Livro Gestão do Design – Análise de um trabalho que parece ser bom...


Gestão é um assunto da alta administração das empresas. Geralmente associado a negócios, pessoas engravatadas e vestidas com aqueles ternos completos que todo advogado gosta de usar regularmente (na verdade ele é mais obrigado do que gosta). Também se associa a gestão com situações de: tabelas; gráficos; relatórios financeiros; organogramas; cronogramas; custos entre tantas outras situações específicas que economistas, administradores e os profissionais da (famigerada) contabilidade costumam trabalhar. Se pensou em bancos, financiamento, ou na bolsa de valores entre outros também não está errado.

O que isso representa?

Os cursos de Design, muitos deles no Brasil, geralmente não dedicam a devida atenção para situações de orçamento e definição de custos e lucros que toda empresa precisa ter para sobreviver no concorrido mercado. Quando falamos de mercado trabalho o problema piora pois o linguajar dos Designers, que muitas vezes é focado em artes e técnicas específicas de  qualquer vertente ao qual Designer venha a trabalhar, deveria ser acessível a alta gerência das empresas porém tem pouca importância e porque o objetivo dos profissionais do design é de trabalhar e produzir e não a de administrar uma empresa.

Junte a isso um baita desconforto aos profissionais do design (não são todos mas uma boa parcela passa por isso) os mesmos não sabem como se comportar perante a alta gerencia, pois não são treinados para tal, acabam por piorar o murmurinho involuntário de “não sou valorizado na empresa onde estou”, “não tenho respeito do meu chefe”, “não sabem o valor que o design” e uma infinidade de desculpas e mimimis que não levam a local nenhum. Esse chororô exagerado não tem cura e vai acontecer e por natureza os Designer serem pessoas inquietas e muitas vezes egocêntricas e orgulhosas (sem saber infelizmente) acabam por piorar o inevitável bafafá.

Os cursos de design se focam tanto nos processos produtivos de Design e nos estudos de casos da arte clássica e nos movimentos de vanguarda que acabam por negligenciar a principal função do designer que é gerar LUCRO para qualquer empresa sobreviver há de eterno.

No livro Gestão do Design, mesmo não tendo sido escrito por um profissional da área, ao menos foi escrito. Tem foco em dois grandes grupos que devem consumi-lo sem medo de ser feliz apesar de ficarem bem chateados por conta de seu conteúdo e ser uma leitura um tanto chata e cansativa. Poderia ter ao menos uma narrativa por trás e além de não ser o foco perderia seu principal foco, a gestão.

Grupo 1: Os Designers. A grande vontade dos designers em formação ou dos já formados é de ser reconhecido como um gênio da área e ganhar prêmios pelo mundo por seu trabalho e sua contribuição a sociedade. Infelizmente os Designers não sabem o quanto podem contribuir para o mundo pois estão sempre ocupando vagas de execução e não da gestão. Isso é algo que o livro deixa claro na maioria das páginas.

Grupo 2: Os Gestores. Gestores esses que podem vir de qualquer área de trabalho, desde que saibam falar a língua dos negócios e fazer os orçamentos. Geralmente são pessoas de Administração, Publicidade, Gestão, Economia ou algum cargo próximo às vagas de protagonismo nas grandes empresas. O resultado disso é um conflito inevitável.

Motivos para Ler OU Não

Vou começar pelos motivos ruins pois já poderá parar de ler esse texto aqui. Se quiser continuar fique a vontade e curta pois não foi fácil chegar ao final desta obra.

Fatores para não ler o livro...
Novatos da área do design passem longe. Esse livro não é para os iniciantes dos cursos. Tanto é que ele só aparece na bibliografia de mestrado e doutorado da mesma instituição que também oferece a graduação de design. Além de abranger muitas informações que passarão de forma batida pelo leitor os calouros ainda não conseguem definir “no que o designer trabalha?”. O texto tem muito conteúdo porém a forma como foi escrito é muito desconfortável para sua leitura. Não existe uma síntese boa dos assuntos (mesmo que seja bem sintético) e tem muitos fragmentos para compor informações importantes que poderiam ser melhor escritas. Pouca profundidade do assunto porque logo após uns dois ou três parágrafos já se muda de sub assunto dentro do assunto principal. Conteúdo de gerencia de pessoas desconhecidas da maioria dos leitores ficam dispostas pelas paginas em parágrafos curtos ou grandes blocos que costumam a atrapalhar mais o foco do conteúdo do que complementando. Felizmente existem algumas empresas que são figurinhas carimbadas como Apple ou IDEO. É um livro, acima de tudo, maçante e muito cansativo.

