Oportunidades


Muito antes de começar o mestrado e ser o leitor assíduo que estou me tornando, o olhar crítico que tenho só foi possível quando surgiu o interesse em ler coisas que me agradavam. Antes de precisar ler aquilo que precisava tive o privilégio de ler o que gostava ou me interessava e nessa iniciação no mundo das leituras nada melhor que ler histórias em quadrinhos.

Porém, antes dos quadrinhos vieram as revistas de vídeo games. Eram até 3 diferentes revistas impressas por mês, durante alguns anos. A Super Game Power, a Ação Games e a Nintendo World. Todas elas publicadas por editoras diferentes e tinham entre 60 ou 70 paginas (precisa ter número múltiplo de 4) e dependendo da edição e da revista chegava a 100 páginas. Ou seja, o processo de leitura começa aos poucos e de forma quase involuntária pois de involuntária não tem nada, havia o interesse em jogos e vídeo games e isso era uma boa forma de me manter lendo alguma coisa.

Com o passar dos anos tive um bom primeiro contato com os quadrinhos e pude comprar a maioria dos trabalhos republicados do Calvin e Haroldo (Calvin & Hobbes no original). Depois veio o Garfield (quem não gosta daquele peludo gordo que come lasanha?) e logo em seguida veio o Will Eisner, o precursor dos quadrinhos americanos. A obra do autor é tão vasta que hoje, a maior premiação de quadrinhos do mundo leva seu nome. Nada mal para um coroa que viveu até 2004.

Graças a essas obras e ao momento prolífero que o Brasil vivia as editoras Conrad, JBC e outras também ousaram em trazer quadrinhos japoneses, no seu formato original, para as terras tupiniquins e houve o boom dos Mangás no Brasil lá nos anos 2000. Graças a essas ações de nicho, hoje temos o mercado dos quadrinhos melhor consolidado e estabelecido, abrindo portas e oportunidades para outras obras serem traduzidas e lançadas.

Porque falar de quadrinhos num blog sobre leituras e tendência de mestrado em design?

Porque quadrinhos e design são duas áreas que trabalham muito próximas, principalmente ao editorial, onde entram os livros, jornais e revistas diversas. Os álbuns de fotos, livros de arte, catálogos, coletâneas, poesia e prosa, romances em geral, também fazem parte desse enorme universo de publicação, enormes trabalhos de muitas equipes diferentes e um público consumidor sedento por conteúdo novo mesmo que eles não tenham tempo para ler tudo.

Com o advento dos tablets o acesso e o barateamento dos livros no formato digital também aumentou a possibilidade de leitura também. Infelizmente, o que as fabricantes esperavam (a troca de dispositivo a cada um ano como fazem com os celulares) se tornou o calcanhar de Aquiles delas pois os consumidores não pensam assim nos leitores digitais de livros.

Resultado parcial dessa confusão toda: as apostas foram feitas, muita gente ganhou com isso, muitos perderam, o mercado evoluiu, os consumidores redefiniram as regras e hoje o que se espera é o fim dos tablets com foco nos livros mudando o foco para aplicativos de livros com lojas exclusivas. Lembra do iTunes? Então agora é para os livros e nos dois principais sistemas, Android e iOS. Além de que, as livrarias e sebos não morreram como haviam imaginado.

O que tem de relevante nos quadrinhos, no mercado e no mestrado?

Os principais gargalos que sofri para arrumar o material de estudos foram: 1) preço de alguns livros; 2) disponibilidade das publicações impressas das respectivas bibliografias de cada processo que passei; e 3) os muitos PDFs encontrados das publicações.

Vou começar com o item não mencionado: direitos autorais. Todos os livros são publicados para gerar lucro a empresa que o produziu. Isso é do capitalismo e tanto a editora quanto os autores querem ganhar sua parte devido ao tempo, esforço e gastos exorbitantes que todos tiveram para produzir aquele material, ou seja, o direito autoral precisa ser respeitado. Entretanto...

R1) Alguns dos livros das bibliografias foram achados no Brasil. Isso é ótimo. Em nosso Português? Sim também mas os preços... Pela Estante Virtual (comprada pela livraria Cultura no final de 2017) achei algumas joias raras mas os preços não eram nada compatíveis com a minha realidade. Nas tradicionais lojas de livros, nem o cheiro deles os acervos tinham. De volta a Estante Virtual, mesmo com preços exorbitantes ainda sim achava mais coisas. Sem esquecer do fato de que alguns livros só existem em inglês e não estão disponíveis por aqui.

R1 ainda) Devido a variação dos preços, a disponibilidade era algo volátil. Tinham cidades que tinham determinados livros em mais de um local o vendendo porém, parte das buscas indicaram que alguns deles só haviam em um ou outro local. Pior que só ter em poucos locais eram os valores cobrados, tanto pelo livro (geralmente usado e alguns bem caros) quanto pelo frete (geralmente padronizado pelo sistema do site). A Estante Virtual padroniza o frete e isso ajuda a definir o melhor lugar para compra do que o cliente está buscando.

