Introdução ao projeto de pesquisa científica

Durante o processo de estudos para o mestrado, uma situação peculiar ocorreu. A EBA/UFRJ não tem uma bibliografia definida para o mestrado em design apenas temáticas específicas. Acreditava que esta seria alterada depois das primeiras turmas terem participado do processo (o que por enquanto não ocorreu). Na PUC-Rio não tem uma bibliografia definida para qualquer curso de mestrado ou doutorado apenas uma lista de livros chaves para se ler e ter como base técnica para escrever tanto o pré-projeto de pesquisa quanto o projeto final (este que será realizado durante o curso de mestrado ou doutorado). A parte estranha é que na PUC-Rio é a mesma lista de livros para todos os cursos de mestrado ou doutorado.

Ao começar a procurar os livros e seus resumos, encontrei um deles para ler em um sebo perto de casa. Como me interessei pelo conteúdo (pois me ajudaria a escrever tanto o pré-projeto para a ESDI/UERJ como serve de base teórica para qualquer projeto) fui lê-lo.

A variação de edições não significa mudar de capa, apenas que uma delas é mais atual que a outra.

O que o livro fala

O livro desse texto é um exemplo de como as coisas relacionadas a pesquisa científica nada tem relação com a nossa visão de realidade. Além de destoar bastante com o que estamos acostumados a trabalhar, no quesito de conceitos os nós que ele cria em nossos neurônios é bem tenso de ser desfeito. Vemos o mundo de uma forma, analisamos de outra, e escrevemos sobre ele de uma terceira forma.

Se fizer esse trabalho academicamente falando, o problema é ainda pior pois exige muito tempo, uma dedicação quase exclusiva para a pesquisa, uma coleta e análise de dados extremamente definida e, acima de tudo, conclusões onde outros,  por seguirem os mesmos passos dessa pesquisa, podem chegar e ultrapassa-los enquanto que os dados apresentados anteriormente, em outras pesquisas, continuarão a estar disponíveis para futuras consultas e retrabalhos.

Esse ó o ponto do livro: definir, delimitar, conceituar e estruturar, na mente dos estudantes e interessados, como se deve fazer o trabalho de pesquisa.

Conceitos para a Pesquisa

Os conceitos apresentados, a partir de palavras chaves conhecidas (pelo público) ou relevantes (para a maioria dos acadêmicos ou cientistas), se tornam um emaranhado de termos perdidos devido ao seu significado científico ser um tanto diferente do que é conhecido popularmente.

O autor dedica parte do livro em explicar como esses termos, bem comuns, na maioria, devem ser usados pelos acadêmicos e qual o significado deles para a ciência. De forma geral o significado destas palavras, pelos dicionários, até existem mas costumam atrapalham mais a pesquisa científica do que a colocar os devidos vagões nos trilhos certos. Os significados podem até a ajudar mas não irão servir muito além do que a maioria já sabe normalmente.

Num primeiro momento o livro aparenta ser uma obra fora da caixa de tão complicado que é para entender o que está escrito em suas páginas (principalmente para os marujos de primeiras viagens). É preciso ter muitas horas de leitura (técnica, romances e a mais diversificada possível) para começar a entender o que o autor quer e pretende trabalhar.

É preciso ter um bom conhecimento de vocabulário para se ter noção real da extensão do trabalho. O autor não vai medir esforços para deixar sua massa cefálica atordoada. É isso que a pesquisa acadêmica pede e ele vai exigir, no mínimo, o mesmo e isto é ótimo pois se não houver preparo para tal, o candidato vai morrer tentando (e eu sofri isso de certa forma).

Num segundo momento, depois de explicar ao leitor os motivos da obra, o autor se debruça em esmiuçar o que a pesquisa cientifica pede e quer dos estudantes (tanto de mestrado quanto de doutorado). A academia pede uma organização extrema e métodos de trabalhos fechados e definidos para se chegar nos dados necessários que serão usados para se criar as relações e inter-relações que serão as bases técnicas e estatísticas para se escrever sobre o conteúdo pesquisado. Ter uma ideia vaga e sem efeito de causa mais atrapalha e confunde o estudante do que ajuda.