Fatores para ler o livro...
Para o jovem estudante ou pessoa da gerencia que gostaria de administrar um estúdio da área criativa esse não é só um livro de gestão mas de comportamentos e ações para manter um estúdio ou departamento funcionando. Mostra diversos casos interessantes de pessoas e empresas que conseguiram superar momentos de crises, mudanças radicais de trabalho, variação brusca de equipes, alteração da gestão e dos gestores, novos paradigmas processuais e comportamentais, novos processos e tecnologias, entre tantas outras situações corriqueiras das companhias e das empresas criativas.

Um prato cheio de informação para os desconhecidos tanto com o design e seu trabalho e forma de trabalhar como aos designers que desconhecem os termos específicos da nomenclatura característica da gestão.

O grande objetivo do design, em muitos dos casos apresentados, é melhorar a estética dos produtos, aumentar a fatia de mercado das empresas, melhorar a comunicação com os clientes, fazer ser lembrado... Quem contrata o profissional do design se depara com uma situação específica em contratar um conhecedor de técnicas e processos porém cheio de volatilidade. Capaz de sintetizar a principal informação em apenas um desenho mas que muitas vezes não consegue mensurar e quantificar os gastos de sua mão de obra.

O principal propósito do livro é balizar o conhecimento de ambos os lados (e entre si) para criar uma situação intermediária entre a Alta Gestão das empresas, que desconhecem os termos e processos do design, e aos Designers para conseguir entender o linguajar dos negócios. Os cursos de design, infelizmente, costumam negligenciar as informações pertinentes da área de gestão e dos negócios (mesmo que existam disciplinas específicas da área de marketing) e acabam por criar uma situação pouco favorável ao crescimento do profissional da área devido a sua versatilidade. Em contra partida, todas as outras carreiras, mais cedo ou mais tarde, irão precisar dos trabalhos e do conhecimento que o Designer carrega sozinho pois tem um leve conhecimento da área e sabem que alguém já precisou de um designer para resolver seus problemas.

A falta das cadeiras, disciplinas ou matérias específicas para conhecimento básico de gestão nas grades de graduação cria um empecilho onde o profissional acabar por ser excluído e massacrado pelos profissionais de outras áreas. Não só de marketing vive o Design. Design faz parte de um chapéu muito maior chamado Comunicação, projeto e processo construtivo.

O livro também esbarra em alguns conceitos e terminologias específicas da área do Design que podem soar estranhos num primeiro momento mas depois de conhecidos e entendidos para que servem as conversas ocorrerão de forma mais natural e prolífera.

Uma das poucas vantagens que vi no livro inteiro é a forma de distribuir as citações. É tão carregado de citações que parece que a autora usou menos de 1/3 de cérebro para escrever o trabalho e mais de 2/3 desse mesmo cérebro para organizar tudo. Muito parecido com um trabalho acadêmico de alta qualidade porém que recebeu tratamento para virar livro e não uma tese. O que não tira o trabalho notável que ele tem mas infelizmente também mostra seus problemas.

Conclusão

O livro cumpre o seu papel de criar uma zona intermediária de informações. Mesmo sendo longo, cansativo, fragmentado, e não ter um pé e cabeça definidos, define os limites de atuação e posicionamento das empresas, departamentos, estúdios e profissionais.

Leia-o como uma obrigação caso queira ser o dono/gerente de uma empresa. Caso não queira gerir uma faça-o com a visão focada na futura oportunidade de se tornar mais critico a si mesmo, com outros profissionais da área e acima de tudo na busca da valorização do seu trabalho e da real função socioeconômica da sua profissão.

Brigitte Borja de Mozota é uma Economista francesa que ousou em escrever sobre design e a gestão de negócios, de escritórios, estúdios e departamentos de Design nas empresas. Algo que faz falta e de certa forma é bom que alguém tenha feito pois o livro, mesmo sendo chato tem seu valor. Seu linkedin contém outras informações mais precisas sobre seus trabalhos.

Ass.: Thiago CS

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