10.000 HORAS
Depois de alguns dias sem escrever nada no blog do mestrado vou tentar escrever pouco.
Estava mandando CV para diversas empresas de design onde moro. Além do aparente privilégio de morar numa cidade grande tenho um outro privilégio, o de morar num bairro de fácil acesso e com transporte público para muitos locais diferentes da cidade. Sorte ou não isso se tornou minha sina e um problemão.
O porque de escrever esse texto são poucos fatores. 1° é o de manter o blog ativo. 2° é o de me manter escrevendo (mestrado exige as duas coisas, leitura e escrita constante). 3° Saber como está a aceitação do CV. 4° Sair da zona de conforto. Desse último fator vem a principal informação: para ser bom em algo (lido em um blog que o dono/autor escreve todo santo dia) “é preciso ter em torno de 10.000 horas para o conhecimento ser estabilizado”.
Mas tipo, 10k horas? Sério mesmo? Porque tanto tempo? Bom é o que o texto vai demonstrar.
De que é que adianta morar numa cidade grande, num bairro acessível, ter acesso rápido a transporte e ter um CV robusto se o problema estava no CV não ser visto pelas empresas? E, outra, depois de muito pesquisar descobri a tendência atual dos CVs. Literalmente sem nenhuma coisa interessante pra ler. Muito industrial. Muito sem identidade. Um template pré definido que estão usando atrás do muitos CVs e ninguém faz esforço para mudar porque “é da moda” e isso, de certa forma, me incomoda e foi o mesmo incomodo que me levou a buscar o mestrado.
Para sair da zona de conforto a 1ª mudança drástica foi direto no CV. Saí do tradicional que usava tinha 2 anos e trabalhei uma nova roupagem. Mostrei para amigos e conhecidos e as surpresas ocorreram. Além das respostas mistas entre achar “bom e diferente” e “não gostei pois está muito gritante” o resultado foi satisfatório. Na prática, o CV diferente deu um susto muito maior pelo formato usado do que pelo conteúdo carregado que ele tinha (e não vou mostrar o CV aqui pois não faz sentido, se quiser mande e-mail).
A 2ª mudança foi a forma de procurar vagas. Agora busco direto pelo Google Maps, sobre a cidade onde moro, as informações das empresas que podem me servir. Além de ir direto ao site e ficar o contato delas, posso me informar sobre o que as empresas fazem e como é o nível de organização delas e isso é só nessa pesquisa básica. Os Web Sites precisam demonstrar o nível informacional das empresas desde o primeiro contato caso contrário será apenas uma ferramenta de comunicação mal utilizada (e na prática é o que a maioria acaba por fazer). Um outro ponto importante é que estou fazendo contato direto pelo próprio site dessas empresas e não por outros meios (lembra dos 10K?). Esse contato direto retira intermediários que favorecem o Q.I. (o famoso Quem Indica) e além de favorecer os 10k horas justifica algo maior ainda, esforço meu.
Para entender como chegar nesse valor é simples: 8 horas por dia, vezes 5 dias por semana, vezes 4 semanas, vezes 12 meses, e você achará um número. Ou faça diferente, 52 semanas com 5 dias de trabalho com 8 horas diárias terá outro número, porém no final chegará a um valor anual. Isso é importante. O valor de horas gastas para se chegar nos tais 10k. Quanto tempo de trabalho você, interessado, já tem gasto nas suas atividades diárias? Ter 10k horas se coçando é bem diferente de ter 10kHs num trabalho voluntário, num programa de computador novo, numa leitura de um tema que interessa ou até mesmo jogando vídeo game, praticando esporte ou qualquer outra atividade que vá levar a algum lugar. Lembre-se 10kHs é o número, e quanto mais rápido se chega nele melhor será. Só não pense em chegar em menos de 3 ou 4 anos que isso é uma tortura e não um esforço.
Vou usar um exemplo básico. Uso ferramentas 2D vetoriais de arte desde 2004. Esse foi o ano inicial da faculdade. Por sorte, logo no início do ano tive um bom contato com essa ferramenta e dela pude fazer muitos trabalhos. Aprendi num cursinho o básico depois fui melhorando com o passar dos anos e dos trabalhos. No final, hoje tenho 30k horas de uso do programa em 13 anos desde o contato inicial e ainda consigo usar outras 3 ferramentas concorrentes só por seguirem os mesmos princípios de trabalho. Resultado? As 30 mil horas valeram um tempo considerável pois acredito saber de algo que me traz um diferencial (mesmo irrisório ou invisível).
De volta as vagas, a parte ruim dessa pesquisa e contato todo é perder um tempo precioso para achar o contato certo dessas empresas o que me faz ter um acumulado de horas bunda na cadeira enorme. Par quem é sedentário 10kHs na cadeira é fácil o difícil é sair dela. O famoso CDF do passado na prática mudou só de nome popular e não de postura. A parte boa é aprender como escrever o que preciso sem ser um texto gigantesco ou muito detalhado.
