ocorrem. Ao definir os tipos de produto como itens de consumo as relações do indivíduo com a industrialização se torna mais intensa e a sociedade se transforma. Os produtos de consumo se tornam itens de desejo em algumas categorias. De uso individual, de uso de determinados grupos e para uso indireto (coletivo ou não) formam uma gama de opções.
Loback faz uma referencia importante sobre como a filosofia definiu a industrialização e usa como exemplo as ideias do filósofo alemão Eric J. Hobsbawm ao falar “O intercâmbio de matérias-primas de além-mar, principalmente o algodão, por produtos da indústria britânica, formaram as bases para as relações econômicas mundiais. A indústria britânica se desenvolveu em virtude deste intercâmbio com o além-mar. A importação do algodão bruto favorecia as manufaturas têxteis de Manchester.” E continua “Eric J. Hobsbawm designou esta expansão da indústria têxtil entre 1780 e 1840 como sendo a primeira fase da Revolução Industrial da Grã-Bretanha. [...] Para a configuração de produtos industriais, o desenvolvimento da indústria têxtil é menos interessante que a época seguinte, quando houve desenvolvimento das indústrias de bens de produção e construção das estradas de ferro, entre 1840 e 1895. Hobsbawm a chama de segunda fase da Revolução Industrial da Grã-Bretanha.”
Mudança de século do XIX para XX e além...
Sem uma função prática definida o designer de sistemas e de produtos industriais não tem um objetivo concreto além de ser uma das peças da produção industrial onde a mesma, por ser acelerada, prioriza o lucro das fabricas. O designer só se torna consciente de sua tarefa quando o sistema de trabalho vigente se torna o assalariado. A população passa a consumir por ter recursos financeiros e como não existe mercado de consumo abrem-se novas opções de trabalho, tanto na indústria para produzir itens diversos, quanto no comércio e nos serviços urbanos, onde a massa da população cresce devido aos benefícios e praticidades que a industrialização desenvolve.
É verdade que durante a primeira fase da R.I. o aviltamento social era parte da realidade. Onde uma família de muitas pessoas e moravam numa residência humilde de uma das várias cidades industriais em que as fábricas precisavam de mão-de-obra abundante e pagavam pouco por essa mão-de-obra. Ao se organizarem em sindicatos e se movimentarem por melhores salários, condições menos degradantes de trabalho e jornadas de trabalho menores com direito a férias e outros benefícios o enriquecimento da população foi inevitável. Disso o consumo se estabilizou e novas demandas surgiram. Loback comenta “Depois da virada do século, o incremento do poder aquisitivo da população trabalhadora, se desenvolveu e a indústria de bens de consumo, cujos produtos fabricados em massa, tinham cada vez maior aceitação. Em sua maioria, foram produtos cujo uso podia satisfazer às necessidades cotidianas da vida... Desde a fundação da Bauhaus em 1919, com a troca do nome da instituição e a nomeação de Walter Gropius como seu diretor, muito se escreveu e publicou sobre a Bauhaus.”
Uma das consequências da população que nasceu e viveu em cidades após a industrialização foi a criação de escolas (públicas e provadas) e das faculdades e universidades (um dos muitos chamariz das grandes cidades antigas). Mesmo antes da industrialização, cidades enormes já existiam e nelas surgiram outras atividades como professores, comerciantes, artesãos, servidores públicos, burocratas, banqueiros entre tantas outras profissões. A realidade da indústria foi inevitável e “O objetivo da Bauhaus era reunir todas as disciplinas artesanais e artísticas, da construção, como uma unidade sob a primazia da arquitetura. O modelo eram os mestres de obra das catedrais da Idade Média, onde se reuniam todas as disciplinas da construção. De acordo com esta ideia, na Bauhaus existiam as mais diversas oficinas.”
Comportamento e tendências sociais
A escola Bauhaus foi um marco tanto na história alemã, quanto na história da industrialização durante o século XX quanto no Design Industrial pois estipulou um formato de ensino que serviu de base para outras escolas posteriormente. A função dos produtos em sua simplicidade e objetividade direcionada deram as regras da metade do século XX na indústria que foi seguida para além da segunda metade. No século XXI tanto os itens simples quanto os complexos, os menos simbólicos quanto os mais simbólicos tem espaço e são consumidos normalmente.
Os itens criados pela indústria, além de serem “desejados” também representavam diferenciação interna das sociedades humanas. Pela população se dividir em grupos que tem interesses comuns, certos comportamentos ditam as regras nesses grupos. Os itens de consumo podem ser divididos entre: itens de prestígio e itens simbólicos. Os simbólicos representam lugares, coisas enquanto os de prestígio quantidade de recursos financeiros ou a intelectualidade do portador são relevantes para um ou mais grupos aos quais estes símbolos são aceitos e reconhecidos.
Afinal, o que o designer é e faz?
“... espera-se que o designer industrial produza soluções novas para produtos industriais. O designer pode ser considerado como produtor de ideias, recolhendo informações e utilizando-as na solução de problemas que lhe são apresentados. Além de sua capacidade intelectual e de reunir informações e utilizá-las em diversas situações, deve possuir capacidade criativa. A criatividade do designer industrial se manifesta quando, baseando-se em seus conhecimentos e experiências, for capaz de associar determinadas informações com um problema, estabelecendo novas relações entre elas. Para isto é necessário observar fatos conhecidos sob novos pontos de vista, abandonando-se a segurança daquilo que é conhecido e comprovado, por uma postura crítica em busca de novas respostas a antigos problemas. A originalidade que se exige do designer industrial para conceber produtos inéditos deve-se ao imperativo cada vez maior da novidade como arma poderosa para superar a situação competitiva do mercado. Para que o designer industrial possa desenvolver ideias originais e transformá-las em um produto inovador, são necessários alguns requisitos.” ao definir o que o Designer deve fazer Lobach é categórico pois existe um processo a ser passado antes, durante e depois do trabalho.
Fase 1: Análise do problema. Existe um problema? Analise-o sem pensar muito na solução. Depois vem a Fase 2: Geração de alternativas. Nenhuma alternativa é ideal, todas elas são válidas, algumas melhores do que outras. Acontece na Fase 3: Avaliação das alternativas, ao se chegar em resultados visíveis e palpáveis, a solução ainda não existe mas algumas alternativas já serão conhecidas e poderão ser trabalhadas. A ultima fase, a Fase 4: Realização da solução do problema, é a parte onde a junção de todas as opções menos problemáticas e mais adequadas ocorre. Por já terem sido testadas anteriormente, as melhores serão agrupadas para se gerar o produto final.
Conclusão
O trabalho do designer não é tão simples quanto se pensa e nem um pouco fácil de ser definido teórica e praticamente. São tantos detalhes importantes que levam a diversas conclusões pouco adequadas a realidade do profissional que uma definição concreta, objetiva e auto explicativa deixa de existir. Devido a esta falta de definição do termo e da complexa sociedade ao qual convivemos, cheia de hábitos e comportamentos voláteis, a indústria também é uma resposta natural dessa complexidade que o bicho homem atual demonstra e assimila.
Se o termo tem sua dificuldade de definição, imagina explicar isso tudo em poucas palavras? É muito melhor ler o livro e aprender com ela o que nem todos consegue explicar.
Até o próximo livro.
Ass.: Thiago C. Sardenberg
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