Como os designers pensam e trabalham



Com a perda das quatro provas de mestrado no ano passado (2017 foi um ano daqueles) só me restava fazer uma coisa: estudar muito mais do que já havia estudado. A temática estava definida faltava escolher a instituição de mestrado que queria fazer. Não foi uma ou outra pessoa que me disse que era um processo demorado. Várias falaram que foram mais de uma tentativa realizada para chegar ao mestrado. Dito e feito descobri isso na pratica.

Entre todos os cursos de Design no RJ com processo de mestrado e/ou doutorado, a UFRJ, a UERJ e a PUC são as instituições que tem mestrado entretanto, só na ESDI havia uma certa organização mais coerente do conteúdo da bibliografia que era pedida aos candidatos no período de inscrição. E depois das bofetadas que tive, a escolha foi: ou é a ESDI ou é nada feito. Com essa escolha voltei para a bibliografia. Destrinchar os livros dela que para a minha surpresa, só tem 6 livros. Achá-los em inglês foi fácil problema foi encontrar algum em espanhol e tentar achar em português. Para minha sorte, ao menos 2 haviam em nosso português tupiniquim.

O 1º livro lido (em português) foi “Gestão do design”, da Mozota, (clique aqui para ler o resumo do mesmo) é desnecessário falar dele porém o 2º livro que li esse foi uma grata surpresa. Devido a circunstancias diversas, preferi continuar a leitura bibliografia pelos livros menores para ganhar ritmo de leitura (na língua inglesa) e um desses livros pequenos menores foi o de Nigel Cross – Design Thinking, Undestanding How Designer Think & Work que é o real tema dessa publicação.

Design Thinking, Undestanding How Designer Think & Work

O livro é um pequeno apanhado de relatos de experiências de alguns designers que o autor fez em diferentes épocas, indústrias, indivíduos, produtos e processos. Começa pela forma de trabalhar sob pressão que alguns designers passam (automobilismo e Formula 1). Depois chega no ‘como o designer precisa encarar os trabalhos e olhares de extrema reprovação que engenheiros, arquitetos e outros solucionadores de problemas’ jogam sobre eles. E por último faz um comparativo interessante de como trabalhar em grupo ou sozinho tem seus prós e contras durante o processo de desenvolvimento de um conceito que será apresentado ao cliente.

Além de destrinchar formas de definir etapas e hierarquias em determinados processos, vai um pouco além e demonstra como o profissional Designer precisa ser, realmente, um prolífero e versátil ‘resolvedor’ de problemas.

Porque o profissional de design é tão importante assim?

“Apenas definir os problemas de design que são ‘mal-definidos’, os designers experientes aparentam ter um comportamento ruim com relação aos outros resolvedores de problemas. Em vez de terem o comportamento convencional de resolver problemas definindo-os bem, os designers são resolvedores-focados e não solucionadores focados nos problemas.” Para quem é de fora da área esse ‘comportamento’ é um pouco difícil entender e vou tentar explicar.

Estar focado no problema não é necessariamente resolver o problema. Muitas vezes é preciso redefinir as perguntas que delimitam o problema para achar a causa dele, por isso o ponto do texto é muito mais no foco individual do profissional ao problema do que o foco no problema.

Essa tradução (adaptada) é um dos últimos parágrafos do livro pois a partir dela tem-se uma ideia, não muito bem definida, de como as coisas costumam ocorrer para o lado do Designer. Comumente, é bem generalista a forma como os problemas são enviados ao Designer e ao receberem suas ‘encomendas’ o que o Designer passa, para resolvê-los, é algo recorrente.

O autor foca muito do seu texto em como os Designers pensam e costumam executar seus trabalhos em busca das soluções que serão melhor aproveitadas ao final do processo. O que significa que o trabalho desse profissional não está na geração da solução do problema e sim na identificação, delimitação e classificação hierárquica de quão relevante será o resultado proposto a partir da definição de qual é o real problema que deve ser resolvido.

Desse ponto, definição de problema, é onde começa todo o processo de Design da solução.


O que é preciso, então, para se ter um designer profissional disponível?

O autor indica, muitas vezes, que o designer pode ter experiência de mercado e na indústria, onde pode ter passado vários anos de sua vida profissional, ou ser um estudante em busca de oportunidade para explorar seus novos conhecimentos. Obviamente não aparenta ser uma obra onde os erros de alguns designers serão abordados mas sim, os erros são abordados durante suas páginas e mostram como errar faz parte do processo de melhoria tanto dos produtos em fase de ideação ou projetação quanto de soluções já alcançadas mas que não viram a luz do dia (por diversos e descontrolados fatores).