OBS.: Para quem acompanha esse blog, nessa saga de mestrado, sabe que já mencionei como procurar livros em sebos e livrarias em um post antigo. Fique atento nessas dicas, elas ajudam. Garimpar livros em livrarias ou sebos é trabalho de formiguinha. Demanda tempo e horas bunda no chão e pés nas escadas procurando algo bom e acessível (vá protegido das alergias respiratórias, a maioria dos locais visitados estavam com muita poeira e livros tem muita).

R2) A disponibilidade dessas publicações era até boa, se relacionarmos as versões impressas  delas. Porém, nem todas elas haviam disponíveis (em nosso bom e velho português). Garimpava a internet e nada, poucas respostas. Procurei em sites estrangeiros e poucas opções apareceram. Procurar versão usada em sites específicos e o preço voltava a ser um problema (sem falar no frete internacional com chances de nunca chegar ao destino). Estava virando um problema arrumar alguns deles. Foi quando usei o artifício do torrent.

OBS2: para quem falou de Direitos Autorais logo no início (eu falei e valorizo, quero meu dinheiro no fim do mês de forma justa e honesta) recorrer aos torrents é uma alternativa? Bom... Não é a melhor das escolhas mas quando os meios tradicionais ou suas alternativas não satisfazem as necessidades, é preciso arrumar outra solução e nesse ponto entra o argumento dos tablets dito parágrafos atrás.

R3) É inevitável. Para quem conhece o processo de editoração de material gráfico para impressão sabe que no final vão haver os PDFs dessas publicações. Não adianta. É o melhor arquivo já criado para publicar livros, revistas e jornais e querendo ou não, se houver como arrumar esse PDF original de editora, é sim uma mão na roda. Nem sempre serão fáceis de serem arrumados mas algumas vezes caem como uma luva.

Foi quando comecei a achar muitos livros em PDF. De variados autores e editoras. Alguns muito mal escaneados, outros com um trabalho impecável. Sem dúvida alguma essa foi a melhor parte mas não tenho tablete para lê-los e esse cara, não importa a versão ou lançamento, fez uma falta enorme.
Entretanto, tenho meu PC para fazer buscas então vou lendo no PDF mesmo e vou me virando e organizando para conseguir ler essas coisas.

E aí? O que houve afinal de contas?

Ao fina desse ano de 2017 foram mais de 250 livros achados (isso é pouco porém já é um bom numero para a infinidade de coisas que preciso ler e aprender para as próximas provas de mestrado). Achei muitos desses livros na base das infindáveis buscas e consultas aos buscadores da internet (não foi fácil mas foi divertido, achei muitas coisas divertidas pelo caminho).

Achei um site russo que agrega tantos torrents de livros que fiquei maluco. Esse foi um verdadeiro achado. Achar um arquivo com 80 livros de produção de cinema, em inglês, num site russo? Nossa. Ganhei o dia. Achei sites específicos com parte desses livros para baixar de graça, bastam os cadastros e tá feito. Achei uma série de serviços que tem os livros em PDF disponíveis porém pedem cadastro pago e cartão de crédito para baixar o arquivo (não tenho e não faço questão de ter cartão de crédito ainda).

E pasmem um carinha postou num grupo de rede social, a pasta de livros dele sobre design que tinha parte do material que precisava para continuar os estudos (e me livrou de ter que comprar alguns livros que iriam me fazer falta de alguma forma)... Agradeço muito a essa iniciativa. Muito bem vinda e compartilhada no final dessa publicação.

Ou seja, a sorte bateu a minha porta e eu aproveitei pois não dava para ficar sem esse conteúdo.

Conclusão

Qualquer Mestrado e/ou Doutorado vão exigir muita leitura e acima de tudo muita escrita. Horas bunda na cadeira vão sobrar no final deles. Escrever nesse blog ajudou a ganhar ritmo e ao menos 1 vez por semana a publicar algo importante (se possível faça disso sua rotina e ao menos 1 vezes na semana).

A prática da escrita vai se tornar um hábito tão bom que você sentirá a falta de o fazer então vai lá e faça. O conteúdo é irrelevante? Publique. Para a maioria é chato ou inútil? Não importa, publique assim mesmo. O importante é manter as publicações, se não, perde o viés, o gás e a rotina desse trabalho.

Essa é a frase que deixo como um dogma que ninguém vai poder fugir “Uma tese de mestrado só sairá quando os capítulos estiverem escritos”. Essa frase é minha mas tem parte das palavras de um professor que tive aula. O cara é sinistro. Não atoa que é Doutor em Filosofia.

Deixo o link do site russo aqui e o link do torrent dos livros de cinema aqui  (só peça para o navegador traduzir a página pois o alfabeto cirílico não é fácil de ser lido quando se desconhece a língua deles e o tradutor está fazendo um bom trabalho, ele ajuda muito).

Deixo o link onde tudo começou, na biblioteca digital de quadrinhos clássicos, que me motivou a escrever esse texto aqui pois o trabalho deles é deixar disponível as obras que já caíram em domínio público e não podem ser perdidas.

E o link da tal pasta de livros de design foi perdido pois quem o publicou mudou (infelizmente não terei como deixa-lo aqui). Se precisar dos livros me manda uma resposta no final dessa publicação que vejo como enviar os arquivos.

Ass.: Thiago CS
Até a próxima publicação

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