A Sensação de Medo
No Brasil é muito comum as empresas se apegarem a clientes e trabalhos que nunca terminam ou são renovados com certa regularidade. Devido a sua origem colonial e, muitas vezes, não entender o valor das experiências e da manutenção de certos detalhes, acabam por impor coisas erradas ou repetir situações específicas que não ajudam nem a si mesmas nem aos funcionários e muito menos o mercado.
No período em que estive tanto na publicidade e na gráfica ocorreram situações estranhas e bem distintas que não deixavam de ser desagradáveis. No período das aulas também tive problemas mas essa e outra história para outra oportunidade...
As situações comuns negativas eram:
Repetição de proposta já realizadas em contatos anteriores
A falta na troca e renovação dos trabalhos
Manutenção dos trabalhos já executados
Exigências e restrições que acarretavam em diversos gargalos que não eram pra ser resolvidos
Redundância e intransigência com relação aos custos (o mais barato é sempre o melhor)
A falsa sensação de retorno com repetição dos trabalhos já reutilizados e ultrapassados
Descredito com o Design para as empresas que não entendiam o que é Design
Descaso com propostas novas ou com a renovação das mesmas
Literalmente tive muito azar nessa época de agência e com a diretoria que tinha só ajudava a piorar. Muitas gambiarras eram feitas e uma falsa sensação de bom design aplicado numa prática de mercado que não era nem técnico e muito exótico acarretava em um trabalho tosco e excêntrico como eram as caras e egos desses clientes. Quem tinha razão? O cliente sempre.
Coitado do Designer, eu no caso, que não podia fazer nada. Não atoa que fiquei depressivo e sem expectativa nenhuma no trabalho. Mudanças eram pedidas mas a cultura interna e os clientes não estavam nem aí para elas. Como fugir disso? A vantagem foi que durante esses 18 meses aprendi rotinas diferentes que me ensinaram a olhar com mais atenção detalhes dentro e fora, da empresa e dos serviços e necessidades dos clientes. XP extra acumulada. Estava na hora de partir para a próxima etapa.
Com a constância na tentativa de desenvolver esses trabalhos, que muitos eram mais toscos do que com algum fator qualidade (mas funcionava para os clientes), na agência pude perceber o quanto eles não gostavam de alterações. Eram trabalhos focados e fechadas nas suas próprias rotinas e não dependiam tanto da comunicação direta para os divulgar. Porém, querendo ou não, comunicação faz parte da vida e dos processos de qualquer empresa.
Durante a agencia, também pude observar um detalhe curioso. Além de os clientes observarem os concorrentes infelizmente também NÃO o fazia com a devida atenção e de forma pouco eficiente. O que o concorrente fez de certo? “Quero copiar!” “O que você fez de errado cliente?”, “Eu não faço nada de errado, meu negócio está garantido!” e aí que entra o bom senso... “Se o negócio já está garantido, porque busca uma agência de publicidade? Para não mudar? Qual o sentido de procurar alguém que trabalhe com comunicação?”
Na prática isso é nadar em dinheiro. Gastar sem pensar no retorno ou na expansão da empresa e do negócio. O que vai virar um custo maior de manutenção posteriormente e não será percebido o devido retorno positivo que se espera com esse tipo de investimento. Só não venha reclamar que está caro. Todos estamos pagando impostos, logo...
Anos mais tarde, de volta ao mercado e depois de uma sabatina fora dele em cursos e outros pequenos trabalhos, fui parar em uma gráfica. Durante esse período de gráfica pude aplicar boa parte do conhecimento adquirido nos últimos semestres da faculdade. Repetir algumas poucas matérias acarretou num custo elevado durante esses períodos porém tive a oportunidade de aprender o que funciona e como deve se fazer alguns trabalhos muito mais técnicos do que artístico.
Aprender sobre: fechamento de arquivo; imposição de cores; ordem de impressão; CPT; chapa; marcas de dobra e de corte; frente e verso; foi muito importante porém só na gráfica pude ver essas informações na prática diariamente. Era preciso conversar com o impressor sobre muitos detalhes e quase que o tempo todo. Graças a um bom impressor (mais de 40 anos de gráfica) entendi como o processo que realizava influenciava tudo o que ele fazia.
Mostrar como o arquivo estava sendo trabalhado, respeitar todas as medidas das chapas e da maquina de impressão exigia, era saber o mínimo para conseguir realizar o trabalho. O problema? Nossa, vários deles.
E de novo, aprendi na prática o que é ter resiliência. Essa característica humana de suportar a pressão do trabalho ou do serviço, ser preciso quando não existem garantias e acima de tudo, saiu do computador para o papel não havia volta, era uma geração de problemas enorme e quase infinito. Um errinho era uma perda de R$ 500,00 ou mais. E como já não bastava essa pressão toda, a diretoria também parecia colaborar com esses problemas.
Delargar não é delegar. Quem delarga algo passa problemas para os outros. Quem delega algo, delega funções, objetivos e metas. As duas diretorias eram compostas por pessoas que delargavam tarefas e não funções. Delargavam problemas e não trabalhos. Delargavam sujeira de outros que não queriam saber como fazer, queriam limpo e perfeito.
Junte a isso, a falta de impressora básica para realizar testes e correções manuais nos protótipos, distancias exageradas entre um local e outro, condução ruim, falta de internet no escritório, atrasos regulares em todos os salários dos funcionários, e uma infinidade de outras situações denegridoras presentes naquela realidade... Na boa? Valeu e não valeu a experiência.
Nessa prática quase nefasta, aprendi a trabalhar sem internet e a fazer alguns “pequenos milagres” com o que tinha disponível. Tinham funcionários que não conseguiam se quer ligar o computador se não houvesse internet. Lástima isso. Pesquisar internamente, nos materiais já realizados para achar soluções... Usar recursos físicos para definir detalhes nos trabalhos. Isso tudo gerou uma visão de trabalho que eu trago com prazer e tento repassar aos alunos quando estou em sala de aula.
Aprendi a usar o que havia de melhor naquele lugar, meu cérebro. Aprendi a extrair dele tudo que havia de melhor, dentro e fora, de todas as limitações e restrições que a gráfica e sua diretoria impunha. Não atoa que ao começar a dar aula, alguns poucos meses depois de sair da gráfica, já havia desenvolvido uma forma particular e natural de como ensinar os clientes o que estava fazendo. Transpor essa barreira Cliente/Aluno foi algo até tranquilo. Já havia chegado ao limite da simplicidade aplicada.
Agora, ao me aproximar do mestrado o mesmo também exige simplicidade na hora de escrever mas não pode ser uma escrita informal ou muito casual. A dificuldade é achar as referências teóricas do que vivenciei na prática com o que quero escrever. Essa é a parte difícil de equilibrar...
Ass.: Thiago CS
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