Durante o trabalho o autor define alguns pontos importantes para se ater no trabalho dos designers. Eles são:

1. Quantificar o problema – definir a abrangência e a complexidade do mesmo.
2. Geração de Conceitos – gerar ideias básicas a partir das informações preliminares chaves.
3. Refinamento de Conceitos – a partir de outras informações (pensamentos coletivos ou de experiências prévias) gerar alternativas possíveis ou não de execução.
4. Selecionando um conceito – com a maioria dos problemas iniciais resolvidos, escolher as soluções que melhor resolvem o problema inicial (e descarte dos não eficientes) é o ponto.
5. Design (projetação) – aplicação do conceito em testes diversos (durabilidade, objetividade, satisfação em solucionar o problema...).
6. Apresentação do conceito – após a ideação e execução e viabilidade do projeto, apresentar o mesmo aos clientes que pediram por aquela solução.

Com essas etapas definidas e mapeadas o trabalho de análise do processo de pensar a solução dos designers fica um pouco menos anuviada e dessa maneira o processo crítico ganha espaço. Com as devidas críticas o que pode ser: alterado; melhorado; equilibrado; e descartado no processo individual e coletivo dos designers? É o que a obra tenta clarear para os leitores.

 Qual então seria o sentido de se ter escolas de Design?

“As habilidades de design é algo que todos têm, até certo ponto, porque isto é embutido em nossos cérebros como uma função cognitiva natural. Como outras formas de inteligência e habilidades isto pode ser possuído, ou talvez seja manifestado em uma performance, em altos níveis por algumas pessoas e em baixos níveis por outras. E da mesma forma como outras inteligências e habilidades são desenvolvidas, a inteligência em design não é simplesmente um ‘talento’ dado ou um ‘presente’, porém pode ser treinado e desenvolvido.“

A função das escolas de design é justamente preparar os futuros profissionais do Design para encarar seus trabalhos como uma grande caixa de surpresas. Varias coisas podem sair tanto do processo quanto do pensamento, tanto por um indivíduo quanto em grupos.

Enquanto a neurociência tenta explicar como o cérebro funciona, os teóricos / críticos do design tentam mapear e clarear quais e quantas são as etapas do processo criativo desses designers. Para isso, um modelo simples foi desenvolvido.


A partir de pontos chaves e um determinado limite de tempo, a pesquisa indica que, ‘durante o trabalho dos designers (em grupo ou sozinhos), em suas respectivas rotinas e escritórios’, passam pelas etapas de: “Clareando o problema ou Iluminação”; “Pesquisando conceitos ou Pesquisa” e “Arrumação do conceito ou Adaptação” para chegar no resultado final. Além dessas etapas ficou evidente que o trabalho dos designers em agrupar, arrumar e conseguir informações, além de serem etapas de comunicação, também causam problemas pois a forma de pensar e de agir de cada um e onde ou como o designer se encontra dentro das três etapas influencia o quanto as soluções alcançadas podem ser satisfatórias ou aceitáveis.

Agradar nem sempre é o melhor resultado e se apegar emocionalmente as soluções e ideias que os designers desenvolvem pode causar certos conflitos nos trabalhos em que o tempo é crucial para o sucesso do projeto em desenvolvimento.

Conclusão

Um livro que vai além do que aparenta. É uma obra que demonstra como falta mapear e definir metodologias e processos que podem ajudar a organizar melhor a forma de trabalhar que os Designers utilizam (como algo natural e espontâneo).

A documentação das etapas projetuais desses Designers é um dos pontos do livro e o mesmo não se limita ou se restringe a essa falta e, pelo contrário, mostra que ainda temos muito espaço para trabalhar (no caso pesquisar) e que muitos estudos podem ser feitos no futuro para complementar o trabalho iniciado pelo autor.

Livrinho de cabeceira que tem suas referencias e grau de importância para ser consultado e reverificado, de tempos em tempos, para saber o que melhorou e piorou no passar dos anos.

Ass.: Thiago CS
Até o próximo livro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Aprenda Krita para ser um ilustrador digital

O VADE MECUM DAS HQs

Quando cadência e editoração determinam a qualidade