3ª mudança: É preciso ser sucinto tanto na pergunta que precisa ser feita quanto no que informar às empresas as quais receberão o CV. Por deixar as informações técnicas mais precisas no próprio CV, escrever um e-mail enorme além de causar um impacto deprimente no leitor também assusta a pessoa quem irá lê-lo pois num “fale conosco” ninguém espera receber um CV descrevendo suas experiências anteriores. Visão de qual postura ter é fundamental.
Com esse caminho percorrido o contato com as empresas se torna e, inevitavelmente, um ponto padrão repetitivo pois o que vale para uma determinada empresa também vale para outras e foi disso que esse trabalho de formiguinha começou. A rotina de usar 1 dia da semana para achar e enviar os e-mails foi uma boa ação também pois...
4ª mudança: as empresas, a maioria delas, não tem pessoal, nem funcionário, nem a paciência do chefe / dono (e muito menos tempo) para ler 1k de e-mails profissionais que são recebidos todos os dias com CVs enviados por alguém interessado em trabalhar lá quando o quadro de funcionários já está preenchido. Além de evitar o estresse do outro lado é preciso entender que nem 10% dessas empresas irão responder. O que fazer?
Sério, nem 10% das empresas que enviei o CV semanalmente (e sem nenhuma repetição de contato ou ênfase em determinada empresa) me respondeu. Eram cerca de 15 empresas por dia. Quando recebia algum retorno delas (independente de qual ou como tenha sido o contato) nem 3 me responderam. É muito ruim essa falta de resposta mas por outro lado também é bom por saber que ou estão ocupados (para não responderem o contato) ou estão falindo (para também não responderem o contato).
Piadas a parte, é o que acontece e ponto. Não há como mudar. Ou se muda a forma de contato (de e-mail até whatsaap pois já enviei CV assim) como nas redes sociais, a descrição das vagas precisam melhorar e sair do padrão copy/paste que tem ocorrido. As vagas existem e elas estão ficando específicas demais e o candidato a funcionário precisa entender que ele pode não ser quem a empresa precisa. A pior verdade que essa realidade lança também é o fato de que quanto maior a quantidade de pessoas procurando vaga nas empresas menor será o salário do funcionário pois existirá alternativa para substituir alguém que não faz nada além do pedido.
Outro detalhe é a própria postura das empresas e do empresariado. Quanto mais trabalhos os funcionários fazem, menor será o valor pago a ele pois o salário além de não mudar como deveria ou ter mais vagas preenchidas como pedido favorece a injusta mais valia do sistema capitalista. Injusto sim porém é o que há. Fazer o que? Problema detectado!
Independente da resposta, quando houver resposta esteja preparado para tudo. Com o CV em mãos (no caso o PDF) esteja disposto a receber um não. Sim o valor do Não é muito alto. As empresas abertas irão responder o seu contato mais cedo ou mais tarde (eu recebi a resposta de um contato feito numa terça feira só no domingo e foi depois do almoço, obviamente respondi na segunda pois priorizei o horário comercial já bem conhecido por todos).
As empresas que não querem ou não precisam do seu CV irão te ignorar na hora. Sim é muito mais produtivo ignorar o e-mail mais do mesmo do que responder um por um. Além de estressar e cansar o funcionário que fará esse serviço criará um custo ao qual ninguém vai querer pagar. Só nisso já se percebe quem tem rotatividade e quem está na zona de conforto.
5ª mudança e a mais importante: tenha persistência. As 10kHs só irão ocorrer quando forem gastas 10kHs de tempo procurando as empresas e os contatos certos dentro delas. As empresas precisam te ver. Reconhecer que você é uma pessoa de determinada área de atuação e acima de tudo, disposta a sair da zona de conforto do PC e internet e ir na marra até eles. Eu mesmo enviei o modelo preliminar do CV atual para uma vaga no Paraná. Sério, só fiz o contato com essa empresa como teste de visibilidade e menos de 12 horas depois me responderam perguntando se queria me candidatar a vaga.
Por morar num estado relativamente perto do Paraná até iria mas estamos no final do ano e independente da resposta, estamos na alta temporada de passeios, férias e viagens. O deslocamento por qualquer meio de transporte, seja ele qual for, será bem mais caro que o padrão. Demorei 1 semana para responder o contato e obviamente já tinha tomado a minha decisão. Precisava desse tempo para pensar e definir melhor algumas perguntas que não foram bem respondidas na divulgação da vaga. Outra informação é: não tive retorno além do 1° contato. E essa estatística só tende a piorar pois aumenta o numero das empresas que não costumam responder o que lhe é perguntada. Espero que eles respondam sempre, não só pra minhas dúvidas pois não fará mais tanta diferença mas para todos que precisarem delas.
E a busca das vagas (de trabalho) e os estudos (do mestrado) continuam...
Até a próxima postagem.
Thiago CS
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