O que a academia precisa é saber se “Estudo A + Estudo B chegam no resultado C?” ou “Como os estudos A e B podem chegar no resultado C?” entre outras formas de fazer as perguntas básicas. Se for preciso repensá-las e adaptar a proposta inicial da pesquisa para se chegar em um grupo de fatores que justifiquem aquele trabalho, é algo possível e que ocorre muitas vezes, mas não é obrigatório ou que ocorra em 100% dos casos.

A proposta do livro é justamente essa, organizar tecnicamente as ideias que nortearão o trabalho.

Nomeando e Montando a Pesquisa

Num terceiro momento o autor coloca uma sequencia de perguntas que não ajudam a definir o trabalho apresentado e que devem ser tão importantes quanto suas respectivas pesquisas. Redefini-las, além de especificar melhor o trabalho, ajuda a organizar o pensamento do pesquisador em como falar com os leitores aquilo que ele mesmo esteve pesquisando e apresenta naquele trabalho.

A pergunta apresentada (não com esses termos mas com essa intenção) “para que serve o nome da pesquisa?” é o ponto chave da obra e a partir dela, junto com o levantamento de dados, a análise destes dados e a definição de conceitos para se delimitar um campo de atuação e dentro deste campo os motivos da pesquisa passam a fazer parte de uma única proposta de trabalho.

Ao final de todo esse processo, o autor ainda apresenta como fazer a pesquisa para se gerar as estatísticas regentes do trabalho e como organizar o retorno dessas estatísticas para se gerir o resultado causado por elas (independente de quais e quantos sejam eles). Desse resultado, as conclusões preliminares.

Após as conclusões preliminares, a conclusão real do trabalho como um todo só acontece depois de serem feitas as inter-relações dessas informações. Só se saberá aonde a pesquisa chegou quando se junta tudo o que foi pesquisado, eliminando o que não serve, e filtrado e organizado todo o restante. É bom lembrar, não gerar resultados, num determinado momento, também é algo possível para a pesquisa científica.

No anexo, ainda sobra um espaço importante para se ter acesso a um modelo de projeto de pesquisa com as perguntas básicas que precisam ser respondidas, antes, durante e depois desse trabalho. Para os candidatos, novatos e não tão iniciantes assim, é algo crucial para começar a organizar suas ideias.

Conclusão

A obra não se limita a seus pormenores. Ela é a proposta de trabalho mais coerente possível para ajudar os estudantes a como se organizar para realizar os seus trabalhos acadêmicos.

A intenção não é assustar o leitor, mesmo que o faça nos primeiros momentos da leitura. O livro, ao menos demonstra, tecnicamente, o porque de tantos candidatos não passarem nas primeiras tentativas, pois o trabalho é árduo e cansativo no decorrer destes processos.

Uma obra que é atualizada regularmente (li a 35ª edição, de 2008) onde uma nova edição chega as livrarias com certa facilidade. E para justificar sua função só quem passou pelos processos de mestrado e doutorado vão entender o porque deles serem tão concorridos e perversos.

Para quem sentiu medo do livro (e consequentemente, do processo de classificação do mestrado e do doutorado), fique tranquilo, você não é o único, não será o último nem o primeiro a sentir esse “frio na barriga”. Ele é comum.

É um livro de cabeceira? Não! Nem um pouco. Mas durante alguns meses deve ser, inevitavelmente, para acompanhar os candidatos a esses cursos a terem real consciência daquilo que os espera, e qual é o tamanho da bomba que vão carregar por 2 ou 4 anos seguidos antes de bater o desespero e pedir para jogar a toalha.

Então não desista pois é temporário, e o retorno pode ser melhor que o esperado.

Até o próximo livro.
Ass.: Thiago CS

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