Quando dizem que a pessoa é Maquiavélica, existem muitos sentidos implícitos


Um livro do século XVI, que fala sobre o comportamento dos governantes que já haviam passado pelos estados Europeus (em suas vilas e reinos) e como suas posturas influenciaram os seus comportamentos, o comportamento dos seus súditos, a dos seus ministros desses governos e dos povos aos quais deveriam proteger ou aniquilar.

Em "O Príncipe", Maquiavel discorre sobre diversas situações que a Itália, França, Espanha e Suíça, focando principalmente em importantes cidades italianas, viveram durante os anos anteriores aos de 1500. O livro, foi lançado originalmente em 1513, alguns anos depois do falecimento do autor.
Os conflitos eram diversos e vinham principalmente dos interesses (escusos ou bem definidos) das famílias italianas dominantes. Existiam as famílias que não queriam sair do trono e precisaram realizar ações cruéis e horrendas para se manter no topo entretanto muitos desses governos eram, regularmente, destronadas por fatores não divulgados para além das conversas pequenas.

Como nessa época houveram mudanças profundas tanto nas politicas locais quanto nas supranacionais e com o surgimento dos estados nações (Portugal, Espanha e outros), era comum a existência de Cidades auto declaradas Estados (como muitas cidades italianas se posicionavam politica e economicamente).

Nesse contexto histórico, Maquiavel define todo e qualquer governante como “O Príncipe”, nome propositalmente dado ao livro, e como esses governantes (da época) precisavam se comportar, se posicionar, delegar funções, trapacear e contornar situações adversas que iriam ou poderiam passar (tanto para destrona-los quanto para mantê-los no trono).

Aos cidadãos precisava controlar sem oprimir mas não poderiam se curvar a eles, caso contrário precisaria entrar em situações de conflito. Conflitos esses que deixava aos seus oficiais e senhores de terra, confiáveis a ele, em caso de extrema necessidade. Esses senhores e soltados precisavam desses conflitos e situações de guerra pois, o governante, precisava se manter no trono e ser alguém, com poder e postura, grandes o suficiente, para equilibrar as forças de sua balança.

As liberdades que muitos queriam eram concedidas para poucos e em formas obrigações pedidas/necessárias delegadas aos seus subordinados. Aos seus conselheiros (geralmente os ministros de estado) e subalternos precisaria mantê-los ocupados com as tarefas as quais garantiriam ao Príncipe sua consolidação de governante (caso contrário, até mesmo os subordinados iriam se tornar inimigos).

Em quase todas as passagens, Maquiavel delimita, destrincha e define situações aos quais os governantes passam e como deveriam se comportar caso passem em algum momento de seu mandato. Regularmente referenciando seus comentários com fatos históricos, tanto dos grandes governantes como os grandes fracassos que muitos cometeram, cita situações de extremos e excessos que favoreceram a desgraça alheia.

Esses fracassos muitas vezes poderiam ter sido evitados enquanto outros, como consequências das ações exageradas dos governantes, geraram a devida falta de controle, do governante, com relação ao povo. Governantes que deixaram o poder subir a cabeça também deixaram o ódio do povo subir as suas cabeças foi a principal arma usada contra esse governante problemático que, naquele momento, exerciam seu poder.

Muitos governos foram breves e outros longevos, entretanto, alguns governantes foram cruéis e se tornaram referencias sem se tornar mártires. Independente de qual foi o tipo de governo que o Príncipe no trono exerceu, cautela, astúcia, sabedoria, humildade e benevolência eram fatores que fariam muita diferença.

Não foram poucas as situações descritas onde a solução direta para determinados governos foi o assassinato do governante. Enquanto muitos deles passaram ilesos por problemas, outros acabaram sendo sacrificados como forma de alertar, ao próximo, não fazer as atrocidades e besteiras que o Príncipe deposto fez no seu período.

Saindo do contexto histórico do livro e vindo para o contexto histórico da época da tradução, a versão lida foi uma realizada na década de 1970. Contexto ao qual o Brasil vivia era uma Ditadura Militar de Extrema Direita, onde a censura, controle geral, tortura e prisões arbitrárias eram comuns. Devido a essas influências, tanto da politica extrema e da época em que ocorreu a tradução, muitas situações descritas nessa, estão muito mais contextualizadas com o conteúdo original do que com o contemporâneo porém, em muitas passagens, se percebe como os governos, governantes (os tais Príncipes e seus conselheiros) e governados, são tratados e manipulados.

O Príncipe é uma obra referenciada como um “tratado politico” porém em nada ela tem de política e sim de posturas (psicológicas) de como um dominante (governante, líder de empresa ou líder de um grupo) deve se comportar e delegar tarefas para que outros (geralmente subalternos) controlem e resolvam problemas dessas lideranças. Geralmente problemas as quais as pessoas contrárias aos dominantes tendem a pontuar e acentuar.

A obra é geralmente lembrada pela frase "os fins justificam os meios" mas em nenhum momento a tradução fala essa frase mas tem um capítulo específico que deixa indicado, de forma quase direta, essa informação...

Valeu a leitura? Sim apesar de ser muito revoltante. O Brasil, e muitos outros países, viveram e vivem situações as quais esse livro, do ano de 1500, já falava. A perplexidade é que muito pouco mudou com relação a ambas as épocas. O comodismo que os nossos governos não moveram uma palha para alterar é o ponto mais evidente dentro da obra.

Termino essa análise indicando “Se o Poder fosse Ruim, ele não seria tão disputado...”
Entre uma leitura e outra do mestrado, essa fica como uma de relaxamento.

Ass.: Thiago CS.

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